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domingo, 18 de maio de 2025

Vøringsfossen, na Noruega, a minha mais grandiosa cascata + cerejas Morello

Não fomos às Américas nem a África, nem lamento por aí além - só um bocadinho, ao Canadá gostava de ter ido. Vimos as tumultuosas Rheinfall no Reno suíço, vimos a Pistyl Rhaeadr no País de Gales, mas as nossas mais espectaculares cascatas foram na Noruega, e de todas há três inesquecíveis: a Steinsdalfossen, um jorro brutal que vemos cá de baixo, a cascata dupla Låtefossen, e a brutal Vøringsfossen. Esta última, a ter de escolher, é a minha campeã.

Estivemos na Noruega em 1998, sediados em Bergen. Daí até à cascata, pela estrada Fv 7 ao lado do Herdangerfjord e do Lago Eidfjord, são 170 Km, que levaram mais de 4 h com as paragens. Mas chegámos.

As águas do rio Bjoreio caem 182 metros, sendo 145 em queda livre. O rio prossegue depois num canyon entre altas paredes rochosas.

 
Na altura havia uma plataforma de observação, mas nada do que existe agora: um sistema de  passadiços metálicos que atravessam o Canyon.
 
 
O arco-íris forma-se sempre que há sol.  

Era já tarde e a fome apertava. No regresso havia na berma da estrada uma venda de cerejas, grandes e escuras, carnudas. Soube depois que se chamam "Morello". 
 
 
13 kr. a caixinha, mais de 200$00.
 

Duas experiências marcantes. Não digam que agora é tudo igual em toda a parte.

Voltando ao início do dia: no caminho desde Bergen ladeando o Hardangerfjord, tínhamos passado pela Steindalfossen, ou Cascata de Steindal.
 
 
 
Já era a mais turística das três cascatas..


Mais adiante, ainda na Fylskevei 7, surge Eidfjord, entre paisagens de postal, sobretudo no Lago Eidfjord e em Simadal - onde se disfrutam vistas dos fiordes assombrosas:
 

 
Actualmente estes sítios já não são visitáveis em paz e sossego: multiplicaram-se lojas e lojinhas turísticas e as camionetas chegam e partem constantemente. Tivemos a sorte de estar com a paisagem por nossa conta.

 
No dia seguinte iríamos para sul de Bergen, no Sørfjorden, onde nos surpreenderam as gémeas Låtefossen.

 
O ruído ensurdecedor aumenta o impacto das violentas torrentes. Já era um pouco tarde e a luz enfraquecia, embora em Bergen ficasse dia até perto das 23h.


Nunca fui ao Norte Ártico, com muita pena; o mais próximo foi a Noruega, os seus glaciares e as Stavkirker, as igrejas de madeira nórdicas dos primeiros anos de cristianização. E estas cascatas, quase directas das águas dos glaciares.

 

 

domingo, 1 de setembro de 2024

Rio Rioni, ou Phasis, o rio que os Argonautas subiram à procura de Medeia

 - fim de estação: um rio na Geórgia -

O Rioni, a pouca distância da nascente.

O rio Rioni corre na Geórgia, desaguando em estuário no Mar Negro, em Poti. Nasce no Cáucaso, a noroeste de Ghebi (região de Racha) onde vários glaciares cobrem as montanhas, e desce em sucessivas curvas passando pela cidade de Kutaisi, e depois para oeste ao longo da planínicie até à foz - são 327 km, é o maior rio do país.

Bem conhecido na antiga Grécia como rio Phasis, era considerado o limite oriental da Europa - a fronteira da Terra habitada (oecumene). A primeira referência é de Hesíodo, cerca de 700 AC, tendo a cidade grega sido fundada no fim desse século; Ésquilo , no século V, escreve "... aqui fica o Phasis, a poderosa fronteira comum entre a terra da Europa e da Ásia" . O Phasis era entendido como uma divindade, um deus-rio. 

Havia colónias gregas na costa do Euxino, e uma em particular (Phasis) onde agora fica Poti. A lenda de Jasão e os Argonautas situa ali o palácio do rei da Cólquida e sua filha Medeia, que detinham o mítico Tosão ou Velo de Ouro; para ser resgatado pelos navegadores gregos da Argo, comandados por Jasão, foi necessário lançar feitiços sobre Medeia - ela prória feiticeira -  fugindo ambos com o tesouro de volta para a Grécia.

Argo, de Constantine Volanakis. Foi um barco inovador, com 50 remadores, que eram os 50 guerreiros de Jasão.

O estuário do Rioni, área natural protegida. Por aqui subiu o Argo.

Muitas escavações arqueológicas, algumas submarinas, tiveram lugar à procura de restos de Phasis; nada foi ainda encontrado, talvez porque es terras pantanosas aqui têm sido instáveis, o mar avança, há lagos desparecidos... A única prova são as variadas fontes escritas.

Voltemos ao Rioni. Vamos da foz para a nascente. Nesse percurso, a principal cidade é Kutaisi.

Kutaisi é a 3ª maior cidade do país, depois de Batumi. Fica na planície central da Geórgia, a sul do Cáucaso, e é um dos centros de expedições (turísticas ou aventureiras) ao Cáucaso.


Kutaisi não é cidade que apeteça visitar; mas tem duas ruas históricas que fazem uma esquina com alguma elegância, e um Museu.

Rua Pushkin, Kutaisi



Para atravessar o rio, dispõe da chamada Ponte Branca sobre o Rioni, que tem alguma fama e é o ponto alto turístico de Kutaisi.



Daqui para cima, aproximando-se o Cáucaso, as águas são cada vez mais limpo (não faltam trutas) mas de aspecto leitoso, devido ao terreno e às fontes glaciares.

O Rioni já nas encostas do Cáucaso, passando em Oni.

Acima de Oni, o rio tem uma zona de rápidos que são procurados, quando há caudal, para desportos como rafting.


A região caucasiana de Racha ainda não é destino turístico de massas, mas encerra algumas das paisagens mais espantosas do planeta. A nascente do Rioni, a leste do grande complexo glaciar Skhara, é alimentada pelo glaciar Edena e pelos lagos glaciares Sovano.

Monte e Glaciar Edena, 4008 m



Li dois livros fundamentais para seguir a rota de viajantes que partiram com destino às montanhas do Cáucaso,

  - The Frosty Caucasus, um longo e detalhado relato por Florence Crauford Grove, alpinista e escritor inglês de finais do século XIX. 

 - In Wonderland, já aqui referido, um conto de viagem de Knut Hamsun, que atravessou o Cáucaso entre Vladikavkaz e Tiblisi, junto ao fantástico Monte Kazbek.



domingo, 7 de julho de 2024

No Sistelo finalmente, com passagem na Ecovia e na Vilela


 
A aldeia vista do miradouro (com zoom).

Já há alguns anos na minha agenda, nunca mais chegava  o momento de ir a Sistelo, a aldeia dos socalcos a norte do  Mezio e a poente da Serra da Peneda. Foi agora no fim desta Primavera, e como escrevi aqui a propósito de Ermelo, encontrava-se rodeado de uma exuberante verdura, muita água e pouca gente. Onde estão todos, minhotos ou visitantes, nos bares? Nos festivais de Verão?


Para chegar a Sistelo não há que enganar: sair de Arcos de Valdevez para Norte, abandonar a M101 e passar à M505. Isto sucede depois de Rio de Moínhos. A estreita M505 sobe pela margem direita do rio Vez, junto à Ecovia, o que permite um acesso fácil para pequenos passeios a pé na passarela sob frondosa vegetação fluvial.

A estrada segue ora entre muros e ramadas, ora colada à ecovia do rio Vez , à direita. 


Não são os passadiços, mas já se pode disfrutar a margem sem grandes caminhadas. Deve haver truta, na época certa.




Ponte da Vilela



É uma ponte românica medieval, anterior a 1258.



Pouco adiante, deixa-se a M505 virando à esquerda para a N202-2, que começa a subir e a curvar entre arvoredo e com o rio do lado esquerdo, cada vez mais fundo no estreito vale (há vários acessos a pé, encosta abaixo). 
Até que...


Aldeia de Sistelo


O chamado Castelo é apenas um palacete de brasileiro regressado, do séc. XIX. Foi o 1º Visconde de Sistelo, escudeiro da Casa Real Portuguesa; o fontanário e uma das pontes também se devem ao Visconde.

Agora é restaurante, abre para festas e 'eventos'.


O miradouro mais pitoresco é o dos espigueiros. Está como novo, são talvez oito à volta do tanque comunitário das lavadeiras, também recuperado.



A junta pintada de amarelo forte foi recuperada juntamente com o núcleo de espigueiros, que diferem dos do Soajo pela madeira entre os pilares de pedra.




Restaurados, com as datas de construção bem visíveis.


Lavadouro à sombra e com vistas... 

O fontanário, no centro.


Do adro parte um dos caminhos encosta abaixo até ao rio Vez.

A aldeia foi sempre lugar de pastoreio no vale e agricultura nos socalcos. Agora são actividades reduzidas, adivinham qual é a principal? Claro, o turismo - alojamento e tasquinhas. Mas ainda se vê um ou outro tractor a carregar verdes para o gado, a variedade local é a 'vaca cachena'. Não é raro surgirem pela frente na estrada. 

Vistas do Miradouro




Os acessos estão bons, houve investimento, dois restaurantes, o passadiço oferece caminhadas paradisíacas. Ou me engano muito ou não tarda é tudo de brasileiros, franceses ou ingleses. Os nativos, escapam logo que podem. Ser pastor não é vida.

Vídeo aqui