O castelo de Narva frente à fortaleza de Ivangorod: um afrontamento evidente nas pedras da História.Os tambores de guerra ouvem-se cada vez mais do lado de lá, das quatro tenebrosas ditaduras de hoje: Rússia, China, Irão e Coreia do Norte. Mas é a nossa (da Europa) fronteira leste que mais me preocupa, com a crescente concentração de tropas, quartéis, bases aéreas e navais do lado russo e a correspondente resposta do nosso lado. As maiores ameaças - já nem falo da Ucrânia - sentem-se na Estónia e na Finlândia / Noruega, sobretudo lá a norte junto ao Mar Ártico. As populações locais estão em alerta e em aflição permanente, as provocações são constantes - na costa ártica da Noruega, na ilha norueguesa Svalbard, e ao longo do rio Narva, na Estónia.
Narva é a terceira cidade da Estónia, perigosa mas desafiadora na sua projecção frente à Rússia. É uma cidade feia, com blocos de apartamentos russos construídos depois da antiga cidade ter sido arrasada em 1944 pelas bombas da aviação da URSS. Da cidade barroca contruída pelo reino da Suécia pouco resta.
A Câmara rodeada de blocos, todos tristemente iguais.
A Câmara é o edifício mais notável, com a os relevos na fachada e janelas decoradas.
Nas proximidades encontra-se outro edifício do século XVIII agora recuperado, uma armazém depois usado como caserna mas agora convertido em Galeria de Arte de Narva.
A nova Galeria de Arte, de 1777.
A cidade ocupa a margem ocidental do Rio Narva, que desagua no Báltico. Duas fortalezas em desafio, face a face uma cada margem, com a fronteira lá em baixo ao longo do rio.
A Fortaleza de Narva, do século XIII, foi de início obra dos dinamarqueses que tomaram posse do território em 1256. No século seguinte Narva obteria o estatuto de cidade fazendo parte da Liga Hanseática, e a estrutura defensiva foi reforçada.
A fortaleza foi várias vezes cercada e atacada, sendo mais lembrada a Batalha de Narva em 1700, em que o exército da Suécia conseguiu repelir as tropas russas do Czar Pedro o Grande. Vem de longe a cobiça russa por estas terras que já forma pertença do Reino da Dinamarca, da Ordem Teutónica, do Reino da Suécia e da Rússia.
É também conhecida como Castelo Hermann, nome dado pelos germânicos à Torre, provavelmente com origem em "heri - man", guerreiro. A Torre seria completada já no século XV.
Além das vistas largas sobre o rio e a cidade, o Castelo oferece um Museu com estruturas de apoio a visitantes.
Pode ser aqui que começa a 3ª GG.
Sinal das elevadas tensões, a ponte que atravessa o Narva e servia de passagem de fronteira está agora bloqueada com dentes-de-leão. Ao longo do rio, havia uma linha de demarcação assente em bóias que i-pedia a passagem a nado; entretanto os russos retiraram as bóias e torna-se difícil controlar quem atravessa furtivamente o rio.
São cada vez mais frequentes ineterferências nas comunicações por satélite, propaganda estridente por altifalantes, drones de vigilância e outros drones zumbindo sobre a cidade marcados com o 'Z' das milícias russas.
---------------------------------------
Kirkenes, no Ártico norueguês, a 69º 43´N, é outra cidade condenada a estar de frente para a ameaça russa no outro lado da fronteira; aqui a situação é ainda pior: nem imagino como é viver sabendo que a poucos quilómetros "para lá" está a maior concentração de arsenais nucleares do mundo, na península de Kola, na base naval de Murmansk.
E mais: todas as semanas o porto pesqueiro de Kirkenes é 'visitado' por navios russos, pretensamente navios de pesca, mas demasiado grandes, com equipamentos estranhos e tripulações que fazem ginástica no convés. São navios de espionagem, e os espiões russos pavoneiam-se na cidade e arredores como se fosse tudo deles, ao abrigo de um antigo acordo que a Noruega quer cancelar.
Kirkenes num dia de Verão.
Kirkenes, tal como Narva, é muito feia; talvez mais rica, mas muito feia. Até a igreja é feia.
É uma aldeia de pescadores, que por um acordo de.... é um porto aberto à frota russa do Ártico, pois os pesqueiros russos não dispoem de um porto de abrigo nesta área.
Um barco de pesca russo em Kirkenes
Um jornal da região norueguesa do Mar de Barents traz notícias e reportagens frequentes das relações cada vez mais inamistosas entre os dois lados, incluindo provocações como letras 'Z' e símbolos do regime.
Pessoal do consulado russo remove um cartaz de apoio à Ucrânia que consideram 'provocação', embora não estivesse na terra deles.É frequente algum tripulante sair e ser visto a tirar fotografias. Andam tão à vontade que se fala da "cidade russa na Noruega". Entretanto o Consulado (onde os russos registados vão votar em Putin) está quase sempre fechado, e quando o cônsul é avistado anda com as insígnias da "Operação Especial" em curso.
The Barents Observer:
https://www.thebarentsobserver.com/news/in-front-of-kirkenes-war-memorial-sergeinbsp-recorded-video-greetings-to-russian-soldiers-in-ukraine/429542
Sem comentários:
Enviar um comentário