domingo, 12 de abril de 2009

Tschüss Rheinland-Pfalz, olá Douro!

Und ruhig fließt der Rhein

De volta ao rio que passa na minha aldeia, mas deslumbrado com a Primavera no Reno! Nunca a tinha visto tão linda, tão florescente e verdejante, numa variedade de tons desde o branco ao rosa escuro passando por uma imensidão de verdes que me ficou na retina para muito tempo. Muito mais impressionante que as "amendoeiras em flor" de cá. As vinhas, claro, ainda estão atrasadas e nem interessam nada porque aquele vinho é intragável.

A segunda impressão mais intensa foi a de "tráfego". Percebe-se bem a importância do Reno como estrada ao longo da História. Vi ruínas romanas que faziam parte da linha defensiva face aos "bárbaros", que se estendia ao longo do rio e aguentou largos anos (séculos?) , vi a linha de castelos feudais e para cobrança de portagem, claro, como em qualquer autoestrada, alguns em ilhotas no meio da corrente, e vi os castelos imperiais apalaçados , no alto dos penedos e com belas vistas, alguns deles "monos" feiosos da época. Mas o "tráfego" percebe-se sobretudo na fortíssima corrente - uma viagem para montante demora o dobro da viagem para jusante ! ) e pelos transportes : em cada margem, uma linha de comboio dupla de tráfego incessante: composições enormes de carga, locais de passageiros, rápidos ICE, máquinas em manobras - tudo de 30 em 30 segundos, nas 4 vias! Nunca vi tanto comboio para lá e para cá. Crise? Não faltavam VW, Audi e Mercedes aos milhares em comboios especiais...Não acabou: no rio, barcaças de transporte de fundo chato, por vezes enormes, com reboque, com a "moradia" e os 2 carritos atrás da ponte de comando e 200 0u 300 metros de porões, contentores ou carga à vista até à proa: muito...CARVÃO!, sucata, carburantes, camiões e vagões, areia...também em média de minuto a minuto, nos 2 sentidos, e a cruzarem-se perigosamente ao milímetro com...os muitos ferrys que atravessam pessoas e veículos entre as duas margens. Conclusão: pode-se ficar horas só a ver este movimento todo que o rio proporciona...tanto mais que a vegetação arbórea estava gloriosa.

Claro que ainda há estradas em ambas as margens: são para uns poucos carros, pois nunca vi engarrafamentos e quase não há camiões. As cargas e descargas devem ser a horas a que cá a "pulga" dormia a bom dormir - sem ruído graças às janelas duplas. Passear de carro nas 2 margens do Reno e do Mosela AINDA é um prazer: sem filas nem atrasos, a uma velocidade humanamente agradável (50 - 80) e com muitos pontos de saída para fotos ou para disfrutar as margens. Há sempre onde aparcar, mesmo em zonas livres. Abundam aldeias antigas mais ou menos bem mantidas: Gostei muito de Bacharach, muito pequena e abandonada pelo turismo de massas mas com os mais belos exemplos de casas antigas com estrutura de madeira (séc XIII). Fecha tudo às 18h e só se consegue jantar até às 20.30! Não há hotéis de jeito. Uma paz e sossego celestiais, só se ouvem os passarinhos...comi uma truta meunière como já não me lembro, deliciosa.

Mas a aldeia mais , digamos, de encher o olho foi Bernkastel - Kuez. Praças l-i-n-d-a-s, em plano inclinado, rodeadas de casas antigas, com fontes da época, ruelas de casario antigo colorido por toda a parte e encosta acima, decorações muito engraçadas das fachadas que mostram o gosto dos donos, sempre os magníficos telhados de ardósia com águas furtadas, torres com túnel e relógio, e um belo cenário de beira-rio. Algum comércio melhor (personalizado, com gosto) ao lado de "recuerdos", claro. Muitas, muitas casas de prova de vinhos (a evitar).

Mais aldeias bonitas são Sankt Goar, Braubach e sobretudo Cochem.

Rudesheim é o Reno estragado: milhões de turistas, camionetas, barcos de excursão, casas de vinho, tornam a vila impossível, descaracterizada e ruidosa. Apesar de belas casas...

Koblenz é basicamente FEIA. Só se salva um passeio fluvial magnífico, com relvado, arvoredo, palácios, esplanadas e estatuária, e uma AltStadt minúscula pouco interessante onde duas igrejas merecem a visita.

Enfim, cultura. Além de visitas a castelos (peuh!) e ruínas (mmph!), não se pode esperar muito mais. Para os germânicos muito germânicos, há Lorelei - o célebre rochedo cantado por Heine, onde as sereias atraíam os marinheiros para os afundar (onde é que já ouvi isto?). Belíssima vista ao entardecer. Mas diz-me pouco. A propósito, para se perceber o Reno e se ficar de vista satisfeita há que subir a todos os castelos...para ver a paisagem!

Música: é uma zona pobre, paradoxalmente. Uma sala de Ópera em Mainz (Mogúncia) com orquestra própria produziu um Parsifal que eu escusava de ter visto. Enfim, tinha graça por ser "provinciano", com um guarda-roupa hipercolorido, uma orquestra pouco ensaiada (ou afinada) que tornou penosas as passagens já de si chatas (e são muitas). Parsifal, nunca mais. É aliás uma ópera idiota e sem jeito de um senhor que tinha a mania... ;-) antevejo protestos veementes.

http://www.staatstheater-mainz.com/typo3/index.php?id=368

Parece que a Philharmonisches Staatsorchester Mainz corre o perigo de ser extinta. Por mim, bem o merece.

Enfim, assisti a uma recitazinha em Boppard (cidade ideal para estabelecer a base logística dos passeios) de uma sopranozinho checa Denisa Neubarthova, sem chama nem glória, que cantou Grieg (Solveig, etc), Ofenbach, árias de operetas. Neubarthova costuma cantar com a Filarmónica de Smetana.
http://smetana-phil.com/AL/solist_denisa.htm

Um fiasco musical, esta viagem. Mas era acessório...

Finalmente, chego a casa e tenho no correio o programa completo do meu festival favorito - Lucerna, 2009. Pois parece-me que me vou abster este ano. Noutro post salientarei os pontos altos, que não são tão altos que me levem lá a correr. Madalena Kozená não é voz que aprecie... (tenho o link para o festival aqui à direita)

Também em próximo post colocarei umas (poucas) fotos da viagem.

P.S. Comer é barato (7 - 15 € p.p.) mas tomar café ( 2.5 €) proibitivo e nem sequer há expresso descafeinado. Bárbaros.

6 comentários:

Paulo disse...

Interessantes as suas impressões. Não concordo com o que diz de "Parsifal", mas não protesto (se era tudo assim tão fraco, até compreendo).

Alberto Velez Grilo disse...

Estimo em vê-lo regressado de tão interessante viagem :)

Ao contrário do Paulo, concordo consigo quanto ao Parsifal. Aliás, tenho graves problemas com Wagner, mas ninguém é perfeito. Uma vez em Viena deixei o Parsifal de lado e assisti, em vez disso, a uma opereta de Lehar.

Um abraço

Mário R. Gonçalves disse...

Paulo: era fraco mas a sala cheia ovacionou. É daquilo que eles gostam. Vozes potentes nos baixos e agudos, fanfarra potente nos metais pesados...mas para mim. além da absoluta ausência de musicalidade tal como a entendo (o Wagner aos lieder, Mestres Cantores e Navio Fantasma), é o texto que é o mais intragável, aquela mística de super homem moral estendida por 4 hora e meia, sem humor, nem distanciamento, um vazio absoluto de nada. Perdoe, sei que é wagneriano, aceito e admiro o Wagner que já citei ou o de Rienzi, o de Tristão e Isolda - mas o Parsifal, vou ali e venho já.

Obrigado pelo comentário, [[ ]]

Mário R. Gonçalves disse...

Alberto,

Olá de novo.
Temos problemas com Wagner. Mas concordará com a excelência dos Wesendonck Lieder e dos Mestres Cantores de Nuremberga: o DVD do MET (Levine / Happner / Mattila) é realmente fantástico. Falta-me ver ao vivo...

[[ ]]

Mário

Moura Aveirense disse...

Hummmm, não gosta da voz da Kozena? ;) Adoro-a, é das cantoras que mais aprecio!

Quanto à viagem, cá espero as fotos para ficar (ainda mais) roída de inveja ;)

Bom início de semana, Moura Aveirense

Mário R. Gonçalves disse...

Olá Moura, we're back!...


Pois o meu Top de divas neste início de século é:

Dorotea Roschman
Diana Damrau
Renée Fleming
Vivica Genaux
Angela Gheorgiu
Carolyn Sampson
Susan Graham

As fotos não são o meu forte, fiz poucas, posto-as até sábado. Boa semana!

Mário