Porto, parque da cidade, últimas semanas de Setembro: os plátanos, mas não só - choupos, tílias, salgueiros, nogueiras - o parque ganha com o passar dos anos, e as árvores, silenciosas mas boas companheiras, dão tudo sem nada pedir em troca. E entre elas, na sua sombra ou no seu abraço, na sua paz e no sussurrar das folhas, nas mil e uma cores que reflectem o sol, descansamos da fealdade dos homens.
Outono I
These are the days when Birds come back -- A very few -- a Bird or two -- To take a backward look.
Emily Dickinson
Outono II
In youth, it was a way I had To do my best to please, And change, with every passing lad, To suit his theories.
But now I know the things I know, And do the things I do; And if you do not like me so, To hell, my love, with you!
Indian Summer, Dorothy Parker
Outono III
Laden Autumn here I stand Worn of heart, and weak of hand: Nought but rest seems good to me, Speak the word that sets me free.
Só há um local onde a falha tectónica que atravessa o Atlántico é visível à superfície: Thingvellir , um enorme desfiladeiro na Islândia, entre a placa tectónica da Eurásia e a da América do Norte.
A dorsal meso-atlântica é divergente, ou seja, as duas placas afastam-se e no futuro a ilha será partida em duas com o Atlântico no meio!
Os dois continentes separam-se à velocidade de 2 m por século, de forma que a terra entre as placas se afunda aos poucos, cavando uma fenda ou vale em desfiladeiro:
Um dos mais belos locais da Islândia, o Parque Nacional de Thingvelliré também um marco na História do país e até...da Europa! Foi aí que se reuniu o primeiro Parlamento do mundo: os Vikings juntavam-se aqui anualmente desde o séc X, à volta de uma elevada formação rochosa, para criar leis novas e reformar as antigas.
O Alþingi ou Althing foi fundado cerca de 930 DC, e tinha lugar cada verão. Mais tarde funcionou também como tribunal até 1798. Mesmo depois da anexação da ilha pela Noruega, o Althing manteve sessões em Thingvellir até 1799. Acontecimentos cruciais da história da Islândia aì tiveram lugar - a adesão ao cristianismo em 1000 DC, a fundação da república da Islãndia em 1944.
O Rochedo da Lei de Þingvellir (séc XIX).
Desde 2004 o parque de Thingvellir pertence à lista do património mundial da UNESCO.
O Parque Nacional de Þingvellir
O seu território inclui a falha geológica, o local e os achados do Althing, cujo sítio arqueológico continua sob investigação. Inclui ainda o Lago Þingvallavatn, entidade única quanto à história geológica e ao ecossistema, e a queda de águaÖxarárfossdo rio Öxarár , que alimenta o referido lago.
Já não será novidade o meu prazer especial pelas terras e gentes do Norte, e quanto mais Norte melhor - do Ártico. É como uma nova Terra Prometida, "Go North, young man", local de todas as oportunidades e aventuras e dos futuros vales de verdura.
Sei como a vida é dura, a longevidade baixa, o terreno e o clima inóspitos, o verão curto, o abastecimento escasso e as carências mais que muitas. Mas para jovens intrépidos, gente com poesia no sangue e despojamento na alma, as terras dos glaciares, dos fiordes, das auroras boreais, dos ursos brancos navegando em iceberg , dos nunataks e dos inukshuks, dos vulcões cobertos de branco, das 100 palavras para a neve, das aldeias de mil cores pintando a neve e descendo pela encosta até ao Ártico tão abundante de vida, aquele isolamento telúrico do homem quando viaja de trenó de cães perante uma imensidão alva que parece o universo inteiro - toda esse Novo Continente é como um novo planeta: uma casa vazia à nossa espera. Seja nos "Northern Territories" do Canadá, no Alasca ou nas Aleutes, na alta Sibéria do Taymyr, nas ilhas Svalbard ou na enorme Gronelãndia, na Islândia ou nas Faröe, no extremo da Noruega ou na rica Suécia dos Sami.
Tudo isto respira na música dos Sigur Rós, poetas islandeses dos grandes espaços. Basta ver o DVD que realizaram pela ilha com concertos locais, num antigo sítio Viking, numa planura deserta, numa cascata, numas ruínas, numa pequena aldeia, para sentir até que ponto aquela música É aquela natureza, traduzida no sentir do homem.
Chego assim ao recente disco de Jónsi, "Go", que motivou e exigiu esta introdução.
Com 4 acordes apenas se faz um disco lindo de morrer. Jónsi é o único e inconfundível vocalista dos Sigur Rós, banda islandesa que marcou os últimos anos, criando uma espécie de rock sinfónico herdeiro dos Yes e dos Pink Floyd, que plana nas alturas pela ousadia das orquestrações e das harmonias, que cria contrastes rítmicos surpreendentes e mesmo brutais, e manda para o lixo quase tudo o resto que por aí se faz (excepto os Magnetic Fields, Peter Gabriel e talvez alguma coisa dos Arcade). Go é o disco a solo de Jónsi, saído a 5 de Abril, e é mais uma vez um delírio. A riqueza orquestral atinge um nível incomum nesta área, de quase excelência pop. O incrível falsete de Jónsi é puxado a alturas vertiginosas. A voz dele planando sobre órgão em Grow till tall é de arrepiar. Os coros angélicos que cortam subitamente um ritmo frenético são pura beleza, seja em que música fôr.
Esquecendo um ou dois temas mais fracos, é a não perder por nada deste mundo, num hifi de qualidade com o volume puxadinho ! Experiência inolvidável...
( e não se espantem por eu gostar disto: foi desta música que aprendi a gostar, a clássica fez-me exigente e selectivo, mas quando se compõe, toca e canta assim, não resisto.) (presentemente Em Audição)
Benoît Mandelbrot(20 /11/1924 – 14/10/2010) inventou o termofractalpara descrever objectos matemáticos fragmentados e irregulares, cuja estrutura se repete a diferentes escalas.
Flocos de neve, folhas de feto, conchas de moluscos, couve flor, bacias hidrográficas e até o sistema circulatório e pulmonar ilustravam na natureza este tipo de formas geométricas. OConjunto de Mandelbrot , facilmente construído em computador por um iniciado, tornou-se imagem de marca da geometria fractal. O tema principal é repetido infinitamente em escalas cada vez menores.
Benoît Mandelbrot iniciou a vida académica em Paris, depois de abandonar a Polónia, sua terra natal, aos 11 anos devido às perseguições nazis. Em 1958 mudou-se para os Estados Unidos para trabalhar na IBM, onde desenvolveu investigação científica durante cerca de três décadas. No final dos anos 80 passou a leccionar na Universidade de Yale, onde ficou até à sua reforma, em 2005.
Actualmente as aplicações da geometria fractal são imensas , sobretudo nos fenómenos instáveis ou turbulentos não lineares, de modelos matemáticos ditos "caóticos". E mais: no cinema, muitas, mesmo muitas das paisagens e cenários de ficção gerados em computador recorrem à geometria fractal.
Não resisto a citar aqui um post do De Rerum Natura, "Saramago, a Morte e a Mina".
"José Saramago estava redondamente enganado. No seu discurso em Estocolmo por ocasião da entrega do Prémio Nobel, numa tentativa de apoucar a ciência e a tecnologia, afirmou:
"A mesma esquizofrénica humanidade capaz de enviar instrumentos a um planeta para estudar a composição das suas rochas, assiste indiferente à morte de milhões de pessoas pela fome. Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante."
A operação de resgaste dos mineiros da mina de S. José, no Chile, com forte apoio da NASA, acaba de mostrar que se chega mais facilmente ao nosso semelhante do que a Marte. Saramago não conseguiu compreender que se pode chegar mais depressa ao nosso semelhante em virtude precisamente de desenvolvimentos científico-tecnológicos associados à descoberta do espaço. Que pena ele não estar cá para ver..."
É assim, a esquizofrenia às vezes não está onde se diz.
A minha primeira impressão da Sutherland foi, tinha eu uns 30 anos, a interpretação do Messias de Händel, dirigida por Bonynge, sublime mas absolutamente não-historicamente informada. Que interessa? Cantava divinamente, como mais ninguém. Ouçam só a parte final.
Joan Sutherland - Rejoice greatly O daughter of Zion
Estive no fim-de-semana passado de visita a Chaves, onde não ia há uns anos largos; tinha ouvido elogiar a recuperação do centro histórico.
Uma boa surpresa, de facto, daquelas que ainda dão gosto neste país, a fazer esquecer tudo o que de feio e mau nos é imposto diariamente. As ruazinhas medievais de Chaves estão um brinquinho, muito limpas, com novos pisos, com as belas varandas de madeira coloridas e mais de metade das casas recuperadas (há obras e abandonos ainda), fachadas caiadas ou pintadas; um sucesso do Polis.
Apraça de Camóes, ainda muito em obras, é bem capaz de ser uma das mais belas de Portugal, com a Matriz românica, o Museu e a Câmara barrocos e um frente de casas antigas com varandas e mansardas.
Fotos de Fernando Ribeiro
Como se não bastasse, na Praça do Arrabalde, o centro cívico da cidade (também com belos edifícios) , ao escavar o solo para construir um parque de estacionamento foram descobertos os antigos balneários romanos - apenas os mais bem conservados da península!
Foto de Fernando Ribeiro
As excavações prosseguem, a área está entaipada, mas promete surgir ali um belíssimo espaço museológico. Um dos vestígios mais visíveis do balneário é a piscina central, que, de acordo com o arqueólogo, foi construída mesmo em cima da nascente termal.
O centro está todo revitalizado, com comércio e animação (muita gente na rua, muitas esplanadas compostas à noite), a ponte romana quase parece nova, as margens do Tâmega impecavelmente ajardinadas e arborizadas, com percursos pedestres e ciclovia.
Passear em Chaves é um gosto. A par de Guimarães e Évora, Chaves ostenta um dos mais harmoniosos e bem conservados centros históricos das pequenas cidades portuguesas.
Acabo de descobrir este magnífico poema do argentino Júlio Cortázar (1914 - 1984), outro mestre da prosa poética e da narrativa breve como Borges ou Bioy Casares.
Te Amo Por Ceja
Te amo por ceja, por cabello, te debato en corredores blanquísimos donde se juegan las fuentes de la luz, te discuto a cada nombre, te arranco con delicadeza de cicatriz, voy poniéndote en el pelo cenizas de relámpago y cintas que dormían en la lluvia.
No quiero que tengas una forma, que seas precisamente lo que viene detrás de tu mano, porque el agua, considera el agua, y los leones cuando se disuelven en el azúcar de la fábula, y los gestos, esa arquitectura de la nada, encendiendo sus lámparas a mitad del encuentro.
Todo mañana es la pizarra donde te invento y te dibujo, pronto a borrarte, así no eres, ni tampoco con ese pelo lacio, esa sonrisa.
Busco tu suma, el borde de la copa donde el vino es también la luna y el espejo, busco esa línea que hace temblar a un hombre en una galería de museo.
Además te quiero, y hace tiempo y frío.
Amo-te por sobrancelhas, por cabelo, debato-te em corredores
branquísimos onde se jogam as fontes da luz, Discuto-te a cada nome, arranco-te com delicadeza de cicatriz, vou pondo no teu cabelo cinzas de relâmpago e fitas que dormiam na chuva.
Não quero que tenhas uma forma, que sejas precisamente o que vem por trás de tua mão, porque a água, considera a água, e os leões quando se dissolvem no açúcar da fábula, e os gestos, essa arquitectura do nada, acendendo as lâmpadas a meio do encontro.
Tudo amanhã é a ardósia onde te invento e desenho. pronto a apagar-te, assim não és, nem tampouco com esse cabelo liso, esse sorriso.
Procuro a tua súmula, o bordo da taça onde o vinho é também a lua e o espelho, procuro essa linha que faz tremer um homem numa galería de museu.