Visito quase sempre cidades quando vou de férias. Gosto de passeios rurais ou pela montanha, de respirar amplos espaços verdes, azuis ou nevados, mas regresso sempre à cidade, meu verdadeiro ninho, às ruas com vida, com História, com arte, com mercados, com cafés e esplanadas, com jornais e livrarias...
Seria incapaz de viver no campo.
Sair à rua logo de manhã para café, com jornal ou com dois dedos de conversa; ter de me preparar para um programa à tarde ou à noite, seja de compras, cinema ou concerto - planificar horas, transporte - eis um dia perfeito. Melhor ainda com um banquinho no parque ou à beira mar , onde ver quem passa, ou ler.
Maravilhou-me este livrinho "Por amor das cidades", ed. Teorema, 1999, já nada recente (Pour l'amour des villes: Entretiens avec Jean Lebrun, Textuel, 1997.)
É uma entrevista a um estudioso apaixonado pela cidade medieval - provavelmente a mais citadina de sempre, a mais intensamente vivida pelos cidadãos porque era deles tão próxima. Tomei conhecimento dele pouco depois (e a propósito) da minha visita a Bolonha, cuja "citadinidade" admirei.
A construção, actividade urbana por excelência, deu nascimento à defesa de interesses laborais (os maçons).
Admiráveis ilustrações ladeiam o texto da entrevista, mostrando como a Idade Média, indiferente à Natureza, se dedicava antes a criar beleza artística urbana.
Admiráveis ilustrações ladeiam o texto da entrevista, mostrando como a Idade Média, indiferente à Natureza, se dedicava antes a criar beleza artística urbana.
Efeitos da boa governação na cidade, a obra prima de Lorenzetti, várias vezes citada.
"O sentimento anti-urbano, ligado à teologia ecológica actual, era em grande parte ignorado na Idade Média."
Colorida, decorada, a cidade medieval é em si uma obra de arte.
As torres de S. Giminiano ( como as de Bolonha) antecipam os arranha-céus de Manhattan, que realizam hoje uma das mais poderosas formas do imaginário medieval - a verticalidade, ao mesmo tempo ascensão aos céus e símbolo de poder.
A cidade é também lugar de festa, de jogos, de acontecimentos.
Uma das "maravilhas" da cidade, a horta é um jardim do paraíso que se cultiva entre muros. Na cidade perfeita, todos querem o seu "quintal", a sua varanda...
Conheço bem os males da cidade - gente a mais, carros a mais, ruído, muito tempo perdido, insegurança, falta de horizontes. Talvez se os planeadores urbanos estudassem a cidade medieval soubessem voltar a fazer da cidade uma criação artística.
4 comentários:
Belo texto, Mário. Parabéns! Eu poderia viver no campo,sim,mas sem deixar completamente a cidade.Quem nela passou a maior parte da vida, dificilmente se despede para sempre do bulício das ruas.
Já li o livro e não conheço outro que, de forma tão ágil, introduza o leitor no mundo urbano da Idade Média. E também que nos faça entender como a cidade é sempre a cidade, com a sua azáfama e os seus contrastes. Naquela atura, representava a mudança, um mundo novo para quem a vivia. Hoje, tomou posse do mundo. Mas a essência continua a mesma
Com ajuda da Joana tinha sem dúvida feito um post bem melhor
:)
Obrigado !
Viver no campo puro, isolada, não me parece que gostasse. Interessante será viver numa aldeia relativamente perto de uma grande cidade, com o melhor de dois mundos: o sossego, as mercearias, as crianças e os cães na rua, e por outro lado os espectáculos, os museus, as lojas boas, o aeroporto ali ao pé.
Viver na mourama, como vivo, é uma aproximação :-)
Gi,
uma cidade não é uma aldeia grande. Ou se tem uma, ou se tem outra.
Viver numa casa de pedra rodeada de jardim na cidade, É cidade. Sai-se à rua e tem-se cafés e livrarias, e não regatos e bosques.
Viver numa casa com net e tv cabo mas isolada numa aldeia, onde só há a tasca do Zé e estamos rodeados de montes e vales - isso é aldeia. Sem aeroporto.
Vivo na primeira, visito a segunda.
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