sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
Holanda, Suíça, Áustria, pequenos grandes países
São três países pequenos, com dimensão semelhante à nossa, um com mar, outros sem, modestos de recursos naturais - a Holanda não tem o nosso potencial de pescas, a Áustria não tem olivais nem as praias do Algarve, a Suíça não tem a região vinícola do Douro, nem campos de golfe à beira mar.
O que tiveram, foi sabedoria, iniciativa, empenho, criatividade, visão, trabalho. Criaram indústrias inimitáveis - relógios, farmacêutica, cutelaria e o turismo alpino na Suíça; turismo cultural, pianos, seguros e jóias na Áustria; lâmpadas, grandes portos e ... flores, na Holanda. Tudo com imagem de marca. Constroem ainda maquinaria pesada - na Suíça, combóios e perfuradoras de túneis; na Áustria teleféricos, combóios e automóveis; na Holanda, barcos e guindastes.
A saber:
Holanda - Unilever, Phillips, Heineken, Shell, o porto de Roterdão
Suíça - Tissot, Swatch, Nestlé, Roche, Nescafé, Suchard
Áustria - Svarowsky, AKG, Bösendorfer, Generali, Red Bull
Além disso, não ignoraram a produção agrícola. Protegeram com cuidado os terrenos férteis. Não precisam de importar carne, lacticínios e cereais . O trabalho nos campos é altamente mecanizado e rentável. Na Holanda, foram até conquistados ao mar, e hoje esse território minúsculo, largamente excedentário na produção, é o terceiro exportador agrícola mundial ! Em maçãs e tomate, batem-nos aos pontos. Porquê?
Claro que têm uma banca sólida, a banca cresce com a indústria e as trocas comerciais. Uma banca saudável é sinal de uma economia saudável. Demonizar a banca, só nosso, de país com tiques de aristocrata arruinado.
Finalmente, investiram em devido tempo com racionalidade nos transportes. Privilegiaram o combóio, com uma densa rede que vai a toda a parte. Na cidade, tudo fizeram em prol da bicicleta, que é raínha nas cidades universitárias, dos "eléctricos" que sempre mantiveram convivendo saudavelmente com o resto do trânsito, em vez de mudar para o "metro de superfície" que atrapalha a cidade.
O chamado "centro histórico" das cidades holandesas, suíças e austríacas é geralmente uma extensa zona pedonal, um paraíso para passear e andar às compras, com árvores, jardins, bancos para sentar e muitas esplanadas. A poluição, diminuta. Viena, Zurique, Basileia, são repetidamente eleitas cidades com a melhor qualidade de vida.
E como se compreende que um festival "elitista" de música clássica numa pequena vila austríaca (Salzburgo) atraia multidões e dê milhões de lucro em poucos dias, como há pouco reportou o Intermezzo ? Qualquer festival cultural em Portugal tem de ser fortemente subsidiado e mesmo assim dá prejuízo.
Há em Portugal, desde há sei lá quantos séculos, um problema: não sabemos gerir o nosso pais, a nossa riqueza, os nossos recursos. Não sabemos. Nem a floresta, nem a riqueza das Índias, nem o ouro do Brasil; nem as colónias, nem os mares, nem as terras férteis; nem os fundos da U.E., nem o Douro vinhateiro e o seu património, nem a rede de caminhos de ferro, nem a frota mercante. E as coisa mal governadas acabam sempre por ir em benefício de oportunistas, cavando grandes diferenças de classe e gerando corrupção um pouco por toda a parte. Sem governo de jeito, cada um governa-se como pode.
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5 comentários:
É verdade, Mário. O desgoverno deste país é endémico. Nada a acrescentar.
A questão não está tanto na governação Mário porque nesses países não se criaram essas industrias por decreto nem tão pouco teve o governo papel fundamental nas mesmas pelo menos na sua esmagadora maioria. Da Suiça não vou falar porque teria de dizer coisas desagradáveis em particular sobre a "saudável" banca Suiça. O nosso problema Mário não é tanto o desgoverno. O nosso problema é não só das classes politicas que nos governam mas muito mais geral sendo uma questão que afecta as elites no seu todo, elites essas que raramente na nossa história se preocuparam em muito mais do que gastar a riqueza de que dispúnhamos. Nunca pensaram no amanhã e nunca foram verdadeiramente empreendedores, oportunistas sim, desenrascados sim, mas empreendedores no sentido que a palavra encerra de criarem obra perene não. Nunca foi esse o nosso modo de ser. Ainda hoje isso se pode observar e todos os dias somos confrontados com algum triste reflexo desses sintomas. O meu supermercado não é é o Pingo Doce mas poderia ser. Não alinho em boicotes não porque não o merecessem mas porque as alternativas são igualmente más na dimensão particular que estamos a discutir ou até eventualmente piores.
Fernando,
Empreguei "governação" num sentido lato, como gestão de recursos e da produção de riqueza. Portanto, engloba muito mais que a classe política, tanto mais que o desgoverno vem muito de trás, de séculos atrás. O desgoverno é um estado de espírito nacional.
Sobre a Suíça, vejo que alinha num preconceito estabelecido com base na inveja. A banca suíça é muito antiga, tem História, nasceu com a riqueza que os suíços souberam criar. Não foi a banca que criou a Roche ou a Tissot, mas o contrário.
Preconceito? Talvez Mário. Admito ter preconceitos. Porém inveja não. A bem dizer até acho que a minha objecção à banca Suiça pode ser discutível mas é fundamentada e não tem a ver com esse sentimento que menciona. Já agora Mário a minha objecção é recente e está ligada com o papel da banca Suiça durante a Segunda Grande Guerra e também à posteriori com a fundação daquilo que veio mais tarde a proliferar pelo mundo fora: locais para se esconderem fortunas cuja constituição era como dizer ... portanto Mário não creio que seja inveja. Preconceito até admito mas é pelo menos fundamentado em coisas que me ensinaram, se estiverem erradas "I will stand corrected" ... Inveja é que não, Mário.
Caro Fernando,
espero que não me enha interpretado mal, não estava a personalizar em si as ideias feitas sobre a banca suíça. Claro que esta se portou mal, merece ser atacada pelos seus erros graves, mas tornou-se moda identificar o país (que é muito mais rico que a sua banca) com esses erros, e esquecer o "resto" - a História vem pelo menos de 1713, com o "código de Geneva".
Se ficou incomodado pela classificação de "inveja", peço-lhe perdão, mil perdões, a culpa do mal entendido é minha.
Abraço,
Mário
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