Mais uma mirada virtual para longes nortes que nunca visitarei.
Para além daqueles chavões da Lapónia e Rovaniemi (a aldeia do Pai Natal) pouco se conhece do norte da Finlândia, que se supõe frequentado por renas, coberto de florestas cobertas de neve; ora lá para o fundo do Golfo da Bótnia, uma extensão do Báltico, encontra-se uma aldeia litoral que é património nacional pelas casas em madeira do século XVIII e XIX e pela arquitectura neoclássica do centro histórico, a lembrar os planos em quadrícula da Renascença italiano (ex.Turim), guardadas as devidas distâncias.
Não se espera certamente muita História e Arte nestas paragens longínquas e frias. Não há esplanadas nem praias. Não há castelos nem palácios. Não é a Toscânia. Há isso sim um ambiente belle-époque, burguês, mercantil, a lembrar armadores de barcos enriquecidos na pesca que importam o melhor que podem para rechear as suas casas de novos ricos. Há uma sala de teatro aberta todo o ano, um bonito campus escolar, lojitas de charme, casas-museu, uma ou duas igrejas... e a tal arquitectura. Já é muito, para 64,5º N ! Admira que ainda haja árvores, mas nesta zona a linha-de-árvores (tree-line) passa mais a norte, perto do mar de Barents.
Pouco a pouco, enquanto fazia procuras e descobertas, fui ficando encantado
com esta jóia nórdica, de beleza modesta e escala humana, surpreendente pela (relativa) vitalidade cultural.
O Parque Myhrberg, na beira-mar de Raahe.
Raahe é uma pequena cidade costeira e portuária do século XVII, aberta ao Golfo da Bótnia, que banha o oeste da Finlândia.
Fundada em 1649, é uma entre muitas cidades históricas de arquitectura em madeira. Teve um início difícil, quando depois de passar pela penúria agrícola e uma grande fome, foi incendiada pelas tropas russas em 1714, e só pelo fim do século XVIII prosperou e cresceu, passando a ser um dos principais portos do país. Novo incêndio, devastador, em 1810, deu a oportunidade para um renascer das cinzas inspirado no urbanismo renascentista.
Raahe fica à beira-mar, mas atrai visitantes mais pelo seu centro histórico de traça geométrica, praças e parques, museus e galerias.
Coordenadas : 64° 41′ N, 24° 28′ E
- 180 km a sul do círculo polar (65º N)
População : ~26 000
Os cantos são jardins em quarto-de-circulo.
A praça Pekka foi construída sobre uma anterior praça do mercado, seguindo um desenho neoclássico de 1888. As ruas saem do centro de cada um dos lados do quadrado, e cada esquina tem uma casa icónica na História de Raahe.
O plano urbano de Raahe, um desenho rectilíneo em grelha. As ruas históricas correm à volta da praça Pekkatori até à beira-mar.
O Teatro de Raahe, Koulukatu (rua da Escola).
Instalado numa bonita casa de 1913, o Teatro também é a sala de concertos de Raahe.
http://raahenteatteri.fi/drupal/
A rua da Escola, com o Teatro (à direita) e a Escola ao fundo.
Alma, uma lojinha de lãs, gulodices e decoração, ao lado da antiga Farmácia.
A antiga Farmácia ('Apteekkimuseo') de 1793, à esquerda na Kauppakatu (rua do Comércio).
Decoração sobre a porta.
A Apteekki é agora museu, com uma colecção de vasos e frascos farmacêuticos, equipamentos e embalagens antigas, mobiliário e decoração do séc. XVIII.
Estantes, balcão e máquina registadora.
A janela decorada no Natal.
Kauppakatu, 36 : Arte Nova a 64º N !
Na rua Brahenkatu, esta é talvez a janela mais apreciada em Raahe.
Vaidades nórdicas.
A antiga Estação de Raahe , outro exemplo de arquitectura nórdica em madeira.
Um valioso edifício arte nova do início do séc. XX, esta Rautatieasema estava decadente, até ter sido vendida a privados e restaurada como Galeria de Arte, loja de artesanato e café.
Gallery Myötätuuli
Uma das várias galerias da cidade.
http://www.kulttuuriraahe.fi/galleria_myotatuuli
A igreja de Raahe, do arquitecto Josef Stenbäck, completada em 1912.
O estilo Art Nouveau expandiu-se na Europa desde 1890 até cerca de 1910; usa motivos naturais - sobretudo plantas - em ritmos assimétricos, ondulatórios, e nos materiais predominam ferro forjado, vidro, gesso. Foi utilizada tardiamente noutras zonas mais afastadas - Rússia, Noruega (Älesund), Nova Zelândia (Dunedin). Não seria de esperar este sucesso quase ártico.
O altar foi pintado por Eero Järnefelt em 1926.
O candeeiro principal.
Rantakatu, o passeio da beira-mar
A 'praia' de Raahe
Raahe nasceu como cidade portuária. Desde 1850, as suas companhias de navegação mercante eram proprietárias da maior frota da Finlândia. Actualmente, o porto ainda está muito activo, com 700 navios por ano.
O Parque Myhrberg e a rua Rantakatu (rua da Beira-Mar), com museus e cafés.
Huvimylly, uma sala de cinema sui-generis. Chamaram-lhe 'Huvimylly' (= fábrica de divertimentos) pelos bons momentos que lá se passam.
Rantakatu 7
A luz do anoitecer em Rantakatu:
Raahen Merimuseo
O Museu Marítimo (Merimuseo) foi fundado em 1862 na antiga Alfândega portuária de 1848; exibe o mais antigo fato de mergulho do mundo, 'O velho senhor', em couro, do séc. XVIII.
O Raahen Merimuseo é também o mais antigo museu de História Cultural na Finlândia.
Uma das salas reconstitui o ambiente de uma igreja nórdica medieval, com objectos vários recolhidos após incêndios que as destruiram:
A casa Sovelius
Actualmente é a casa mais antiga em Raahe, do século XVIII.
A casa Sovelius é uma residência típica de um rico armador e mercador marítimo, construída em 1780.
No andar de cima, uma sala de visitas restaurada da década de 1890, um oásis de plantas, mobíliario, louças, cortinados e tapetes.
Raahe sob neve
Rua da Beira-Mar coberta de neve
Rantakatu, por trás do museu.
Casa Sovelius
Café Ruiskuhuone
Galeria Asemamestari (estação)
O campus escolar.
Kirkkokatu
A torre sineira, a praça Pekkatori, a estátua de Per Brahe - o melhor do património finlandês no longínquo Norte europeu.
Natal em Raahe
Raahe vive intensamente o Natal. Além da feira, vendas e fogueiras, há um concurso de decoração de janelas.
A janela do Teatro
Despedida nocturna
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Ah, a minha nostalgia do Norte !
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