quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Milagre, precisa-se agora, caro Walt Whitman

Milagres

Ora bem, quem dá tudo por um milagre?
Por mim, não conheço senão milagres,
quer caminhe pelas ruas de Manhattan,
quer levante a vista sobre os telhados em direcção ao céu,
ou vá de pés nus ao longo da praia pela orla da água,
ou me abrigue sob as árvores nos bosques,
ou fale durante o dia com uma pessoa que amo,
ou durma na cama à noite com uma pessoa que amo,
ou me sente à mesa para jantar com os outros,
ou olhe os desconhecidos à minha frente na carruagem,
ou veja as abelhas em volta da colmeia no fim de uma manhã de Verão,
ou animais pastando nos campos,
ou pássaros ou a maravilha dos insectos no ar,
ou a maravilha do sol-pôr, ou das estrelas que cintilam tão quietas e brilhantes,
ou o requintado, delicado, fino contorno da lua nova na Primavera,
estes e outros, um e todos, são para mim milagres,
um todo referente, ainda que cada um distinto e no seu lugar.

Para mim cada hora da luz e das trevas é um milagre,
Cada polegada cúbica de espaço é um milagre,
Cada metro quadrado da superfície da Terra se estende em milagres,
Cada jarda do seu interior está apinhada do mesmo.

Para mim o mar é um milagre contínuo:
Os peixes nadando - as rochas - o fluir das ondas -  os navios com homens dentro,
Que milagres existem mais estranhos?


                                                                   Walt Whitman, in "Leaves of Grass"


 

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