quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Jäätee, a estrada de gelo para Hiiumaa + texto de Nancy Campbell


Já aqui referi o livro Fifty Words for Snow de Nancy Campbell. É dele que agora publico um dos textos, que traduzi, sob o título Jäätee, que significa 'estrada de gelo' em estoniano. Será este o meu post de Natal.


Historicamente a Estónia, depois da era Viking,  e desde o início da Liga Hanseática, esteve ocupada pela Dinamarca, Suécia, Polónia, Alemanha e finalmente Rússia; todo este tempo ameaçada, dividida, combatendo sempre pela independência, que só teve no intervalo entre 1918 e 1940 e agora desde 1988, até custa a acreditar que tenha conseguido manter a sua própria língua e identidade nacional. E um elevado nível de cultura musical !

A Estónia é agora um dos pequenos países da União Europeia, com uma forte identidade Báltica; é prejudicada pela geografia do seu parco terrritório, em parte constituído por ilhas - mais de 800. Se juntarmos 1500 lagos, que terra firme sobra? Por outro lado, são ilhas e lagos, com as florestas que os rodeiam, que constituem a natureza mais preciosa do país. Hiiumaa e Saaremaa (desta já aqui falei) são as duas maiores ilhas, e é indispensável que estejam interligadas entre si e com o continente. No Inverno, esta zona do Báltico congela numa larga placa, cuja espessura costuma permitir o trânsito de veículos; é este percurso sobre o gelo que recebeu o nome de Jäätee - a língua estoniana é parente próximo do finlandês.




Traduzo então Nancy Campbell:

"No Inverno, surgem estradas sobre a superfície gelada dos mares, lagos e rios da Estónia. Nestas rodovias, não há nada senão brancura até ao longínquo horizonte, talvez uma faixa escura de coníferas no espelho retrovisor, e um silêncio absoluto. Isto contribui para uma bizarra experiência de condução na estrada que se prolonga por 26 km desde o porto de Rohukula no continente através do Mar Báltico até à ilha de Hiiumaa. 



Nesta que é a mais longa Jäätee da Europa há algumas marcações para cumprir. Um carro tem de seguir a faixa de gelo marcada por veículos anteriores, passando um eventual sinal de trânsito, ou guiar-se por grandes ramos de zimbro, 'plantados' de pé como se fossem árvores a crescer da neve por magia, que indicam os limites seguros da estrada. 



Durante a viagem, que pode levar pelo menos uma hora, os viajantes disfrutam uma visão cinemática a desenrolar-se no pára-brisas, e podem ter a sensação que estão a atravessar a fronteira do mundo.  Recomenda-se uma boa banda sonora.


É tanto um alívio como uma contrariedade que a linha de costa de Hiiumaa apareça, uma ténue sombra ao longe. O contemplativo céu e a prateada finura da Jäätee são em breve substituídos por asfalto coberto de sal e rotundas sob geada granulada, e toda a infraestrutura atrapalhada de portagens, barracões, lampiões e postes telegráficos.



As estradas de gelo só abrem durante as horas de luz do dia, e mesmo então os flocos de neve podem prejudicar a visibilidade. Esta estrada é um atalho, em linha recta, mas nunca deve ser percorrida à pressa nem a vaguear em sonho. As velocidades devem manter-se entre 25 e 40 km/h - o limite inferior é importante. Não é permitido parar. É uma precaução contra variações súbitas no ritmo de andamento, que podem originar uma onda sobre o gelo; se essa onda se for acumulando, pode ter força para quebrar a placa. ( ...)"

                                                          Nancy Campbell, Fifty Words for Snow
                                                          [tradução minha]



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Ilha plana, Hiiumaa nada tem de notável a não ser talvez um conjunto de antigos moínhos de vento como já não se vêem noutras paragens.




Na principal povoação Kärdla há um museu !

À entrada, o antigo posto dos bombeiros, agora Turismo.

Rua no Inverno

Pikk Maja, a Casa Longa, um museu dedicado à ilha.

E finalmente um sítio quentinho! A cafetaria do museu. Sem máscara, bons tempos, ainda nos vamos esquecer.


Que longo Inverno este. Que estejamos vacinados na Primavera, é o meu desejo para 2021.



2 comentários:

SilverTree disse...

E pensar que os meus planos para o Verão de 2021 passavam por Tallinn. Pelo andar da carruagem, nem em 2022 consigo finalmente sair daqui. Enfim, enquanto estou refém cá dentro, é bom passear com os seus posts.

Mário R. Gonçalves disse...

A carruagem descarrila de cem em cem metros, a via é má e os maquinistas também. Tenciono sair daqui no Verão de 2021, mas para perto, avião nunca. Os posts do Silvertree também são um consolo para a alma, mesmo quando melancólicos.