domingo, 26 de março de 2023

Lower Voe nas Ilhas Shetland, 'small and beautiful"


Sítio minúsculo mas com carácter.

Há tempos publiquei aqui um artigo sobre Whalsay e o seu pequeno posto da Liga Hanseática nas Ilhas Shetland. Na ilha maior, frente a Whalsay para oeste, fica um sítio fulcral do arquipélago - Voe, no Olnafirth (fiorde de Olna), que quase não se distingue dos portinhos da Noruega no Mar do Norte. Tem sido uma tendência a procura de sítios remotos e pacíficos por gente que foge das cidades; Lower Voe é um deles, um retiro para se viver devagar, e não fica tão longe nem é tão frio como a Noruega ou a Gronelândia.


Nem sequer uma aldeia é, só um sítio, com restaurante, marina e molhe. Liga-se por estradas a norte (Brae), noroeste (Mossbank), leste (Vidlin) e sul, à capital Lerwick; o ferry mais próximo, em Laxo, fica a 5 minutos de estrada. A povoação resume-se a umas poucas casas junto à marina no fiorde Olnafirth, num conjunto inegavelmente pitoresco.


O casario junto ao molhe.

Lower Voe não é muito recente; junto ao Olnafirth, as ruínas de uma igreja do século XVIII (1714) provam uma ocupação de três séculos, no mínimo, que deve ter começado com o negócio das baleias: à entrada do fiorde houve uma estação baleeira.


Barco de pesca de Voe

O 'centro' de Lower Voe fica à volta do molhe, que se projecta na margem sul do fiorde. Depois do arenque e da baleia, a pequena comunidade dedica-se agora à cultura do mexilhão. Várias plataformas em corda ao longo das águas frias do fiorde garantem a qualidade da colheita.


O perfil da povoação retém uma forte aparência Escandinava. Um dos terminais do molhe é ocupado por instalações da aquacultura, outro pelo böd, alojamento rudimentar para pescadores agora convertido ao uso por campistas de passagem, pintado de vermelho como os rorbu noruegueses.

Fishing böd

Olnafirth Sea Farm (granja dos mexilhões) e Skeo - sede da empresa de seca e cura de pescado -, no molhe.

Camping böd, alojamento

Do outro lado da estrada fica o Pierhead Restaurant e o Bar anexo.


Lugar obrigatório para viajantes e passeantes de fim de semana.



Outra instituição local é a Da Voe Bakery, a padaria. Com mais de 100 anos, é uma relíquia preciosa da 1ª Grande Guerra, pois abriu para servir a Marinha estacionada no fiorde.


Pão, bolos, biscoitos, empadas, scones...


Na estrada à saída para norte, há uma casita recuperada, vermelha de cerca branca - 'The Picking Shed'; é o melhor alojamento de Lower Voe.


Mais acima, entre um arvoredo, fica a mais aristocrática Voe House, da década de 1700, a casa mais apalaçada do fiorde.



As ruínas de Olnafirth Church, ou St. Olaf´s church, têm aquela melancólica beleza de um testemunho marcante - mas de que pouco se sabe - a surgir na vastidão de um prado e a olhar para o vazio das águas. História incógnIta, na solidão do presente.


Foi dedicada a St.º Olavo, em 1714.




Um pequeno St. Olav alado, em pedra sobre um pedestal,é uma adição moderna.

 Vista aérea das ruínas.


Que seria viver num sítio assim o resto da vida? A olhar para prados verdes, um golfo de águas calmas recortado de penínsulas e baías, ruínas em pedra, pão quente ... que programa. Ah, e dar passeios de barco sobre o espelho azul.
 

Lower Voe é insignificante, é. Quando, como agora, a vida está demasiado repleta de significados, de tragédias e receios, de mudanças e surpresas, talvez a insignificância seja repousante. Pelo menos.


Mais:
(vídeo sobre as ruínas da Igreja)

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