domingo, 23 de abril de 2023

Cartoceto, uma vila entre os olivais de Le Marche



Ainda os olivais da prosperidade.

A estonteante riqueza patrimonial de Itália revela-se também em milhares  de aldeias e vilas históricas por todo o território, umas em escarpa litoral ou interior, outras nas planícies férteis ou em torno dos lagos. Na região Le Marche, Cartoceto é uma delas, com menos de 8 000 habitantes, pouco promovida fora de Itália, a não ser talvez pelo requintado azeite que produz. Situada em cascata numa encosta, domina um território de olivais cultivados desde 1178, que é tido como um dos melhores do país. Entre os Apeninos e o Adriático, fica perto (~20 km a sul) de Pesaro, possível capital da cultura em 2024, e sim, é uma 'pérola', passe o lugar comum.


O borgo de Cartoceto tem origens antigas, é referido numa inscrição em lápide romana de 79 A.C. como tendo sido fundado por refugiados da batalha do Metauro (2ªs Guerras Púnicas, 207 AC) ; no século XII estava fortificada, tinha castelo e muralhas, que foram arruinadas por um terramoto em 1572.


No topo, à esquerda, Stª Maria delle Grazzie e a sua escadaria arborizada; em baixo, à direita, o Duomo com a torre do relógio, o Palácio e o que resta do castelo.

O centro e os telhados em cascata


Cartoceto vive em torno do centro histórico, a Piazza Garibaldi, que era a antiga praça do Mercado. A Norte, é fechada pelo Palazzo del Popolo, de finais do séc. XIV, no sítio onde estava acesso ao castelo medieval. 

 
Praça vista do cafe bar Nana

A torre do relógio vê-se a uma grande distância, na planura das Marche.

Um conjunto arquitectónico surpreendente de harmonia e multiplicidade.

A Via Cavour é uma longa escadaria até ao topo da aldeia.

Que riqueza de planos de vista.

Telhados de Cartoceto

A escadaria passa no Palazzo Tonelli, uma bela moradia da primeira metade do seculo XVIII. 


Portão: T de Tonelli

Prossigamos a visita, saindo da Praça pelo norte, sob uma arcada onde antes existia a ponte levadiça de acesso ao castelo.



Passando sob os arcos, entramos na Via Marcolini onde está o palácio do mesmo nome, que é Biblioteca Comunal:

Via Marcolini


O palácio era uma residencia oitocentista, agora é sede comunal e Biblioteca Pública " Afra Ciscato ". 

Para lá do Palazzo Marcolini vê-se um trecho da antiga muralha.


Via Roma: outra escadaria para o topo, aqui durante as festas de Setembro.

Casa com terraço, séc. XIII-XIV, na Via G. Verdi

Seguimos sempre a subir, vielas e escadarias encosta acima, pela Via Roma, até Igreja de Madonna delle Grazie de uma lado, a Piazzale Marcolini de outro - um terraço panorâmico onde fica o incrível Teatro dal Trionfo. 

Vistas da Piazza Marcolini , frente ao teatro, sobre os olivais.


O Teatro del Trionfo, da primeira metade do século XVIII , veio substituir um lagar de azeite. Desde 1730-31 que a ópera tem lugar neste Teatro, sobretudo comédias durante o Carnaval. A estrutura actual vem de 1801. 


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O teatro tem a época alta no periodo das festas da cidade, em Junho. Teatro, dança, muitos concertos de música popular, jazz e clássica, e até ópera.

Durante o festival de Cartoceto.


A sala vazia durante obras de restauro:

Voltando ao centro, se saírmos da Piazza Garibaldi pelo outro extremo, ou ainda melhor subindo a escadaria a que se chama Via Cavour, chegamos ao alto na Piazzale della Rocca, e à Igreja colegiata de Madonna delle Grazie.

A magnífica escadaria da Via Cavour, por altura das festas.

Igreja neoclássica do séc XVIII, bastante rica de mármores; o actual edifício passou por uma remodelação em 1835.


Uma das capelas

O fresco que dá o nome à igreja (autor desconhecido)

O órgão, de 1805


Em Novembro é na Piazza Garibaldi que se festeja a produção local de azeite DOP, com um mercado, música e muita gente - é um acontecimento regional que traz visitantes ds arredores para celebrar a produção do ano.


L'oro delle marche, o ouro d' As Marcas.




E tudo acaba, por exemplo, na afamada Osteria del Cardinale:



E a riqueza é esta: em redor, a perder de vista cobrindo colinas e vales, os olivais.




Descobri Cartoceto após ter acabado a leitura de um relato de viagem e de luto muito bem escrito, 'Grove', de Esther Kinsky, sobre Olevano e Palestrina.

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