domingo, 6 de agosto de 2023

'Dear Life', a poesia de Maya Catherine Popa


Maya Catherine Popa (n. 1989) é uma escritora, académica e escritora Romeno-Americana, filha de refugiados políticos, que vive em Nova Iorque. Na sua poesia exprime perspectivas inesperadas e bastante desesperadas sobre o mundo, com uma acutilância rara, onde alguma alegria periclitante consegue ainda sobreviver.

Dear Life
Maya Catherine Popa

I can’t undo all I have done unto myself,
what I have let an appetite for love do to me.

I have wanted all the world, its beauties
and its injuries; some days,
I think that is punishment enough.

Often, I received more than I’d asked,

which is how this works—you fish in open water
ready to be wounded on what you reel in.

Throwing it back was a nightmare.
Throwing it back and seeing my own face

as it disappeared into the dark water.

Catching my tongue suddenly on metal,
spitting the hook into my open palm.

Dear life: I feel that hook today most keenly.

Would you loosen the line—you’ll listen

if I ask you,

if you are the sort of  life I think you are.


Vida querida

Não posso desfazer tudo o que a mim própria fiz,
o que deixei que um apetite de amor me fizesse.

Eu quis o mundo todo, suas maravilhas
e suas mazelas; nalguns dias
penso que já é castigo suficiente.

Muitas vezes, recebi mais do que pedi,

e é assim que isto funciona - pescamos em mar aberto
prontos a ser feridos por aquilo que vem na linha.

Deitá-lo fora de volta era um pesadelo.
Deitá-lo fora de volta e ver o meu próprio rosto

enquanto desaparecia na água escura.

Fisgar de repente a minha língua no metal,
cuspindo o anzol na palma aberta da minha mão.

Vida querida: hoje sinto esse anzol mais intensamente.

Afrouxarias a linha? – ouvirás tu

se eu perguntar,

se és o tipo de vida que eu acho que és?


- ∞ - ∞ - - ∞ - ∞ - - ∞ - ∞ - - ∞ - ∞ - ∞ -

Maya Popa já publicou várias edições dos seus poemas.

São poemas amargos, onde qualquer vislumbre mais feliz é logo desmentido em palavras de desencanto por vezes violentas, no mínimo num desalento conformado. Há sem dúvida pontos de contacto com a poesia de Emily Dickinson.

 
Milton Visits Galileo in Florence

Hard to say if what they saw
was geometry or God, galaxies roiling
wordlessly each night, a summary of light
painted fresh across the firmament.
Ink bringing daybreak into Eden, the angels,
listless in their graces, latent good
pooling with nothing to war over.
A jug of water on the table between them
like an artifact of loneliness, the telescope’s
moons on Satan’s shield—it was, after all,
a human friendship, full of mortality’s tokens.
Both went blind in their old age.
Begin again in darkness, life says sometimes.
Picture the trees burning in autumn,
the earth’s relief, at last, at being fallen.


É difícil dizer se o que eles viram
era geometria ou Deus, galáxias em torvelinho
caladamente cada noite, um condensado de luz
pintado fresco em todo o firmamento.
Tinta trazendo a alvorada ao Éden, os anjos,
inertes nas suas graças, bondade latente
reunida sem nada para guerrear.
Um jarro de água na mesa entre eles
como um artefato de solidão, no telescópio
as luas do escudo de Satanás - era, afinal,
uma amizade humana, cheia de símbolos da mortalidade.
Ambos ficaram cegos na velhice.
Começa de novo na escuridão, diz-nos às vezes a vida.
Imagina as árvores queimadas no outono,
o alívio da terra, finalmente, ao ir-se declinando.

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M40

The wind moves the leaves
in multiple directions
like a mind caught between alternatives.

Bright arrows of sunlight
between lashes, the branches
cleared revealing nests.

One day, this grief
will seal from feeling,
a cool politeness round a thin raised scar.

The crows are hard at work again,
driving their beaks
into frozen fields.

What does it matter, you think.
Matter! Matter! they reply.


O vento move as folhas
em várias direcções
como uma mente presa entre alternativas.

Setas brilhantes de luz solar
entre os cílios, os ramos
despidos revelam ninhos.

Um dia, esta dor
selará o sentimento,
uma polidez morna à volta de uma cicatriz fina e rugosa.

Os corvos de novo em força a trabalhar,
espetando os seus bicos
em campos congelados.

Quero lá saber, pensas tu.
Quero! Quero! eles respondem.

 


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[todas as traduções minhas]

1 comentário:

Virginia disse...

Parabens pelas traducoes dos poemas. Muito interessante.