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domingo, 30 de março de 2025

Tributo a Kharkiv - Obras Primas no Museu de Arte

Já dediquei um post à bela cidade de Kharkiv, que continuadamente tem sido atingida por mísseis e drones russos, com destruição de importante património e vítimas civis. É bem possível que os agressores russos não desistam de reaver a cidade. pela sua dimensão, importância estratégica e riqueza cultural; mas os habitantes ucranianos mantêm-se firmes, não desistem da cidade de que se orgulham. Além da elegância arquitectónica, tem a Universidade e muitos espaços de lazer - jardins, praia fluvial, teatros, museus e, claro, cafés. 

Hoje venho reforçar a demonstração da valia do Museu de Arte de Kharkiv, qie além de janelas com os vidros partidos e alguns destroços projectado no interior não sofreu grandes danos, até ver. Todas as janelas estão agora fortemente entaipadas.


O edifício de 1914 deve-se ao arquitecto Alexei Beketov, como muitos outros na cidade. Além da fachada, é notável a escadaria principal iluminada pelas cores do grande janelão de vitral.




Começo pela Sala dos Ícones :

Ícone "Anunciação", de Fedusko Malyar (Ivanychi),1579

Fedusko Malyar de Sambor (ou Sambir) foi um frade pintor do século XVI na região de Volyn, no noroeste da Ucrânia. 

Detalhe

Ícone "Portas Reais", região de Volyn, autor desconhcido

À esquerda o ícone "Trindade", à direita um díptico de Portas Reais


O ícone Trindade, do séc XVII, é proveniente de uma aldeia de Poltava; ilustra a narrativa bíblica da visita de três Anjos ao casal Abraão e Sara; mas em vez de se situar na tenda  junto ao carvalho Mamvri. vê-se um palácio Cossaco de arquitectura barroca. Detalhe engraçado é a porta semi-aberta por onda Sara espreita, à escuta da conversa. Abraão saúda os visitantes e convida-os a disfrutar de uma mesa generosamente fornecida; os Anjos mais parecem jovens ucranianos. Tudo em cores vívidas de vermelho, verde, azul e rosa, sobre um fundo gravado em folha de ouro ricamente decorado com motivos florais e frutos.


Ícone 'Hodegétria', de Volyn, Ucrânia

Saíndo para a pintura europeia, temos Jan van Scorel, pintor flamengo (1495 –1562).

O apóstolo Filipe baptiza um nobre da Etiópia.

Detalhe:

Há no museu alguns desenhos de Albrecht Dürer:

Um milagre no mar (1498), cinzelado em cobre. 

Os mitos fantásticos sobre criaturas marinhas como as sereias estavam em voga.


Da arte europeia clássica, uma pequena escultura (cópia) de Antoine Coysevox (1640-1720) é uma das peças mais antigas. Coysevox foi um artista de Versalhes que trabalhou para Louis XIV.


'Nymphe de la forêt', de Coysevox.



Sylvester Shchedrin (1791-1830)

Esta é uma das obras mais admiradas no museu. 

Noite em Nápoles, 1828

Shchedrinn viveu muitos anos em Itália, onde aderiu à corrente de pintura paisagística. Neste quadro vê-se o Vesúvio e Castel del Ovo, a frente marítima de Santa Lucia e a Riviera di Chiaia - e a vida nocturna dos pescadores de Nápoles.

Ferdinand de Braekeleer (1792-1883) é outro pintor flamengo, este de Antuérpia, bastante aclamado no seu tempo e premiadado no Salão de Bruxelas. Além de pintar, restaurou obras de Rubens.

Na cozinha, de Ferdinand de Braekeler

Viktor Vasnetsov , nascido em Kiev (1884-1889)

Sessão de chá em Harchev, 1874


Mikhailo Berkos (1861-1919) foi um pintor de origem grega, nascido em Odessa, cuja vida artística foi em grande parte passada em Kharkiv.

Rua em Uman, de 1895 (Uman é uma cidade do centro da Ucrânia).

Serhiy Ivanovich Vasilkivskyi (1854-1917) - em russo Sergei Vasilkovsky - é talvez o mais amado dos artistas ucranianos com obras no museu. Nasceu em Izium, perto de Kharkiv, uma cidade massacrada e reduzida a escombros pelos russos em 2023. Viveu ainda antes da revolução soviética, numa altura em que a Ucrânia fazia parte do Império Czarista.

Vizinhanças

A sua primeira grande exposição, cento e vinte obras, teve lugar em Kharkiv em 1900. Muitos dos quadros de Vasilkivskyi mais apreciados representam cenas de aldeias rurais.

Étude do Mar, Veneza

Talvez o quadro mais acarinhado do Museu seja esta aguarela de Vasilkivskyi , que tinha desaparecido roubada e só há poucos anos foi recuperada:



Marie Bashkirtseff  (1858 - 1884) nasceu na martirizada Poltava; emergiu na Europa das artes na década 1880, tem uma obra no Louvre, foi admirada por Bernard Shaw, escreveu um diário famoso que retrata a vida de uma mulher da época... Estudou e trabalhou em Paris, onde morreu aos 25 anos.

Com um livro

Ivan Frantsevich ou Jan Franziewicz (1858-1913), polaco, tem uma única obra no museu, mas é excepcional:

Rosa de Chá, 1905 

Ladislav Trakal 1853-1951 nasceu na antiga Checoslováquia.  Estudou em Praga e em 1897 instalou-se em Kharkiv. Entre Odessa e S Petersburgo, afirmou-se como artista na Rússia Czarista. Em 1920 foi expatriado para Praga, mas lutou sempre pelo regresso a Kharkiv. Ainda conseguiu uns anos na Crimeia, mas a invasão nazi alemã terminou a sua carreira.

Parque da Universidade , Kharkiv, - 1906

Iliya Repin Repin (1844-1930) é talvez o maior pintor Ucraniano, usualmente identificado como russo, embora se tenha refugiado na Finlândia após a revolução bolchevique; tem dois ou três quadros no museu, mas não gosto.

Seja como for, grande museu. Que parem as bombas.














quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Uma galeria possível de Arte Ucraniana


Nos Museus onde entrou, o exército russo fez como outrora o alemão - rapinou tudo a que conseguiu deitar mão. Não haverá grandes obras de génio universal, mas quadros de grande beleza de artistas nascidos na Ucrânia e pouco conhecidos mesmo na Europa.

Agora que em Madrid se exibe uma colecção de obras retiradas desse país para seu resguardo, publico de entre os que consegui ver na Net aqueles que mais apreciei. Quase todos se apreciam melhor clicando para ampliar.

Volodymir Chernikov (1918 - 1992)

Nasceu em Luhansk, zona das mais conflituosas entre as nacionalidades fronteiriças. 

Inverno

Flor no parapeito de uma janela

Maria Bashkirtseva (1858-1954) nasceu em Havrontsi, a oeste de Karkhiv, na Poltava, região martirizada sob as bombas.

Com um livro, 1882 - museu de Karkhiv

A maioria das suas obras está em Nice, onde viveu e fez carreira,

O encontro, a sua obra mais conhecida - Museu d'Órsay

Oleksandr Murashko (1875-1919) , de Kyiv

Inverno

Pintor modernista, aluno de Repin e professor de Arte em Kyiv.

Rapariga de chapéu vermelho

Andriy Shumskiy, pintor contemporâneo de Lutsk, vive em Lviv.

Barcos de pescadores


Anatoliy Zhezher ( 1937 - 2020), nascido numa aldeia perto de Dnipro.

Crianças no mar

Um bando de grous atravessa o céu.

Raminhos de viburno

Serhii Vasylkivsky , de Izium

Primavera

Pôr do sol, Museu de Kharkiv

Mas nem só a arte nacional tem lugar nos museus ucranianos; por exemplo, no Museu Arqueológico de Odessa há uma colecção de peças romanas e mesmo anteriores - a cultura nómada Cita, de origem persa, viveu na região desde o 2º milénio e o século III AC.

Taça dourada Cita, 2º milénio A.C., Museu de Odessa


Ceramente há muito mais, só quis exibir uma pequena amostra. Não é um país sem História e muito menos sem Arte, a valente Ucrânia.

quarta-feira, 2 de março de 2022

Uzhgorod (У́жгород), bela Ucraniana

Homenagem à Ucrânia, muito modesta mas à minha maneira.

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Além de duas etnias, de língua russa e ucraniana, existem três culturas na Ucrânia: uma de herança bizantina e Austro-Húngara e profundamente europeia, que podemos centrar em Lviv e vai até cerca de Vinnitsya, deixando Chernobyl, Kiev e Odesssa de fora; outra centrada em Kiev e herdeira do Rus' (Ruténia), portanto misto de escandinava (varegues ou varangianos) e eslava, mais arreigadamente nacionalista ucraniana; e a faixa cossaco-russa de leste, que nem sequer se sente europeia, são na maioria eslavos orientais, dos quais uma minoria de saudosos do império russo e sobretudo soviético. É a estes que Putin quer *salvar", mas não consta que a Amnistia Internacional tenha detectado "racismo" e muito  menos "nazis", termo que Putin usa em vez de "anti-russos". 

Mas não não é por esta heterogeneidade que a Ucrânia será um país inviável; muitos outros têm história mais complexa e mistura de etnias e culturas, sendo a própria Rússia um exemplo disso, muito menos 'nação' que a Ucrânia, povoada de etnias ao longo da Sibéria que aliás foram sempre muito mal tratadas.

Agora vou dar mais relevo à Ucrânia de raiz europeia, visitando Uzhgorod (ou Uzhhorod), uma cidadezita no extremo ocidental vizinha da Eslováquia. Fica no ro Uzh, e a ponte pedonal que atravessa o rio liga os dois lados da cidade histórica.

Uzhgorod

Com 120 000 habitantes, é uma cidade pacata, pedonal, agradável, com fama de muito florida de cerejeiras e magnólias, e algum património histórico e cultural que vou mostrar.

Duas ruas principais atraem que visita a cidade: Korzo (como o Corso em Itália) e Voloshyna.

Vulytsya (rua) Korzo, cruzamento com a Vul. Voloshyna.

Largos passeios, rua florida.



Cafe Fabbrica Drugetti

Na esquina, com vista para a igreja de S. Jorge

Alguma boa arquitectura.

Sobre os telhados da Voloshyna, as torres de Uzhgorod.

A Igreja jesuíta dedicada a S. Jorge, neo-barroco do século XVIII.

Rua Voloshyna.

Na esquina das rua Korzo com a Voloshyna há uma homenagem ao Tio Koli, o homem que durante 40 anos percorria a cidade ao fim do dia para acender as lanternas. 

Tio Koli, obra de Mikhail Kolodko

Um dos edifícios mais estranhos é a antiga sinagoga ortodoxa, em estilo mourisco. Foi adaptada a sala de concertos para a Filarmonia local. Sim, Uzhgorod tem uma orquestra: a Filarmónica Regional da Transcarpátia.

Aqui em Maio, quando Uzhgorod está florido.






Igrejas há, como é de prever, muitas, mas não valem a visita. A Catedral é esta Igreja-Mosteiro grega da Santa Cruz, gigantesca e feia como Mafra:




A ponte e as ruas centrais de Uzhgorod têm vindo a ser decoradas com mini-esculturas do escultor Mikhailo Kolodko (n. 1978): são caricaturas de figuras históricas ou de símbolos culturais, como por exemplo, na ponte pedonal, esta "Liberdade":



Ou este Liszt:


A cidade é dominada pelo inevitável castelo, uma cidadela-fortaleza sobre o rio Uzh.




Foi entre 1322 e 1691 a residência da família italiana Drugeti, que construiu o palácio à maneira renascentista.


Os Drugeth (ou Drugetov) vieram da Apúlia para a Hungria no século XIV, e graças a serviços prestados receberam da coroa vastos domínios em Horiany.


Um dos mais procurados e conhecidos cafés de Uzhgorod é o Café Pid Zamkom, "Sob o Castelo", na rua Ol'brakhta. Além de ocupar uma casa que foi moínho, reúne uma colecção impressionante de velharias que decoram profusamente o espaço, desde alambiques a máquinas de filmar e salamandras.

Imperdível.


Máquina "expresso" vintage.

Lipova Aleja

Antes de sair do centro, um dos sítios mais agradáveis de Uzhgorod: a Avenida das Tílias (Lipova Aleja), ao longo das margens do rio Uzh. Dizem que é o mais longo túnel de árvores da Europa, e está (estava?) muito bem cuidado, como uma preciosidade.


A Lipova Aleja estende-se por mais de 2 Km nas margens do Uzh, e foi criada em 1928, quando o território pertencia à Checoslováquia.  Centenas de tílias de diferentes variedades, e agora também cerejeiras Sakura, oferecem desde Maio um espectáculo de intenso colorido. 




Esta Ucrânia é verdadeiramente uma Europa de que gosto ! Ruas pedonais, cafés, castelo, parque ao longo do rio... Mas melhor ainda:



A Igreja medieval de Santa Ana em Horiany (ou Goryanska)


A ábside "redonda" é de facto hexagonal, como é evidente no interior.

Esta sim, é a maior riqueza patrimonial de Uzhgorod. Trata-se de um pequeno templo gótico de uma só nave e ábside em ''rotunda', cuja datação tem sido muito polémica - será entre o século X e o século XIII, com maior probabilidade do séc. XI. É um templo único em toda a região da Trans-Carpátia, num lugar onde talvez houvesse um castelo.


Durante trabalhos de restauro no século XIX foram descobertos frescos murais do início do Renascimento, próximos do estilo da escola de Giotto  - foram datados entre o século XIII e XIV. Mais uma influência italiana devida à presença da família Drugeti.




Pronto, não vou prolongar mais esta visita, mas ainda havia um Museu regional trans-cárpato, uma Igreja barroca em madeira de S. Miguel, a Galeria Gorchichnoye Zerno ("Grão de Mostarda"), o Jardim Botânico...

Termino com o passeio das cerejeiras, um vídeo...



e música: 
Agnesa Bachinsky (flauta), Ekaterina Gajo (piano) e Diana Havata (cello), Haydn - Trio Hob. XV 
na sala da ex-Sinagoga de Uzhgorod 

Salvé, Ucrânia !