quarta-feira, 29 de abril de 2009

PERDIDO ?

Isto do aquecimento global parece mesmo que nos precipita numa tragédia (anunciada) dentro de poucos anos. No Ártico ( Alasca, Canadá, Gronelândia, Svalbard, norte da Rússia) anuncia-se cada dia mais uma calamidade, com glaciares em recuo, fusão da calote de gelo, migração e perigo de extinção de espécies, primaveras precoces (15 dias mais cedo !) , caçadores inuits a afundar-se em zonas dantes seguras, ilhas novas a surgirem a descoberto...
Uma das piores consequências é a abertura da rota do Ártico para cargueiros e petroleiros e sabe-se lá que mais - já se fala em pesquisa de petróleo - entre o Atlântico norte e Mar de Bering, ligando ao Pacífico.

Já houve zonas onde os inuits tiveram que abrir poços para buscar água, tal era a falta de neve para degelo!
Parece que o Ártico aquece a uma velocidade duas vezes mais rápida que a média global.
Link:

Foi há pouco lançada uma campanha dupla - 100 meses e 99 medidas para evitar a catástrofe global. Desde a gestão da água em casa, à produção, distribuição e consumo de alimentos, passando por roupas, férias, electricidade doméstica - das 99 pode ser que cada um cumpra 33, não era mau !

Links:


Ciclo Árvores e Poesia - XI


Trees are sanctuaries. Whoever knows how to speak to them, whoever knows how to listen to them, can learn the truth. They do not preach learning and precepts, they preach undeterred by particulars, the ancient law of life.

Hermann Hesse, Wandering

terça-feira, 28 de abril de 2009

Astronomia 09 - exposição na rua


Do blog "De Rerum Natura":

Durante todo o ano, nas paragens de autocarros, nos jardins, museus, centros comerciais, nas estações de metro ou nos parques públicos, a beleza do Universo mostra-se de Norte a Sul de Portugal.

A organização portuguesa do Astronomia 09 seleccionou um conjunto de 10 imagens astronómicas de grandes dimensões, captadas por telescópios em terra ou no espaço.


Serão expostas em MUPIS , expositores de rua da JC Decaux já bem conhecidos.
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A colecção dos cartazes pode ver-se em

http://www.astronomia2009.org/documentos/Mupis-Abrigo.pdf

segunda-feira, 27 de abril de 2009

domingo, 26 de abril de 2009

Lenga-lengas da infância

Entretive-me recentemente a recolher algumas das cantilenas da minha infância, às quais associo memórias de sítios e pessoas, de verões , jardins e família... Suponho que algumas ainda se usam nos jardins de infância.
É curioso que ainda as acho bonitas. Não sei se se passa com a maioria das línguas, mas o português presta-se muito a estes jogos de sons , ritmos e palavras. Só transcrevo algumas - por recordação minha ou dos meus próximos. Mais alguém quer colaborar ?

O gato maltês
Era uma vez
Um gato maltês
Tocava piano
E falava francês
Queres que te conte outra vez?

Nove vezes nove, oitenta e um
Nove vezes nove, oitenta e um
Sete macacos e tu és um

Pim, pam, pum
Pim, pam, pum
Cada bola mata um
Da galinha p’ró perú
Quem se livra és tu!

O Preto
Truz, truz!
Quem é?
É o preto que quer café
Quanto custa? - Um tostão
Vá-se embora seu ladrão

Tempo
O tempo perguntou ao tempo
Quanto tempo, o tempo tem
O tempo respondeu ao tempo
Que o tempo tem tanto tempo
Quanto o tempo o tempo tem

Cai neve, cai neve
Cai neve, cai neve
Cai neve no jardim
Branquinha cobre o chão e então
Tudo é branquinho assim.

Atirei o pau ao gato
Atirei o pau ao gato to to
Mas o gato to to
Não morreu eu eu
Dona Chica ca ca
Desmaiou ou ou
Com o miau com o miau
Que o gato deu :
Miau !

Tão, baladão,
Tão, baladão,
Cabeça de cão.
Orelhas de gato,
não tem coração.

Lá vai uma, lá vão duas
Lá vai uma, lá vão duas,
Três pombinhas a voar
Uma é minha, outra é tua
Outra é de quem a apanhar.

Sarapico, pico, pico
Sarapico, pico, pico
Quem te deu tamanho bico
Foi a Gata Borralheira
Que come ovos com manteiga.

Os cavalos a correr
Os cavalos a correr,
As meninas a aprender.
Qual será a mais bonita
Que se vai esconder?

Mão morta, mão morta
Mão morta, mão morta
Vai bater aquela porta.

Um barquinho pequenino
Era uma vez um barquinho pequenino
 Que andava sempre sempre a navegar
 Passaram-se uma, duas, três semanas
   E o barquinho sempre, sempre a navegar

sábado, 25 de abril de 2009

Julia Fischer - a revelação

Muito se vem falando desta jovem violinista. O que mais impressiona à primeira audição é a imensa sobriedade e contenção , que traz ganhos na fluência e coerência interpretativa- não é nenhuma "estrela" exibicionista tipo Mutter, Vengerov ou Mullova.

A 25 de Abril, liberdade é também ouvir o que se quer...


Julia Fischer plays Paganini's 16th caprice





Julia Fischer plays Mozart Concerto KV 218 -2'movement


sexta-feira, 24 de abril de 2009

Festival Via Stellae (S.Tiago de Compostela)

( muito agradecido a Moura Aveirense pelo alerta :-) )

Soberbo programa em Julho à volta de Compostela e seus caminhos.
Vastíssimo, concertos em todas as salas e concelhos circundantes.

Mas o melhor vai ser em S. Tiago:
- Sandrine Piau / Sara Mingardo,
Concerto Italiano / Alessandrini
em Handel para começar, dia 2;

- idem, em Vivaldi, dia 4 ;

- Giulio Cesar de Haendel
Orchestra Of The Age Of Enlightenment
Laurence Cummings
Sarah Connolly / Danielle De Niese
dia 14

- Philippe Jaroussky
Ensemble Artaserse
Os Castrati: Carestini E Farinelli
dia 15

- Les Musiciens Du Louvre
Marc Minkowski
O Idomeneo de Mozart em Concerto
dia 20

- para acabar, dia 23:
Vesselina Kasarova, Kammerorchester Basel
Ano Haydn: Haydn, Mozart, Gruber

e passo à frente muita coisa boa !

http://www.viastellae.es/concertos_santiago.asp

A não perder - Philippe Découflé


Não é teatro, não é dança, não é circo, não são artes plásticas nem é música - mas é um pouco disso tudo. Philippe Découflé é um génio de uma forma de arte em palco ainda não catalogada , embora a dança seja o elemento dominante. Consegue combinar elementos visuais e sonoros, estáticos e em movimento, com uma mestria excepcional. Não caiu na comercialite do "Cirque du Soleil" nem no mau gosto provocatório da "Fura dels Baus", mantendo uma sensibilidade, humor, arte coreográfica e cenográfica que são previlégio de poucos.

Desta vez, magia e bailado com música de Brian Eno.
Com a sua companhia DCA, no CCB (15 e 16 de Maio) e no TNSJ (3 e 4 de Julho)

Ler e Reler - A Invenção de Morel


A Invenção de Morel, de Bioy Casares

Desde Borges e Italo Calvino que não lia com tão intenso gozo um livro de ficcione. Escrito magistralmente, com um domínio da narrativa que dá vertigens de virtuosismo, é um livro onde o mistério, a ilusão, os múltiplos e ambíguos tempos (passado, presente e futuro) se interpenetram numa orgia de relatividade que Einstein adoraria; mas não é só ficção nem muito menos científica: o mais maravilhoso é a intensa poesia que perpassa pelos tempos e viagens, pelas imagens difíceis de situar, e pela genial “finta” narrativa final.

Para quem como eu segue beatamente a série “LOST” (Perdidos) na FoxTV, é evidente que esta obra prima foi uma das fontes de inspiração. A série, claro, fica muito aquém: mas, tal como ela, “A Invenção de Morel” obriga, impõe, várias leituras e várias re-leituras: é essa polissemia que faz a sua riqueza.

Jorge Luis Borges escreve no prólogo:
 Discuti com o seu autor os pormenores do enredo, e voltei a lê-lo; não me parece uma imprecisão ou uma hipérbole qualificá-lo como perfeito“.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Os meus 5 melhores hotéis !

Não sou frequentador de hotéis luxuosos, estou-me borrifando para as estrelas e as "facilities" e os brindes; mas que há sítios onde me apetece voltar, em grande parte, pelo local onde estive alojado, ah isso há. Muitas coisas contam: o local, o design, o conforto, a varanda com vista, o pequeno almoço, alguma refeição, a piscina...é uma lista pessoal e nada ortodoxa.

As Casa do Côro, em Marialva.
Não se pode pedir mais: um gosto decorativo perto da perfeição, um local de sonho, terraços privativos ao luar, refeições divinais (por encomenda), visitas ao Douro inesquecíveis, caminhas acolhedoras, sala com lareira, piscina a ouvir os grilos e a ver os grifos lá em cima...o tempo parou, estou no céu!

O Barco-Hotel Invicta da Douro Azul
Premiado , http://www.turisver.com/article.php?id=33592, é um barco fluvial onde ainda se sente o romantismo da viagem; madeiras envernizadas e latão polido abundam pelo navio; de dimensão humana (68 m), é um prazer percorrê-lo e percorrer o Douro nele. Mas verdadeiramente excepcionais são as refeições, em particular os pequenos almoços: pantagruélicos e com tudo o que há de fresco, desde frutos (exóticos) a marisco, passando por uma doçaria sem fim que faz mal mas consola. A exígua cabine tem madeira e latão polido q.b, parece que recuamos um século. Os motores também merecem ser vistos. Mas, neste hotel, há sobretudo o Douro a correr lá fora, duas margens sinfónicas em estereofonia visual.

Es Petit Hotel, de Valldemossa
Valldemossa é uma vilazinha bem conservada, muito agradável, situada na zona montanhosa (a mais bonita! ) da ilha de Maiorca. Frequentada por artistas ( noutros tempos palco de encontros entre Chopin e George Sand) abundam pequenas lojas de autor ( cerâmicas, joalharia, aguarelas, etc.). Tem um festival anual dedicado a Chopin. Ouve-se piano ecoando no silêncio matinal...O Petit Hotel tem o melhor pequeno almoço do mundo: não porque seja farto, mas porque é servido numa magnífica varanda com vista para a montanha e os telhados da vila; o sumo é espremido na hora e é delicioso, os biscoitos da senhora Margarita (proprietária) são feitos no dia, pão variado fresquinho, yogurte natural, compotas também de produção caseira local. E o café, ah, o café!
O quarto tem também uma esplêndida varanda com a mesma indescritível vista. Somos tratados como reis numa casa pequena (tem uns 5 ou 6 quartos) e com muito bom gosto decorativo, os donos não sabem o que fazer mais por nós...Local: bem no centro da vila! Ah, e há ainda um restaurante local, o Costa Nord, mandado fazer por Michael Douglas, onde degustei o melhos jantar da minha vida: cuisine gourmet!
N.B. tudo a preços sensatos.

The Borrowdale Hotel, Lake District
A região dos lagos do norte de Inglaterra é bem conhecida: linda de morrer, em época baixa sobretudo. O Borrowdale, perto de Keswick e mesmo à beira do lago, numa casa vitoriana de 1866, faz reviver essa época de charme e ilusão de felicidade burguesa com todo o realismo: o serviço de mesa é um luxo deslumbrante de "bom gosto", o pequeno almoço simplesmente indescritível - morre-se só de vê-lo antes de comê-lo...- depois, é obrigatório sair a desgastá-lo, e com tantos caminhos pela montanha não falta como; uns 500m atrás do hotel há uma cascata...com tudo isto, quem quer saber se a cama é dura e tem mossas?
Ah, neste caso, a coisa não sai nada barata...

Rica Hotel, Estocolmo
Depois de Veneza, Estocolmo é a cidade mais bela da Europa. Não pelo património, claro, mas pelo conjunto urbano, distribuido por ilhas e ilhotas, pelo modo como se relaciona com o fiorde, pela luz e pelos reflexos, pelos vários desníveis e vários bairros, diferentes arquitecturas e diferentes perspectivas, que fazem da cidade um conjunto de núcleos urbanos, com deve ser, e não uma "metrópole"monumental. O Rica Hotel está quase no centro, numa agradável praça ajardinada, perto de tudo a pé - e a rede de metro é um luxo de comodidade... No exterior, convencional; no interior, uma decoração contemporânea: diferentes quartos e diferentes corredores, salas desniveladas com plataformas e escadarias divergentes, num aproveitamento de efeito conseguido do espaço interior. Nada de muito especial, apenas o design sueco a funcionar em pleno. A preço módico numa cidade muito cara (café 3 €), tem tudo como deve ser: é bonito, limpo, bem situado, serve bem...só não dá nas vista. É nórdico.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Contos e Lendas do Norte - III

Continua neste blog um pequeno ciclo dedicado a narrativas dos povos do ártico. São histórias transmitidas oralmente de geração em geração, pois esses povos não dispunham de escrita até há pouco. Mais do que contos morais ou de narrativas mitológicas, são testemunho de uma forma de vida, de valores civilizacionais, de pormenores estranhos de um dia a dia muito diferente do nosso. E mesmo quando a violência surge, integrada na violência da natureza circundante, enquadra-se numa estética tão surpreendente (como sucede p.ex. com o cinema japonês) que, em vez de nos chocar, nos deixa perplexos perante um tal mundo, de beleza difícil de entender.

Kagsagsuk

Era uma vez um rapazito órfão que vivia na companhia de homens maldosos. Chamava-se Kagsagsuk e só contava com uma mãe adoptiva, uma velhinha miserável. Viviam numa arrecadação ao lado do corredor de entrada da casa, e não eram autorizados a entrar na sala principal. Kagsagsuk nem sequer entrava no barracão, preferindo ficar no corredor e procurar calor entre os cães de trenó. Às vezes, de manhã, quando os homens saíam a levantar os cães à força de chicote, atingiam também o pobre rapaz que dormia no meio deles. Punha-se a ganir Na-ah, Na-ah, e os outros troçavam dele por se portar como um cão. Quando os homens lá dentro se banqueteavam com várias carnes e pele de morsa, o pequeno Kagsagsuk espreitava sobre a entrada, e às vezes os homens erguiam-no com maldade, segurando-o com os dedos pelas narinas. Assim estas eram cada vez maiores, embora o rapaz nada crescesse. Davam-lhe bocados de carne congelada, sem uma faca para a cortar, e mandavam-no usar os dentes como os cães. Às vezes puxavam e tiravam-lhe um ou dois dentes, e protestavam que ele andava a comer demais.

A pobre mãe adoptiva conseguiu arranjar-lhe umas botas e uma pequena azagaia de caçar pássaros para ele sair a brincar com outras crianças; mas como era pequeno e fraco atiravam-no para a neve e faziam-no rodopiar até ficar com a roupa toda branca de gelo; as raparigas ainda eram piores, cobriam-no de porcaria. Assim o rapazito passava a vida atormentado e troçado por todos, e não crescia a não ser nas narinas.


Aos poucos foi-se aventurando nas montanhas, sem ajuda, procurando recantos solitários, onde cismava como havia de se tornar mais forte. A mãe tinha-lhe transmitido algumas ideias. Um dia, entre duas montanhas, levantou-se e berrou: “ Deus da força, vem ! Deus da força, vem ter comigo”. Apareceu um animal enorme, um amarok, que é como um grande lobo. Kagsagsuk estava cheio de medo, ia desatar a correr; mas o bicho ultrapassou-o , enrolou-o com a cauda e atirou-o ao chão. Incapaz de se mexer, ouviu um som como chocalhar e viu vários ossinhos de foca , como se fossem brinquedos, caindo do seu próprio corpo. Disse o amarok: “ São estes ossos que te impedem de crescer”. E repetiu – enrolou o rapaz com a cauda, apertou, e mais ossos cairam – mas já eram poucos. À terceira vez, os últimos ossitos cairam na neve. À quarta vez, o rapaz desequilibrou-se um pouco, mas à quinta nem isso – saltou sobre a neve. Disse o amarok: “ Se é teu desejo ficar mais forte e vigoroso, podes vir ter comigo todos os dias”.

No regresso a casa, Kagsagsuk sentia-se leve, e até deu uma corridinha, aos pontapés nas pedras do caminho. Ao chegar a casa, as raparigas que estavam de guarda aos bebés viram-no e riram-se: “Kagsagsuk vem aí! Vamos cobri-lo de lama!”. Os rapazes bateram-lhe e atormentaram-no como de costume. Não se opôs e, como era hábito, foi dormir com os cães. Desde então, foi todos os dias ter com o amarok e seguiu sempre o mesmo procedimento. Sentia-se cada vez mais forte.

Um dia, o amarok já nem foi capaz de o derrubar. E disse: “ Pronto, chega. Os seres humanos já não te podem vencer. Mas por enquanto mantém os teus hábitos de vida. Quando chegar o inverno e o mar gelar, é altura de te mostrares; surgirão três grandes ursos, e serás capaz de os matar com as tuas mãos.” Kagsagsuk asssim fez. Correu para casa e manteve os seus hábitos, sendo atormentado como sempre.

Chegou o Outono, e um dia os pescadores dos kayaks chegaram com um grande tronco de madeira* apanhado à deriva no mar. Deixaram-no na praia amarrado a grandes pedras, porque era pesado para levar para casa duma só vez. Ao cair da noite, Kagsagsuk disse à velha bisavó: “ Dá-me as botas, mãe, também quero ir lá abaixo ver a madeira”. Quando já todos dormiam, esgueirou-se para a praia e, soltando o tronco, pô-lo às costas e levou-o para as trazeiras da casa, onde o enterrou. De manhã, o primeiro homem a chegar à praia gritou: “A madeira desapareceu!”. Quando todos viram as cordas cortadas, ficaram espantados, pois não havia ventos nem marés que pudessem ter arrancado o tronco. Mas uma velha, detrás da casa, chamou: “Venham ver! Está aqui!”. Todos correram para lá gritando, “Quem fez isto? Há entre nós algum homem com força sobrehumana!”. Os jovens começaram a dar-se ares, como se cada um pudesse ser o forte desconhecido. Impostores!

Começou o Inverno, e os homens da casa grande vizinha do barracão de Kagsagsuk trataram-no ainda pior que antes; mas ele continuou submisso, para não levantar suspeitas. Até que o mar congelou, impedindo a caça às focas. Quando os dias começaram a durar mais, os homens chegaram um dia a correr com a notícia de três ursos que subiam um iceberg. Ninguém se atreveu a ir no seu encalço. Era a hora de Kagsagsuk agir. “Mãe”, disse, “ dá-me as botas, também quero ir ver esses ursos”. Ela não gostou, mas lá lhe atirou as botas, troçando: “Então vai, e arranja-me em troca uma pele para o sofá e outra para a manta!”. Calçou as botas, apertou os farrapos de roupa que vestia, e saiu à procura dos ursos. Os homens que estavam fora viram-no e comentaram, “ Olha se não é Kagsagsuk! Onde irá ele? Dêem-lhe uns pontapés!”, e as raparigas, “Deve ter perdido uns parafusos!”, mas Kagsagsuk passou a correr por todos eles como se fossem um cardume de peixinhos. Corria tanto que os calcanhares quase lhe subiam até ao pescoço, e a neve saltava e espumava , faíscando nas cores do arco íris. Subiu o iceberg à força de mãos, e logo o maior urso levantou a garra. Kagsagsuk rodopiou e agarrou-o pelas patas da frente, lançando-o contra o iceberg de tal modo que as coxas se separaram do corpo, depois atirou-o à assistência gritando, “ O meu primeiro troféu; agora esquartejem-no e dividam entre vós”. Os outros pensaram, “ O próximo urso mata-o”. Mas o processo repetiu-se, e o urso foi atirado contra o gelo. Mas com o terceiro, apenas o agarrou pelas patas e pô-lo às voltas a girar por cima da cabeça, lançando-o contra um deles, “Este tipo portou-se vergonhosamente comigo”, e depois, atingindo outro, “Esse ainda me tratou pior!”, até que todos se tinham posto em fuga para casa entre grande consternação.


Ao chegar a casa, foi direito à bisavó com a pele de dois ursos, “Uma para o sofá, outra para a manta!”, e deu ordem para que a carne do terceiro urso fosse arranjada e cozinhada. Pediram então a Kagsagsuk que entrasse na sala grande da casa; em resposta, espreitou pela soleira da porta e disse, “Não consigo entrar, a não ser que alguém me levante pelas narinas.” Como mais ninguém se atreveu, a velha mãe adoptiva chegou-se a ele levantou-o como ele pedia. Todos se tinham tornado agora muito amáveis com ele. Um disse, “Anda, entra!”, outro, “Vem e senta-te , amigo”. “Não, aí não que o banco é duro, sem manta”, disse outro, “aqui está um bom assento para Kagsagsuk”. Rejeitando as ofertas, sentou-se com era hábito no banco duro ao lado do corredor de entrada. Alguns continuaram, “Temos uma botas muito boas para o Kagsagsuk”, e outros, “Ora aqui estão uns calções para ele”, e as raparigas começaram a rivalizar para fazer roupa para o rapaz. Depois do jantar, um dos da casa disse a uma delas que fosse buscar água para o “querido Kagsagsuk”. Era uma das que mais costumavam atormentá-lo. Quando ela voltou e depois de beber um pouco, puxou-a ternamente para si, por ser tão amável, mas de repente apertou-a, esmagando-a com tanta força que ela começou a espirrar sangue pela boca. Só disse: “ Olha, parece que rebentou !”. Os pais, contudo, chegaram-se de mansinho, “Não tem mal, ela não sevia para nada, só para buscar água.” Mais tarde, quando os rapazes começaram a chegar, Kagsagsuk chamou-os, “Que grandes caçadores de focas vocês hão-de ser!” , enquanto os abraçava e esmagava até à morte. Outros, matou-os arrancando-lhes os membros aos pedaços. Mas os pais só diziam, “ Não tem importância – era um inútil, só sabia brincar aos tiros”. Depois Kagsagsuk foi buscar e matou todos os homens da casa um por um.
Só poupou as pessoas pobre e humildes que tinham sido gentis com ele, e viveram todos à custa das provisões que tinham sido armazenadas para o inverno. Também os ajudou aprendendo a usar os kayaks, começando por remar perto da costa, depois afastando-se cada vez mais pelo mar dentro. Em breve viajava para Norte e para Sul no seu kayak. Orgulhosamente passeava por todo o território para mostrar a sua força; por isso ainda hoje é conhecido por toda a costa, e em muitos sítios ainda há marcas das suas proezas, e por isso é que esta história se supõe ser verdadeira.

* nestas latitudes não há árvores, qualquer pedaço de madeira é um bem precioso.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Ciclo Árvores e Poesia - XI


From you have I been absent in the spring,
When proud-pied April dress'd in all his trim
Hath put a spirit of youth in every thing...

William Shakespeare, sonnet 98

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Outra Imagem Mentirosa

Ainda há pouco aqui postei uma imagem que não vale por mil palavras porque mente com quantos dentes tem na boca. Ora cá vai outra. Que se pode dizer ao observar isto?

MOLHADO ?

FALSO.

É o solo de Marte, e as "gotinhas" e os fiozinhos são apenas areia de dunas sopradas pelo vento!!

(NASA)

sábado, 18 de abril de 2009

Torre Eiffel fez 250 anos

Nunca gostei da torre Eiffel. É um mono arquitectónico que muitas regras de bom gosto mandariam demolir. Contradição: tornou-se um ícone, símbolo de uma época e de um espírito, procurada avidamente pelos turistas, utilizada por aventureiros radicais, amada pelos parisienses e ... fonte de inspiração para alguns dos maiores pintores! Acabou de fazer 250 anos. Que viva outros tantos pelo menos. Afinal até nem desgosto...


Chagall
Chagall

Delaunay

Delaunay

Diego Rivera

Henri Rousseau

Seurat


Utrillo

Jeff Sie

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Viagem ao Reno (Abril 2009)

Uma viagem 'romântica', forçosamente. Estava uma primavera soalheira de 24ºC, uma sorte rara. Naturalmente omito fotos com pessoas (net-carefully...).
Clicar para ver tamanho grande.

Plano de viagem:



1. Primavera


























2. O Reno e os Castelos





















3. Vilas: Bacharach





















Vilas: Bernkastel - Kuez






Um chá fabuloso:



Detalhes:















Imagens do Parsifal em Mainz - estas não são minhas, claro são do site http://www.staatstheater-mainz.com/