terça-feira, 21 de setembro de 2010

Férias definitivas

O meu Outono, chegou.

Altura para balanços e projectos. Ensinei Matemática durante 35 anos, e foi bom. Estava agora a estragar-se tudo rapidamente, vertiginosamente. Não há pachorra para tanta incompetência de uns, desleixo e má vontade de outros, condições em degradação constante. As irritações e frustrações acumulavam-se, e veio agora juntar-se uma franca pioria de condições físicas. Era tempo.

Cadeira vazia, pois. Continuo professor, mas farei só o que gosto e ao resto direi "Não, NÃO FAÇO!", com especial prazer. Trabalharei com quem gosto e aos outros direi, "vai bugiar". E à tutela direi coisa bem pior. Eh eh eh.

Ah, estar livre da tutela! :D \o/

Projectos? São tantos... Além de me dedicar ao ensino em total liberdade, em horário reduzido e de minha livre escolha, vou dedicar muuuuuito tempo a frequentar cultura - música, cinema, astronomia, museus, alguma matemática, livros sempre; vou enfim dedilhar a minha guitarra clássica uma horita por dia, relaxadamente; vou passear, a pé, de carro, de comboio, na minha bicla nova

Com menos recursos, vou viajar de quando em quando. Vou alimentar os meus dois blogs, que às vezes me ocupam horas. E, mais que tudo, vou cultivar as minhas amizades, actuais e passadas, que tenho por vezes mal-tratado.

Dia 1 da minha reforma.

13 comentários:

Sara Raposo disse...

Mário:

Que inveja!!!
Carpe diem.

Gi disse...

Oh Mário, estou como a Sara Raposo: quem me dera!

Aproveite bem. O seu programa parece-me excelente.

Mário R. Gonçalves disse...

Gi, Sara: inveja tenho eu, jovens, querem trocar idades comigo? ;)

Sara Raposo disse...

Bem, citando o meu filho adolescente, eu já estou na meia idade, portanto já longe da juventude. Não era uma boa troca!!!

Confesso que parte da minha inveja se prende com o facto do Mário ter abandonado o ensino e poder fazer um bom uso do seu tempo. Eu, por vezes, como professora sinto que estou a desperdiçá-lo e não faço aquilo que considero mais importante: ler e estudar, perdida em tarefas burocráticas e a aturar pessoas que não valorizam nem o conhecimento, nem a aprendizagem. Mas é verdade que alguns dos meus alunos ainda me fazem sentir que vale a pena.

Mário R. Gonçalves disse...

Exactamente, Sara. Agora só ajudarei alunos que valem a pena e só procuro convívio com colegas de quem gosto - tenho sorte, ainda, de ter feito amizades que se contam pelos dedos da mão.

Mas a meia idade é bem bonita, Sara, a terceira é mais deprimente, tenho de me esforçar para conseguir o "carpe diem".

Gi disse...

Mário, o que me indigna é na minha idade desejar que o tempo passe mais depressa para me reformar, quando devia desejar que se prolongasse.

Mário R. Gonçalves disse...

Gi,

Tive esse sentimento também. Faz parte da desmotivação, ambiente em que vivemos, do cansaço de aturar palermices, da imensa vontade de podermos enfim dedicar-nos só a nós e aos amigos. Não se indigne consigo, mas com estes tempos adversos e inamistosos que atravessamos.

Paulo disse...

Enquanto ouço uma Elevação para oboé, penso em como o Mário deve estar feliz. Parabéns. Quem me dera também poder fazer só o que me apetecesse.

Alberto Velez Grilo disse...

Mário. Não tenho inveja alguma de si! No entanto, um dia, quando a minha vez chegar, espero ter os projectos e as perspectivas que o Mário tem nesta nova fase da sua vida.

Obrigado por ter partilhado um pouco mais de si. Não o imaginava professor de matemática. Penso que nunca o tinha referido aqui no Livro de Areia. Se tal aconteceu, escapou-me...

Um abraço

Mário R. Gonçalves disse...

Paulo: "feliz" não descreve bem o meu estado. Gostei de me sentir libertado de muita coisa que referi, é verdade, mas a aposentação é uma situação nova: deixamos de saber o que será o dia de amanhã. Tenho projectos mas tenho receios e perplexidades.

Alberto: bom regresso a estas lides. Quanto ao que diz, evitei sempre aqui a minha área profissional porque para isso há outros locais. O Livro da Areia é uma espécie de alter-ego meu, um escape onde publico sobre as áreas que mais me motivam para além da profissão.

Fernando Vasconcelos disse...

Pelo que vejo há aqui alguns professores ... Não sou professor, ou melhor não de forma continua embora tenha leccionado, mas isso não importa para o que queria dizer-vos. A vós professores digo-vos apenas uma coisa. Nunca, mas nunca é perda de tempo. Haverá sempre alunos para quem uma aula vossa há de ter mudado a vida. Sabem, ou devem saber, que de vez em quando é de vós que parte a centelha que muda a vida de um jovem. Na minha vida tive o privilégio de poder ter contado com alguns desses momentos. Estimo-os todos. Mário, votos de muita cultura e de bons momentos a ensinar o que e quando lhe aprouver.

Fernando F. disse...

Ora aí está um Ser bem disposto...com o Outono.Duas ignorâncias minhas:a «guitarra» e o blogue2. Gostava de ouvir a primeira e consultar o segundo, mesmo tardiamente!...
Diverte-te com saúde
Fernando

Mário R. Gonçalves disse...

Obrigado, Fernando. A guitarra, não ouvirás, é para consumo interno...o outro blog, tem link aqui ao lado, procura Ultima Thule