ainda sobre fealdade humana:
Todas as manhãs de semana, não chovendo, vou ao jornal na tabacaria do bairro. Pelo caminho passo na esquina da Associação Recreativa, onde invariavelmente estão 3 ou 4 homens na rua a fumar, um ou outro poderá ter uma superbock na mão, a outra mão no bolso.
Todos os dias os fragmentos de conversa que ouço são variantes da mesma frase, com 95% de "puta que pariu", "caralho", "merda" e "foder".
Exemplo típico: "Puta que pariu aquela merda, se fosse eu ia lá e fodia aqueles caralhos todos!".
Devo dizer que se pode encontrar alguma poesia nestas frases, abundantes em metáforas, em criativos paradoxos e, digamos, com uma rítmica muito própria.
Imaginemos por momentos que se tratava de ir a PyongYang depor a ditadura do Supremo Líder Kim Jong-il ; a frase torna-se automaticamente simpática!
Mas não: trata-se sempre de futebol (lá se vai a poesia toda).
Eu sei que há muita fealdade entre ricos e poderosos, corruptos e tiranos, aristocratas e bem-falantes: esses estão lá longe, não fazem parte do meu mundo, posso até ignorá-los, não passo por eles à esquina todos os dias.
Mas este grupo, feio, feio, (sem culpa, vítima, mas feio), cria em mim uma misantropia tão forte que me apetece ir a correr abraçar a primeira árvore.
6 comentários:
Como o compreendo, Mário. Antes de chegar ao fim do seu post, já sabia qual era o tema subjacente a tão elevado dialecto.
:) ou :( , Alberto.
Abraçar uma árvore não me parece mal, Mário :-)
É sempre uma boa ideia, Gi.
Sempre, mas neste caso é em desespero de causa...
O curioso é a sensação de retorno que o abraço dá.
Há situações que não podemos mudar...Mas são pessoas como você que fazem a diferença: analisam sem se deixar contaminar.
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