segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O Fim da Europa


Não, não falo da queda do euro nem do Império Europeu Merkel & Sarkozy, mas literalmente do local onde a Europa continental acaba para Norte: Hamningberg , 70° 32' N, 30° 37' E, muito acima do círculo polar árctico, e também muito mais oriental que Istambul !


Contudo, pode também simbolizar "aquilo onde a Europa vai acabar", ou seja, uma pitoresca aldeia piscatória meio abandonada, que pode bem ser o futuro da nossa História.


Não é assim tão mau !


A povoação de Hamningberg é uma herança cultural (como a Europa) , com edifícios de época preservados (idem) , com memorial de guerras passadas (aspas aspas) e uma paisagem invulgar.



Situada no terminus da estrada continental E 75, está tão brutalmente isolada que nem os alemães deram por ela, por isso se salvou da razia total que fizeram na região, destruída a ferro e fogo em 1944.

Estrada terminal


Numa paisagem lunar de rochedos aguçados e negros que desfilam pelo litoral do mar de Barents, já há promessas de árctico nas renas pela praia, na vegetação rasteira da taiga, colorida na primavera por múltiplas florzitas, e no inverno coberta de branco .


O cenário parece de um filme de Bergman: mar gelado, céu cinzento, casinhas isoladas.

Mas Hamningberg tem um café, o "café do fim da Europa", como se Steiner o tivesse baptizado ! E uma igreja. Ora café + igreja = Europa, pois.

Café...e pão quente !


Monumento às vítimas da caça-às-bruxas

Que local melhor que esta europa terminal para recordar tantas mulheres, algumas crianças, queimadas vivas ou torturadas nos tribunais sumários que aqui vigoraram com particular intensidade no séc XVII?

Inaugurada em Junho de 2011, nas estrada de Hamningberg para Vardø, o Memorial Steilenset é uma bela e arrojada arquitectura, eis o que os europeus sabem fazer bem: comemorar, homenagear, recordar a História, fazer arte.



Obra do arquitecto suíço Peter Zumthor e da artista francesa Louise Bourgeois: um "cubo" onde arde uma chama sobre uma cadeira, rodeada de espelhos; e uma galeria revestida a 91 panos de seda :

Um comovente santuário para 91 vítimas da barbárie, 348 anos depois do julgamento sumário que condenou as últimas 20. Tendo em conta a reduzida população da região (Finmark), compreende-se melhor o que terá sido este massacre.




Memórias, ruínas, o melhor e o pior da Europa.


assim termina.




Ou terá ainda futuro?


Mais, aqui:

3 comentários:

Gi disse...

E de que eram acusadas, essas mulheres? De bruxaria, suponho?

Quando leio estes seus posts árcticos*, Mário, quase esqueço que declarei nunca mais voltar à Noruega.

*Tive de confirmar no dicionário se se escrevia árctico ou ártico... Como isto está...

Gi disse...

Oops... Está no post, claro: era *mesmo* uma caça às bruxas. Habituamo-nos às metáforas e analogias e já nem reconhecemos o literal...

Mário R. Gonçalves disse...

Árctico, sim, obrigado, Gi.

Quanto ao monumento e à histeria contra as bruxas em Finmark, um pouco mais aqui:

http://www.norwaycommunicates.com/memorial.html