quarta-feira, 11 de abril de 2012

Irritações: a "festa" da ministra Maria de Lurdes

Provavelmente não houve ministério da educação que fizesse tão mal às escolas e ao sistema educativo como o da Srª Dona Maria de Lurdes, que abreviarei ML . Arrebentou por completo com os professores de carreira mais competentes, sobrecarregando-os com mil e uma tarefas não pedagógicas e um horário impossível para quem tem de preparar aulas, fazer e corrijir trabalhos. Destruiu o amor-próprio e a motivação, com o fim das reduções de horas de trabalho por (antigu)idade - que agora acham justo para quem quer prolongar a carreira além dos 65 - , as dificuldades excessivas de progressão na carreira, as constantes directivas miudinhas que vinham sempre acrescentar e complicar trabalho com inutilidades como a tal lista de "competências", e a manifesta antipatia pelas pessoas que vivem a escola. Nem eu resisisti, e vim embora, como muitos.

ML só soube gastar dinheiro, a rodos, no betão, no ar condicionado, nas geringonças electrónicas, para fazer das escolas uma espécie de estabelecimento hoteleiro de 2ª categoria com design modernaço. Investiu no edifício, desinvestiu nas pessoas. E para isso foi criada, com vários compadrios, a Parque Escolar, empresa agora denunciada por fraudes diversas.

Foi, diz ela, uma festa. Imagino. Celebrada com bom champagne francês na 1ª classe da TAP pago pela nossa bolsa, a que também chamam Estado, na companhia de uns quantos vilões agora chamados a prestar contas.

A escola onde trabalhei estava em boas condições - tinha, aliás, gasto largos milhares havia um ou dois anos em obras de requalificação - telhado, tectos, paredes, canalização, instalações tecnológicas nalgumas salas de aulas - e uma biblioteca linda, em madeiras, acolhedora. Estava NOVA, e só precisava de mais salas, um bom ginásio e novos WCs. Veio a Parque Escolar, e fez a festa : tudo abaixo, áreas verdes destruídas, até uma árvore protegida foi abatida, transformou um edifício com "patine", de tectos altos, espaçoso e até bonito por fora, num espaço opressivo de blocos, todo revestido interiormente a laje preta e parede branca, com ar de centro de saúde. Instalou, ahah, internet e quadros interactivos em TODAS as salas. Mas isso "não é um luxo", não, é uma festa. A biblioteca ficou tristíssima, com tecto baixo (como toda a escola, algo opressivo, para ter ar condicionado...), materiais a preto e branco e janelas que não abrem, nem apetece lá entrar, de tão indiferente, igual a qualquer outra. Aliás, o que tem de mais proeminente são, claro, computadores.

E assim foram gastos, "em média", 15 milhões de euros, uma festa.

Até um parque de estacionamento onde cabiam melhor ou pior, anarquicamente, os carros dos professores que na rua andavam às voltas sem arranjar lugar, foi substituído por um recinto menor só para os "eleitos", com lugar fixo garantido, porque não havia lugar para mais. A arraia miúda que se desenrasque.

Depois de todos estes melhoramentos, que ampliaram uma escola atrapalhada com falta de salas (coisa que teria valido a pena, sim, mas seria barata), resolvem agora os novos poderes que a escola deverá afinal acolher também os alunos de mais outra, próxima, que entretanto vão fechar ! Não só destruíram o edifício para fazer um mamarracho, como vão destruir a comunidade escolar - eles que tanto falam em estabilidade - invadindo-a de um momento para o outro com uma centenas de "alienígenas", que também são vítimas, claro.

Uma festa. Não foi assim, afinal, pelo país fora? Não foi assim que se gastou dinheiro mal gasto?

E dentro em pouco, mais rápido do que ML conta, os novos edifícios cada vez mais esvaziados obrigarão a fechar cada vez mais escolas, até que chegue a vez de fechar as próprias obras-primas da Parque Escolar, ainda novinhas e bem equipadas. O mesmo que aconteceu aos pavilhões multi-usos da era Guterres que proliferaram nas cidades de província para agora acolherem a festa do emigrante em Agosto, com o Carreira. E aos estádios de futebol de grande arquitectura.

Entretanto, os colégios privados, em edifícios de traça antiga rodeados de jardins e arvoredo, mobilados em madeira, razoavelmente equipados sem exagero nem desperdício, de pequena dimensão e com uma equipa docente há muito tempo estabilizada, serão o oásis que era de prever para os pais que lá possam colocar as crianças. Ah, e têm estacionamento intra-muros para todos os prefessores, claro, que é importante chegarem a horas e sentirem-se bem tratados.

Maldita seja pois a sua festa, Sr.ª Dona ML, que a pague com juros o resto da vida.

-----------------------------------------------------------------
-----------------------------------------------------------------

(estes traços destinam-se a separar bem este post mal-disposto contra uma mulher incompetente do post anterior, entusiástico a favor de uma mulher talentosa)

7 comentários:

Paulo disse...

Mas ML vai pagar isso tudo e mais os juros, Mário?

Mário R. Gonçalves disse...

Em noites mal dormidas, pesadelos, ataques de ciática, cabelos brancos e celulite q.b., olheiras, mau hálito...

(também não desejo que a senhora passe fome, credo)

Paulo disse...

Ah bom, estou mais descansado. Já estava a imaginá-la a pedir esmola, coitada, no metro para conseguir pagar a dívida.

Virginia disse...

Se eu tivesse escrito esta Entrada, tudo seria igual. Passou-se comigo exatamente o mesmo. Só tenho pena de nunca ter podido experimentar as tecnologias avançadas, eu que achava o vídeo ou o retroprojector um milagre....

Mas não compensa...pagámos tods demasiado cara toda esta brincadeira. Maldita MLR. Só ver a cara dela na TV, dá-me náuseas. Mulherzinha detestável.

Gi disse...

Lamento recordar que não será a senhora a pagar isso tudo e mais os juros, mas sim os suspeitos do costume :-(

Essa história da sua escola é terrível, Mário.

Virginia disse...

Seria interessante fazerem um video sobre a escola e colocarem-no no Youtube para verem as aberrações que estamos todos a pagar.
Já não é possível Um Antes e Depois, mas levar a TVI ao local e fazerem uma reportagem a sério dos encargos que as modificaçoes acarretam, era saudável.

Enfim, doi....

Mário R. Gonçalves disse...

Pois era, Virgínia, mas as Direcções das Escolas têm medo, cada vez mais medo, de quem manda, podem ter um processo, sabe-se lá.

É preciso autorização superior, sabe, para se fazer uma reportagem na escola, que é Pública mas nao é espaço público.

Só se houver garantias de que é uma reportagem "simpática" !