segunda-feira, 16 de abril de 2012

Longyearbyen, a última capital europeia a caminho do Pólo Norte

Continuando a viajar pelo nosso extremo Norte ...

As Ilhas Svalbard ainda são Europa, são justamente o cantinho noroeste da placa Eurasiana, na borda da falha intercontinental. Já tão perto do Pólo Norte, bem podemos referir o arquipélago como sendo a Última Europa.


Sob soberania condicionada da Noruega, não estão na União Europeia; há mesmo uma área sob jurisdição russa, uma aldeia mineira. Grande parte do território é deserto polar, coberto sob (ainda) espessa capa de gelo. Algumas bases de investigação científica em zonas costeiras abrigadas não bastam para povoar um território de dimensão pouco inferior à de Portugal.

Mas, espanto, a ilha tem uma CAPITAL ! Chama-se Longyearbyen e tem uns 2100 habitantes, anualmente renovados e em crescimento, pois além de institutos científicos, há uma Universidade, instituição europeia por excelência - com tudo o que de bom isso traz - vida nas ruas, comércio, restauração, hotelaria, museus, centro cultural...

Svalbard é um arquipélago norueguês no Oceano Ártico, cuja ilha maior é Spitsbergen. Foi descoberto em 1596 pelo navegador holandês Willem Barentsz.

O Tratado de Versailles, no fim da 1ª Grande Guerra, entregou Svalbard ao reino da Noruega, mas permitiu a cidadãos das restantes nações signatárias direitos de residência em plena igualdade - direito de propriedade , de exercer actividades comerciais e de investigação científica. Essa igualdade de direitos cosmopolita é que tem atraído tanta gente.

A cidade de Longyearbyen, na embocadura do Adventfjord; no canto inferior direito, a fundo do glaciar Larsbreen, a universidade do Ártico UNIS

Nas coordenadas 78°13′N, 15°33′E, Longyearbyen é a cidade mais setentrional do mundo. Deveria ser mais ou menos abandonada e miserável. Tudo menos isso: os padrões noruegueses e o turismo deram-lhe uma invejável qualidade de vida.


Localizada na margem do Isfjorden, mais precisamente na foz do subsidiário Advenfjord, a cidade está rodeada de um cenário espantoso de montanhas, fiordes e glaciares .

Foi fundada em 1906 por um industrial americano, John Munroe Longyear, que fundou a actividade económica que durante um século foi a principal do arquipélago - exploração de minas de carvão; ainda hoje é a indústria que emprega mais pessoas na ilha.

Longyearbyen, rua principal

O centro da cidade num dia ameno de verão...

...e no início da primavera.

De Outubro a Abril, vive-se sempre às escuras ou num crepúsculo permanente, mas em compensação o sol nunca se põe em em Maio, Junho, Julho, e grande parte de Agosto. O regresso anual do Sol é sempre uma época ansiosamente esperada e celebrada com festejos.

A côr mais frequente em Longyearbyen é o vermelho escuro, mas casas mais recentes têm vindo a dar um colorido mais variado à paisagem urbana.




Uma área residencial típica


Desde o séc. XVII, Svalbard tem sido visitada por gente de várias nacionalidades, que se esabelece em actividades como a caça, a pesca, a investigação, mas sobretudo nas minas de carvão.

O velho sistema de cabos suspensos para transporte do carvão.


A pequena mina nos arredores da cidade é actualmente usada apenas para abastecer a central térmica de energia.

Mas a cidade evoluiu de uma povoação mineira para um município com mais de 2 000 residentes, permanentes ou temporários. Cada ano, cerca de 100 pessoas partem e são substituídas por outras 100 - cientistas, guias turísticos, mineiros, administradores - de mais de 30 países.


Não há carros, e o município desencoraja o uso dos todo-o-terreno na cidade; bicicletas no verão, skis no inverno.

Mas estar bem na vida é ter snowmobiles. Praticamente todos têm.


A igreja mais próxima do Pólo Norte

A 78°13′N 15°33′E,
é em madeira e foi inaugurada em 1958:

É o ex-libris que figura nos postais da cidade.


O café e casa de chá da igreja.


Há hoje em Longearbyen uma razoável oferta de comodidades urbanas: pavilhão desportivo, piscina, galeria comercial, mercado de grande superfície, bares, cafés e restaurants, sete hotéis, algumas lojas, cinema...

O Hotel Svalbard - com esplanada !

O Restaurante Kroa:

Ah! esplanada!

A Kulturhuset

No recente centro cultural e cafetaria Kulturhuset há exposições e concertos - e esplanada !

Huset Kafé, uma casa histórica aberta nos anos 50:

A Huset é o mais antigo restaurante e café, agora com cinema e sala de concertos.

Vista de uma janela da Huset.

A Galeria Svalbard

Não falta também uma galeria na cidade, onde expõem artistas locais.


Yngve Henriksen, Galleri Svalbard


As galerias comerciais Lompensenteret



A escola

Também é a escola mais setentrional do mundo, claro, e frequentada por crianças de mais de 12 nacionalidades:

Hora de recreio

O Museu Svalbard

Situado no Centro de Ciência da Universidade, é o edifício de mais bela e arrojada arquitectura da cidade:




UNIS - A Universidade de Svalbard


O Centro Universitário representa quatro Universidades norueguesas e oferece estudos superiores em assuntos relacionados com o Ártico.


A arquitectura interior também é surpreendente.



Hotéis

Recentemente entrou em funcionamento um aeroporto international com voos regulares ; também aumentou o número de navios de cruzeiro que visitam a cidade e as ilhas. O turismo está em expansão e o negócio hoteleiro começa a ter relevância na economia local. São exemplo o Radisson Blu ou este Spitzbergen Hotel :



Vista de uma janela do hotel.

A PAISAGEM ÁRTICA CIRCUNDANTE

Longyearbyen está cercada de fiordes - o Advenfjorden e o Isfjorden - e glaciares - Longyearbreen, Larsbreen, Monacobreen, Esmarkbreen.


O Isfjorden

O Isfjorden foi observado por Willem Barentsz na sua viagem de 1596.

O Isfjorden visto de Longyearbyen

Um baleeiro Basco de San Sebastian estabeleceu aqui a primeira base temporária de caça à baleia em 1612. Desde 1613, navios baleeiros frabceses, bascos e holandeses recorreram a Trygghamna (porto seguro) na entrada norte do Isfjord.


O fjorde apresenta falésias impressionantes, habitadas por aves


Villa Fredheim, uma antiga cabana de caçador



Gammelhytta (a cabana velha) é parte da Villa Fredheim onde o caçador Daniel Nøis e o seu sobrinho Hilmar viveram desde 1911 mais de 40 anos, caçando ursos polares, raposas e focas pelas suas valiosas peles, e também renas para alimentação.

É um exemplo de antiga cabana de caça no ártico - musgos preenchem as frinchas da madeira, madeira e casca de bétula nas paredes e tecto, depois cobertos com turfa.

Larsbreen, o glaciar às portas de Longyearbyen

Ao longo do vale glaciar estende-se Nybyen, a cidade universitária da UNIS

O glaciar Esmarkbreen, atravessando o Isfjorden

Na hora certa, o Esmarkbreen reflecte uma espectacular luz azul.

Monacobreen, o glaciar Monaco


Uma frente de 6 km.

O navio de cruzeiro Fram em visita ao glaciar Monaco-


As Estações

A primavera e o verão surpreendem pela colorida flora ártica - umas 170 espécies de plantas floridas decoram o solo branco ou cinzento.

Silene roxa (silene uralensis)

Dríade da Montanha (dryas octopetala)

Saxifraga roxa (Saxifraga oppositifolia)

Depois dos meses do outono e inverno,


chega, por volta de 19 de Abril, o primeiro dia de sol:

E não tarda a luz prolonga-se noite fóra...


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O Global Seed Vault, em Svalbard

Já publiquei no Livro de Areia sobre o Global Seed Vault, aqui.

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