Acabo de ouvir a nova gravação de Maria João Pires com Claudio Abbado. O toque delicado, leve, ágil, alegre de Maria João é um prazer de se ouvir, e a Orchestra Mozart de Bolonha cumpre acompanhando com precisão e detalhe orquestral, em instrumentos convencionais.
Convencional é o que mais me parece a gravação. Depois de ouvir Brendel com a Scottish Chamber Orchestra dirigida por Mackerras, a diferença não podia ser maior. Brendel e Mackerras assinaram uma gravação marcante, histórica, inovadora, numa cumplicidade rara. A força de Brendel garante uma expressão mais intensa, e não menos articulada (embora menos rendilhada) que a de Maria João Pires; a direcção de orquestra de Mackerras, neste reportório, é muito superior à de Abbado, por outro entendimento da música pré-romântica alemã. Nos contrastes dinâmicos, nos ataque das cordas, na projecção dos sopros, é uma gravação onde a orquestra tem mais protagonismo, mais equilíbrio com o solista; não se limita a "acompanhar", como Abbado aparentemente faz com rigor e exactidão mas sem alma. Uma orquestra italiana que, como muitas vezes sucede, não compreende a música alemã, ficando-se por uma inexpressiva macieza.
Gostei mais, muito mais, de Maria João Pires com John Eliot Gardiner dirigindo com mão quase barroca a muito alemã orquestra de Viena.
4 comentários:
Obrigada pelo aviso....tentar-me-ia ouvir de novo a MJ , mas não gosto muito do que oiço de Abbado no Mezzo e prefiro ouvi-la com outra orquestra ou sozinha...
Abº
Discordo, como já sabe. Acho que MJP e Abbado se entendem às maravilhas.
Virgínia,
Abbado é um grande intérprete de Mahler e Strauss; as sinfonias de Mahler, que gravou com a orquestra de Lucerne, são de referência, e às vezes passam no Mezzo.
Já com outros compositores (Beethoven, Mozart) tendo a concordar consigo.
Paulo,
Entender, entender-se-ão. Mas este Mozart é "italianizado". O que ponho em causa é a autenticidade, não o fôlego interpretativo.
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