quinta-feira, 24 de abril de 2014
'Lascia la spina, cogli la rosa', a diva Julia
Neste caso será antes "esquece as fífias, o resto foi magnífico".
Falo do concerto da Lezhneva, claro.
Sala cheia com alguns vazios, palco esplendoroso com o fundo em vidro aberto aos jardins iluminados, uma grande janela sobre os verdes e os pássaros que esvoaçam numa diagonal súbita. Este novo design é genial.
Entra a orquestra, reduzida ao mínimo barroco. Um fagote barroco, de pé, para ajudar o cravo e um pequeno órgão no baixo contínuo, e ainda mais um alaúde atrás da orquestra. Cordas à esquerda, madeiras à direita. Digamos, uma disposição invulgar.
A sonoridade é bonita, macia; a afinação nem sempre, e houve as ditas fífias, grandiosas, no trompete. Lascia la spina. Em compensação, as partes de oboé foram brilhantemente interpretadas.
A jovem diva (quem diria?) Lezhneva entrou vestida de lilás pascal, e foi logo fulgurante, numa ária difícil ('Disserratevi, o porte d'Averno') e brilhantemente cantada que fez irromper longos aplausos. Nos últimos tempos a voz não "cresceu" e certamente já não crescerá mais, falta-lhe riqueza de harmónicos, mas é límpida, elegante e melodiosa, a lembrar Emma Kirkby. O registo agudo só lá muito para cima começa a perder riqueza e flexibilidade.
Depois da primeira parte mais pascal, a segunda desceu à terra em árias da Agrippina, sempre de Handel, com uma Julia Lezhneva de vermelho mais vivo, um pouco mais teatral também, mas não muito - ela é sempre parca de movimentos, podemos concentrar-nos totalmente na vozita 'celestial' que flui com imensa naturalidade mesmo nos trinados barrocos mais floreados, caso do "Come nembo" com que terminou em triunfo.
O único encore concedido à revoada final de aplausos e brav(o)(a)s foi a ária de Handel que aqui usei no título. Um primor - momentos comoventes em pianissimo. 'Cogli la rosa'.
Uma jóia do Oriente, um tesouro digno dos Czares , que moravam ali mesmo ao lado ;) .
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(continua)
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