sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Lamento, mas não gosto de Boulez


Tenho para mim que os séculos XVIII-XIX , estendendo-se ao final do XVII e ao início do XX, foram os anos de ouro da Música. Uns 99% do que mais gosto estão nesse intervalo de tempo. Obras geniais de compositores que dedicavam a sua vida quase exclusivamente a compôr, obra após obra, por vezes às centenas, e tinham um saber e um toque 'divino' que lhes permitia alcançar um nível de criação que não voltou a estar presente até hoje, ao contrário do que sucede por exemplo na pintura.

Sucederam-se no séc. XX técnicos politizados que queriam à força renovar, fazer história, rejeitando as formas tradicionais; fabricavam coisas geralmente feias e estéreis, que ilustravam o desencanto, o desespero e o horror de um período de guerras e genocídios, alternando com a vida cinzenta do meio industrial mais inumano. A atonalidade como sistema nunca deu ao mundo nada de génio. A electrónica pura e dura ainda menos. A pintura conseguiu dar continuidade ao génio em novas abordagens visuais; a música não.

Curiosamente, foi da juventude rebelde com conhecimentos mínimos de música, baseada em tradições de folclore ou música popular urbana, que surgiu uma lufada fresca de criatividade: foram os 'anos de ouro' 60 e 70 no Reino Unido e nos Estados Unidos. Melodias, arranjos, ritmos, formas, instrumentos, estruturas, tudo surpreendeu pela novidade e por autêntico vigor criativo, por vezes prolífico. Mas, claro, o tal "toque divino" continuou ausente.

Por tudo isto sinto-me compelido a fazer uma espécie de disclaimer, uma declaração de rejeição que marque a minha antipatia por uma música dita "erudita" onde não encontro nem chama de génio, nem sensibilidade ao belo, nem nada que se aproxime de uma superior alma criadora transcendente do comum humano. Música que infelizmente teima em contaminar a programação das salas de concerto, numa mania educativa que é um apologia voluntarista de valorizar o presente ao mesmo nível do passado, como se a equivalência de épocas fosse obrigatória. Já se chegou ao ponto de intercalar peças clássicas com peças modernaças, numa falta de respeito pelos compositores, pela autenticidade e pelo público. A Casa da Música optou com muita pena minha pelo protagonismo da música "contemporânea", ah ah - disfarça muito bem as más interpretações, e é bem mais fácil fazer passar músicos de qualidade medíocre.

Tanto mais que compositores há que, usando a tonalidade com incursões dissonantes, conseguem com algum talento continuar a criar música sábia, bela e envolvente, que é como se sabe o caso de Gorecki, Arvo Pärt, Philip Glass.

Os MAUS:
Schonberg, Berg, Bartók, Ligeti, Messiaen, Boulez, Berio, Nono, Xenakis, Cage, Stockhausen, Nunes, Reich.
Não gosto nada de Boulez compositor. Como maestro, esteve bem em Mahler e Wagner.

Aqui fica a chiadeira desagradável e desafinada de Pli selon Pli, tida como obra prima de Boulez.
Anti-homenagem ! Buuu !




4 comentários:

Anónimo disse...

Philip Glass com um apontamento positivo aqui n'O Livro de Areia? Sabe que foi o Mário quem me atirou com Glass para um canto?

Andava eu a pôr na minha lista de afazeres conhecer mais coisas de Glass, quando leio n'O Livro de Areia que ele é repetitivo. Foi algo assim, não me recordo das suas palavras, Mário, mas fez-me analisar a criatividade do senhor. Desde então, tudo dele me soa ao mesmo. Ainda hoje gosto muito de ouvir o álbum Glass Reflections, com o Conjunto Ibérico. Também ouço um par de músicas da banda sonora do filme "As Horas", mas só duas e se for um solo no piano. Algumas partes de umas óperas, para correr, são boas. Já viu como é isto dos blogues? Nunca sabemos quando é que vamos marcar uma pessoa. hahaha

Bom fim-de-semana!

Mário R. Gonçalves disse...

Faça-me justiça, Ana, please:

http://olivrodaareia.blogspot.pt/2012/08/impressoes-de-primeira-audicao-nona-de.html

http://olivrodaareia.blogspot.pt/2010/05/12345678.html

Quando classifiquei Glass como minimal repetitivo, isso não era uma expressão de desdenho, é simplesmente como o estilo de Glass (e Reich, e Adams)começou por ser conhecido, expressão que já vinha de uma corrente de Jazz.

Não tenho culto de Glass - que produziu demasiadas obras menores - mas amiro o Photographer, as Sinfonias (nem sempre), o concerto para violino, parte das Glassworks, Airplanes on the Roof...

Mal entendido, certamente :)

Anónimo disse...

Nem chega a ser mal entendido. Por essa referência, fiz eu a minha análise e tirei as minhas conclusões sobre Glass. Não tinha como saber qual a sua posição com Philip Glass! Mas marcou a minha, da forma como referi, com certeza. :)

Virginia disse...


Tem graça que quando vi a notícia da morte de Boulez no Publico, pensei para mim própria. Não me afecta.
Há compositores que não me atraem de modo nenhum.
Philip Glass, pelo contrário, encantou-me durante algum tempo. Ouviu-o pela primeira vez cantado pelo coro do colégio alemão do qual faziam parte os meus filhos. Comprei as óperas dele. Depois fui er filmes em que o soundtrack era como um protagonista extra, intenso e dramático. Ouvido seguido é capaz de se tornar monótono e repetitivo, sem dúvida.
bom fim de semana!