Continuando sob o tema "cidades".
Se há outro autor que bem podia ter apadrinhado este meu "Livro de Areia" é Italo Calvino, como Borges um genial escritor de fantasias e paradoxos.
Toda a gente leu (não ter lido é crime) As Cidades Invisíveis. O relato é magnífico no seu todo, mas a leitura continuada prejudica a atenção aos detalhes, e a cada uma das cidades. Hoje apetece-me salientar Zora, que aparece no livro indexada
Le città e la memoria.
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ZORA
[Versão original, seguida de tradução minha.]"Al di là di sei fiumi e tre catene di montagne sorge Zora, città che chi l'ha vista una volta non può più dimenticare. Ma non perché essa lasci come altre città memorabili un'immagine fuor del comune nei ricordi. Zora ha la proprietà di restare nella memoria punto per punto, nella successione delle vie, e delle case lungo le vie, e delle porte e delle finestre nelle case, pur non mostrando in esse bellezze o rarità particolari. Il suo segreto è il modo in cui la vista scorre su figure che si succedono come in una partitura musicale nella quale non si può cambiare o spostare una sola nota. L'uomo che sa a memoria com'è fatta Zora, la notte quando non può dormire immagina di camminare per le sue vie e ricorda l'ordine in cui si succedono l'orologio di rame, la tenda a strisce del barbiere, lo zampillo dai nove schizzi, la torre di vetro dell'astronomo, la edicola del venditore di cocomeri, la statua dell'eremita e del leone, il bagno turco, il caffè all'angolo, la traversa che va al porto. Questa città che non si cancella dalla mente e come un'armatura o un reticolo nelle cui caselle ognuno può disporre le cose che vuole ricordare: nomi di uomini illustri, virtù, numeri, classificazioni vegetali e minerali, date di battaglie, costellazioni, parti del discorso. Tra ogni nozione e ogni punto dell'itinerario potrà stabilire un nesso d'affinità o di contrasto che serva da richiamo istantaneo alla memoria. Cosicché gli uomini più sapienti del mondo sono quelli che sanno a mente Zora.
Ma inutilmente mi sono messo in viaggio per visitare la città: obbligata a restare immobile e uguale a se stessa per esere meglio ricordata, Zora languì, si disfece e scomparve. La Terra l'ha dimenticata."
Para além de seis rios e três cadeias de montanhas surge Zora, cidade que quem a viu uma vez nunca mais pode esquecer. Mas não por ela deixar como outras cidades memoráveis uma imagem fora do comum nas recordações. Zora tem a propriedade de ficar na memória ponto por ponto, na sucessão das ruas, e das casas ao longo das ruas, e das portas e das janelas nas casas, embora não apresentando nelas beleza ou raridade particulares. O seu segredo é o modo como a vista corre sobre figuras que se sucedem como numa partitura musical em que não se pode mudar ou deslocar uma só nota. O homem que sabe de cor como é feita Zora, à noite quando não consegue dormir imagina-se a caminhar pelas ruas e recorda a ordem em que se sucedem o relógio de cobre, o toldo às riscas do barbeiro, a fonte de nove esguichos, a torre de vidro do astrónomo, o quiosque do vendedor de melancias, a estátua do eremita e do leão, o banho turco, o café da esquina, a travessa que leva ao porto. Esta cidade que nunca se apaga da mente é como uma armação ou um retículado em cujas quadrículas cada um pode dispor as coisas que quer recordar: nomes de homens ilustres, virtudes, números, classificações vegetais e minerais, datas de batalhas, constelações, partes de um discurso. Entre todas as noções e todos os pontos do itinerário poderá estabelecer um nexo de afinidade ou de contraste que seja como uma chamada instantânea para a memória. E assim é que os homens mais sábios do mundo são os que conhecem de cor Zora.
Mas foi inutilmente que parti em viagem para visitar a cidade: obrigada a permanecer imóvel e igual a si própria para melhor ser recordada, Zora definhou, desfez-se e desapareceu. A Terra esqueceu-a.
Italo Calvino, As Cidades Invisíveis.
1 comentário:
Confesso que não li... mas fiquei com vontade de ler! Vou à procura.
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