terça-feira, 11 de outubro de 2016

Dolce vita na minha ♥casinha de praia



Está-se bem no nosso refúgio à beira-mar, sobretudo quando uma mudança de tempo traz a paragem do vento, tardes suaves com nuvens esfiapadas ou aos cordeirinhos e pores-do-sol bíblicos.


Nunca tinha observado com tanta atenção os fenómenos atmosféricos e o modo como transformam a paisagem, as incidências da luz ou da sombra ou da penumbra, as diversas cores da luz, do azul ao amarelo, laranja, vermelho; os matizes das dunas com luz rasante, e as texturas que as paliçadas desenham entre a areia e a vegetação...



... e o modo como ventos diversos levantam as ondas, enfunando-as ou, pelo contrário, fazendo espumar as cristas. E as aves sentadas na praia ao crepúsculo, enfileiradas contra o vento ?  e as formações em linha ou em V da passarada que voa ao fim do dia para a reserva do Cabedelo, na foz do Douro ? tem tudo a ver com o vento e a direcção da luz.

Tenho aprendido, portanto, a observar.

Cores fortes de fim de Verão

Luz cor-de-areia

Azul-cinza de névoa no mar

Luz azul de fim de tarde




Dama Lua a enfeitar a noite...



Os homens também têm graça, sobretudo de bicicleta, e ainda mais se forem mulheres :) . Esforçadinhos, esbaforidos, a gingar com o esforço de pedalar se vão contra a nortada; uns heróis da velocidade, peito levantado, em roda livre, se o vento está de favor por trás... a variedade de posições sobre o selim dava um tratado. Estrangeiros, muitos, a sorrir ao vento, vêm do Norte e isto não é nada...


Também dependem do vento e das marés os surfistas ! É uma animação, quando as ondas vêm quebrar certinhas numa barra de espuma, vê-los a deslizar rápidos, em zig-zags.



Ao lusco-fusco e noite adentro surgem, discretos, quase secretos, os pescadores. Gosto de os ver empoleirados nos rochedos - se bem que seja mais perigoso - e mais ainda se estiver um grupo em linha, mais acima e mais abaixo conforme o relevo da rocha. Em contra-luz dão uma imagem poética, ora de solidão corajosa ora de equipa de bravos, conforme.





Há profusão de barcos que passam - barquitos de pesca, pequenos veleiros, traineiras mais ao longe, e os enormes cargueiros de contentores no horizonte, à espera de entrar em Leixões ou já de partida, como nesta sequência de fim de tarde, com as cores reais como a máquina as registou:




e com gaivota:


Também não faltam irritações, claro.

A maior são as moto-4 de escape aberto, aos estouros. Por mim podiam ter 4 furos, era bem feito. Depois há os cavalos, de uma escola perto que vem treinar em passeio. Deixam marcas insuportáveis, seja na pista, no passadiço ou na areia. Gente queque mal-educada. Dão um trabalho ingrato à equipa que todas as manhãs limpa a pista.

Ah, aquela tábua empenada onde às vezes tropeço...

Há ainda um (e só um) bar com volume de som para ser ouvido a dez quilómetros; felizmente, é só à vezes, quando tem disc-jockey e encontro de motards, por exemplo. ou casamentos. Deixa de se ouvir o mar de todo; já bastava o ruído incómodo das camionetas, faltava só o bum-bum da banda sonora electro ou lá o que é.


Durante a semana é mais sossegado, valha-nos isso. Pista vazia, mim de bicicleta... ir tomar café lá adiante ao "Cremosi", ou ao "De'licious", é um must, se o tempo está de feição. Agora abriu um que serve Musetti, aromático, excelente. O croissant matinal sabe pela vida - ainda não entrei em nenhuma dieta especial, tenho de aproveitar ;). Almoçar na varanda ao ar livre tornou-se nossa regra, e um sonito pelas 4 ou 5 da tarde, banhado pelo sol na espreguiçadeira, é um daqueles privilégios que me fazem sentir imensamente rico e sortudo. Mesmo que sejam atributos desmentidos pelos factos e pelas atribulações da vida.


Agora está o Inverno à porta, e chuvadas puxadas de Sul não se costumam aguentar - a casa é virada a poente e a sul. Mas vai saber bem ficar dentro à lareira, com a Pure Classic a encher o espaço de música boa e talvez a surpresa de uma fugidia aberta a encarnar as paredes, ou de relâmpagos caindo no mar.


Entretanto ainda vai havendo preciosas horas de sol.





Decididamente, dantes não via nada disto com olhos de ver.





8 comentários:

Fanático_Um disse...

Visitar este blogue é invariavelmente um gesto sensato porque aprendo sempre muito. Hoje foi mais intenso porque, a partir das coisas banais que vivemos dia a dia sem nos apercebermos, o Mário revelou, com o seu engenho único, o prazer das coisas simples do quotidiano que, quase sempre, não valorizamos, talvez fruto da pressão laboral do dia a dia. Fiquei muito sensibilizado com a leitura e observação das imagens que publicou, vi várias vezes e agradeço-lhe ter-me proporcionado uma enorme satisfação num fim de dia extenuante, como quase todos os outros.

Táxi Chuvoso disse...

Experiências sensitivas precisam-se cada vez mais :)

Gi disse...

Mário, a sua casinha parece encantadora, e a maneira como a desfruta abre o apetite enquanto ao mesmo tempo aponta à serenidade. Gosto muito. Aqui tento cada vez mais libertar os fins de semana para gozar o tempo.

Virginia disse...


Que goze a 100% desse lar...

A vida é curta e não há ada como os prazeres singelos do dia a dia. Cada vez os aprecio mais...

Bom fim de semana.

Mário R. Gonçalves disse...

Fanático_Um,
sou um homem de sorte até nos comentários que de si recebo. Obrigado.

Táxi Chuvoso,
Não me tinha apercebido até há pouco, mas concordo, embora o meu post seja pobrezito enquanto "experiências sensitivas". Volte sempre.

Gi,
acertou, é isso mesmo, serenidade. Precisa-se, também. Força com essa libertação !

Virgínia,
Pois é, a idade traz coisas boas como estas atenções ao mundo. Boa semana !

O Sorriso do Gato disse...

Muito bem!
Escutar e observar sempre foram o meu refúgio, o meu mundo secreto.
Como compreende esses deliciosos fins de tarde ou as manhãs cheias de promessas de recomeço...
Aprendi isso com a minha avó quando ainda nem dez anos tinha. E ficou para sempre.
Costumo fazer o meu sorriso à gato da Alice... silencioso e fugidio.
Abraço.

PS:
Aqui vai uma oferta

Contigo descobri o silêncio do entardecer.
Como flutuava a narrativa
pela tua palavra cheia de uma tristeza aceite.
Aprendi a serenar
entre o tumulto das multidões
e a filtrar da vida o que nos faz.
Descobri que caminhar a teu lado
Era ver-me
Era ouvir-me por dentro sem saber que ouvia
E suportar as minhas fugas, afinal sem grande razão.
Só hoje entendo a inexplicável alegria que te habitava
Sempre que me calo e apaziguo o ruído dos dias, sem ressentimento.
Sabes
Guardei sempre comigo o silêncio do entardecer.
Sento-me e ouço o burburinho da cidade coado pela distância.
A distância que nos preserva.
Sigo as gaivotas no seu voo como outrora seguíamos as pombas
Mas sabes,
Falta-me o som da tua voz misturada ao chicotear das folhas da palmeira
e o cheiro das mimosas que nos entrava pela sala
e aquele amarelo de que dizias com ar malicioso
Se não fossem os gostos…

Mário R. Gonçalves disse...

Lindo, Ilda.
Bem mais lindo que as minhas fotos.

Ofertas assim... ;)

Tink disse...

Realmente a gente não liga ao que nos rodeia e, se observarmos com atenção, conseguimos encontrar maravilhas. Para isso também é preciso ter uma vista privilegiada e uma capacidade especial, um tanto poética. E o Mário tem isso tudo... Celina