quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Londres, frio, meio enevoado, Manon Lescaut & o que mais se verá



Vou dar um salto a Londres. É uma data especial, não chove e aproveito para frequentar os mercados de Natal de Belgravia. E vou à Royal Opera House - está lá a Manon Lescaut de Puccini, que nunca vi, dirigida por Pappano.


Outras visitas poderão incluir a British Library, o Victoria and Albert Museum, a Saatchi Gallery, a Tate Britain e um musical do West End.


Sítios quentinhos onde possa evitar o frio da rua mais o famoso fog, e aprender alguma coisa nova.


Tudo o que me agradar será aqui reportado.
Volto em breve, 'back soon.


segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Casa da Música para 2017 - tudo na mesma senão pior. Destaques.


Vou evitar lamentos e queixas da programação da CdM para 2017, não vale a pena e já cansa. As opções habituais mantêm-se, sem a mínima novidade, a pobreza é confrangedora, ponto final.

Pelos vistos o público aderiu em massa às assinaturas, pois muitos concertos estão à beira de esgotados, sobrando só os cantos da sala. É bom, isso, muito bom, só que o que se vê depois são enormes clareiras na sala de gente que afinal tem bilhete mas não aparece. Devia, de facto, haver um sistema eficaz de devoluções com venda a preço reduzido.



O ano supostamente 'inglês' tem muitíssimo pouco, e fraco, de inglês. Ponto alto seria a vinda de Nicholas McGegan em Novembro, se o programa (sinfonias irrelevantes de Haydn - a 89 - e Mozart - a 25-) fosse outro.

A temporada barroca quase não conta com ninguém de jeito a não ser a prata da casa. Quase, porque vem Rachel Plodger, a violinista barroca, que também irá dirigir a orquestra. De resto, Sokolov, sua Excelência, naturalmente; e o virtuoso oboísta Martin Gabriel. 

Vão ser executadas as quatro sinfonias de Brahms (mas o ano não é inglês !? ), e uma ou outra poderão valer a pena: Joseph Swensen, Leopold Hager talvez. Tudo o que for dirigido pelo titular Baldur Brönnimann é concerto estragado, o senhor não tem qualquer entusiasmo em dirigir, parece mais um autómato alimentado a lítio e berílio. Um tarefeiro seco, frio, inerte.

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Vamos então aos destaques. Os meus destaques, claro.
  • Sokolov, o grande, vem dar a récita anual da sua tournée habitual que também passa na Gulbenkian. É a 25 de Abril e vai ter Mozart, bless him.
  • Rachel Plodger vem dirigir a orquestra barroca da Casa a 8 de Janeiro em obras para violino: Handel (HWV313), Vivaldi (RV204,198a), Purcell (música de cena), Bach (BWV1041). Promete !
  • Falando ainda de violino, Frank Peter Zimmermann vem interpretar o op.61 de Beethoven a 27 de Maio, dirige Leopold Hager. Um grande talvez, ouçamos um chisquinho de Zimmerman em Brahms:


  • Um belo concerto parece expectável a 19 de Maio. Leopold Hager, de novo, vai dirigir o K 314 para oboé de Mozart com Martin Gabriel, o famoso oboísta da Filarmónica de Viena; e ainda a 8ª de Beethoven, pouco ouvida.
  • Das sinfonias de Brahms, o melhor programa é o de Olari Elts, que a 2 de Junho dirige a , completando com a de Schubert e a abertura Leonora nº 3. Numerologia ?  
[ A 2ª sinfonia, a que mas aprecio, vai ser desidratada e esterilizada por Brönnimann em Dezembro.]
  • Uma incógnita tentadora é a Sinfonia Alpina de Strauss, obra megalómana, de grande dimensão orquestral e difícil, que Michael Sanderling dirige a 20 de Outubro, com a orquestra da casa. Vai ter de ser muito, muito bem ensaiada. Se não acontecer um desastre já me dou por feliz.
  • Finalmente, Leopold Hager volta para o Requiem de Mozart a 4 de Novembro

Há ainda o programa não-clássico - jazz e outros. Vou só salientar a muito apreciada Stanley Clarke Band a 3 de Maio.



quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Insisto: as Cantatas de Bach na edição do 'Projecto Bach' (Bach-Stiftung) de Rudolf Lutz.




Estou completamente rendido a esta nova edição integral das Cantatas. Uma colecção-maravilha que deixa na prateleira muitas (excelentes) que eu dera como escolha definitiva. Um festival de Bach cuja audição é uma alegria e um gosto.

Já aqui publiquei duas magníficas árias, 'Wohl euch, ihr auserwählten Seelen' (BWV 34) e 'Auch mit gedämpften, schwachen Stimmen' (BWV 36). Insisto então com mais uma selecção do melhor que consegui:

Da BWV 59, o Coral 'Komm, Heiliger Geist, Herre Gott', belíssimo.


Da BWV 63, a 'Aria: Ruft und fleht den Himmel an', um fantástico dueto para tenor e contratenor (alto).



Da BWV 84, uma curiosa ária para soprano com Gerlinde Sämann: 'Ich esse mit Freuden mein weniges Brot'.


Da BWV 89,  'Gerechter Gott, ach, rechnest du?', agora com a voz de Nuria Real a tecer um entrançado com a flauta.


e a terminar:
Da BWV 191, o 'Gloria in excelsis'. 


Também estão disponíveis em stream.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Guimarães Jazz 2016


Como de costume, lá vou dar um saltinho à cidade-berço por alturas do festival de jazz. Este ano vou com fracas expectativas - a programação deixa mais a desejar que em edições anteriores. E vai estar tempo de chuva...


O que vale sempre é o ambiente no C.C. Vila Flor.
Deixo um video do Adam Baldytch & Helge Lienn Trio, que espero ouvir no sábado.



Até breve.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Boa estreia do Divino Sospiro na CdM, brava Francesca Aspromonte.


Não desiludiu a estreia do Divino Suspiro na Casa da Música. O desempenho cumpriu os mínimos para um agrupamento barroco, lamentando eu apenas a sonoridade demasiado fininha, a precisar de ser mais encorpada; penso que talvez se conseguisse duplicando alguns instrumentos e optando por um desempenho mais enérgico.
Francesca Aspromonte foi a estrela da noite, sobretudo quando a voz aqueceu. Foi melhorando, e a sua 2ª parte foi brilhante, encerrando em beleza com a pirotécnica "Alleluja" do Exultate Jubilate de Mozart.

Divino Sospiro
Massimo Mazzeo direcção musical
Francesca Aspromonte soprano

Programa:

Domenico Cimarosa
  Sinfonia “Il Maestro di Cappella”
Niccoló Jommelli
  “O fa che m’ami" da Serenata “L’Endimione”
Charles Avison
  Concerto grosso nº 3
David Perez
  "Non so dir" da Serenata "L'Isola Disabitata"
W. A. Mozart
   Recitativo e Ária “Strider sento la procella" de “Lucio Silla"

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Pedro António Avondano
   Ária “Ah se ho da vivere
Charles Avison
    Concerto grosso nº 5
W.A. Mozart
    Motete  Exultate Jubilate


Deixo aqui um breve "cheirinho" dos dotes vocais de Aspromonte numa aria de concerto de Haydn, Solo e Pensoso, dirigida por Giovanni Antonini:

sábado, 12 de novembro de 2016

Dance me to the end of Love: Leonard Cohen 'ilustra' Matisse


Deu-me dezenas de canções bonitas para tocar na guitarra, cantando poemas misteriosos de amores e amizades, com frases construídas com um engenho mágico que as fazia 'colar' à melodia - ou vice-versa - transmitindo imagens quase surreais, num ambiente melancólico, saudoso de não sei bem o quê. Acompanhou-me em muitos serões, foi uma parte importante dos meus twenties, provavelmente moldou parte do que sou, como um pai.

And you want to travel with her,
And you want to travel blind
And you know that you can trust her 
For she's touched your perfect body with her mind


Em vez de música - os media agora saturam em homenagens - deixo algumas fotos de um livro ilustrado com versos de Cohen sobre obras de Matisse. Um encontro feliz de duas artes.


Dance me through the curtains that our kisses have outworn


Dance me to your beauty with a burning violin


Se querem ouvir o poeta, voltem ao discurso de aceitação do Prémio Príncipe das Astúrias, um verdadeiro Poema:




sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Passeio entre matizes outonais no Parque


Parque da Cidade, 17h, sol baixo de Outono. Tapete fofo de folhas - plátano, choupo, carvalho, amieiro, magnólia. 



Do pálido ao verde-escuro, passando por todos os dourados e verdes.





Olhando para baixo, a tapeçaria que o sol tece:




Voici que la saison décline,
L’ombre grandit, l’azur décroît,
Le vent fraîchit sur la colline,
L’oiseau frissonne, l’herbe a froid.


Victor Hugo, Feuilles d'Automne


                                         Time hurries on
                                         And the leaves that are green  

                                         turn to brown
                                         And they wither in the wind
                                         And they crumble in your hand

Paul Simon



segunda-feira, 7 de novembro de 2016

As democraduras, invenção de fim-de-século consolidada no século XXI


Democradura, palavra inventada pelo escritor uruguaio Eduardo Galeano e também título de um livro:
La Democrature: Dictature camouflée, Démocratie truquée
Max Liniger-Goumaz

Sim, sim, vai-se a eleições aparentemente livres, há partidos e tudo; mas só um tem possibilidade de vencer, e depois tenta eternizar-se no poder e dominar todos os meios produtivos e informativos. Exemplo: um recente estudo sobre liberdade informativa põe a Turquia de rastos; depois do golpe, a entourage de Erdogan tudo controla, tudo corrompe, trata qualquer oposição com violência, ódio, desprezo.

Mas assim é também no Congo de Kabila, na Angola de Eduardo dos Santos,  na Rússia de Medelev/Putin, assim na Bolívia de Morales, na Cuba dos Castros, assim na Venezuela de Chávez/Maduro, e vários da Ásia central (Cazaquistão,...) e do Sul. Até o Irão embarca na imagem de democradura, com eleições, mas esse ainda é medieval, cultiva o atraso com afinco.

Às antigas ditaduras militares golpistas sucederam as democraduras civis legitimadas pelo voto. À "ameça comunista" ou à "ameaça fascista" que justificavam as ditaduras, sucedem as teorias da conspiração: existe um complot, um eixo do mal, uma conspiração enfim, venha ela de Madrid, Washington, Miami, Londres, Adis Abeba, Moscovo, União Europeia ou até Lisboa. Daí a 'suspensão' da democracia.

Na Rússia, Putin sucede a Medvedev sucede a Putin ....Na Bolívia, Evo Morales vai para o quarto mandato sucessivo, tendo para isso alterado a Constituição, modelo adoptado também por Mugabe no Zimbabwe, no poder há 36 anos por via eleitoral, ou Nazarbayev no Cazaquiatão há 18 anos, e por quase toda a Ásia central onde as ditaduras se procuram disfarçar (mal). "Que é que querem mais? Fomos a votos, ganhamos." E viva o fingimento, o verbo actual é 'fingir'.

Era preciso que a UN / ONU definisse democracia e ditadura, tornasse claro quem está em regime de liberdade autêntica e quem em regime de semi-liberdade condicionada. Liberdade não é beber coca-cola ou usar mini-saia, ter carro ou conseguir passar nos jornais (porque os jornais já são semi-livres, condicionados); nem sequer basta ter acesso às necessidades básicas, saúde e escola. Urge definir democracia como o regime onde há liberdade e impunidade de denunciar, sobretudo de denunciar abusos de poder.

Lista de Democraduras (provisória - aceitam-se sugestões):

Angola, Bolívia, Cazaquistão, Congo, Cuba, Rússia, Turquia, Venezuela, Zimbabwe.


Não incluí as pseudo-democracias islâmicas, que cumprem 'tudo' (!) menos a igualdade de direitos de género e de etnia, os direitos sindicais, a liberdade de vestuário... nem incluí a democracia indiana com as suas castas... nem os países sob ameaça bélica, de democracia semi-suspensa, como Ucrânia ou Arménia...

Outra lista é a das ditaduras puras e duras. Essa parece agora mais curta: Coreia do Norte e China e alguns africanos. Triste consolo.

Ah Europa, por mais mal que de ti digam, que luminoso oásis ! Não é uma organização deficiente nem líderes fracos que fazem uma democracia sadia, mas que diferença mesmo assim, és o modelo, o 'standard', para avaliar outros regimes. E que luminosa a tua extensão aos antípodas.
'Euro-Oceanic Democratic Community'


Amaldiçoados sejam pois os que nos querem fora da Europa.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Visita a Joan Miró em Serralves, † BPN


Depois da romaria inicial, pude enfim ir à Casa de Serralves ver as obras de Miró da colecção do ex-BPN que pelos tortuosos acasos da vida ficaram - parece - ao cuidado da autarquia do Porto. Provavelmente teremos estar gratos a um enorme conjunto concorrente de circunstâncias - ambição e falência do BPN, Christie's, Estado português, Parvalorem, Rui Moreira, e sei lá quem mais. Fico baralhado, mas tamanha confusão ao fim e a cabo produziu algo que me apraz saudar: obras de Arte do grande Joan Miró na geralmente tacanha e provinciana cidadezita onde moro. Vivam as trapalhadas, então.


Lá em cima , 'Toile brûlée',1973

Não é uma colecção, já se sabe; o BPN, com a mania das grandezas associada à má gestão, adquiriu entre 2000 e 2006 um "fundo de stock", talvez para abrir um museu BPN em Portugal. A sorte (para mim) é que inclui obras do melhor período de Miró.

A abrir:

' Tête', 1937


Uma das mais notáveis é esta obra, utilizada no folheto e na publicidade:

'Le chant des Oiseaux à l'Automne', 1937

'Personnage et étoiles dans la nuit', 1965, vale milhões.

'Peinture', de 1936, outra que vale milhões. Gosto, mas pouco.

'Personnage et oiseaux', 1965. Adoro. O traço a sobrepor-se às manchas de côr numa dinâmica de fantasia, quase bailado.

e o meu favorito:

' Signes et figurations', 1935



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Que balanço? As melhores safras são dos anos 30 e dos anos 60. Cinco ou seis magníficas obras de arte que felizmente cá ficaram, o resto bem se podia ter vendido.

Agora, os toques de vinagre.

O tão gabado trabalho do Siza parece, como quase sempre, de uma grande vulgaridade. Tapou as janelas com cortinas, óbvio, e mandou fabricar uns painéis, olha a grande coisa, não ia estragar as paredes. É que não se vê mesmo que pudesse ser de outra forma. Mesmo assim, há salas onde os reflexos são de mais e a luz de menos.

Uma irritação, grrrrr, aliás duas: essa coisa de "os Mirós", por favor, que tuga. Alguém diz os Paulas Regos ? os Miguel Ângelos? os Rafaeis? os Da Vincis ? falámos de quê, da família? Se querem abreviar, é os Miró.

Pior, sim ainda piorrrr, é a história do 'catalão'. Miró é um pintor ESPANHOL, essa é a sua nacionalidade de facto, àgora catalão. Ou vamos dizer o beirão Cargaleiro, o sãotomense Almada Negreiros? Hergé, autor de BD valão ? Brel, chanteur flammand?

diz a Wikipedia: 
Joan Miró i Ferrà (...) was a Spanish painter, sculptor, and ceramicist born in Barcelona.
Joan Miró i Ferrà  (...) fue un pintor, escultor, grabador y ceramista español.

e muito bem

O artigo do Expresso é particularmente irritante nestas calinadas, tanto mais que o autor, Celso Martins, nitidamente enviesado, salienta duas obras sem interesse nenhum e nem refere as mais notáveis, desvalorizando o conjunto que preferia ter sido vendido. Enfim. Não vai ficar em Lisboa.

'Personnages dans la nuit', 1968

Catálogo aqui.