quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Visita ao Victoria & Albert Museum - altares góticos, o famoso códice Forster e a châsse Becket.


Faltava-me ainda a visita a este grande - enorme - museu de Londres. Desembarquei dos escuros subterrâneos em King's Cross / Pancreas Station ao meio-dia frigidíssimo mas soalheiro do primeiro dia de Dezembro e dei com um ringue de patinagem no gelo e um carrossel de cavalinhos à frente do majestoso Museu de História Natural.

Uma festa quase surreal de luz fria.


E dei meia volta: é no sentido inverso que fica o V&A, fundado por Sua Alteza a Imperatriz da ... Índia !


O espólio acumulado é impressionante. Não fica aqui senão uma breve aproximação à riqueza das muitas dezenas de galerias do V&A. Pensava que o British e a National Gallery já bastavam para uma capital desta dimensão, pois bem: o V&A está ao mesmo nível. E não, não é apenas um museu de "artes decorativas".

Entra-se (grátis!)  e a grandiosidade deslumbra. Logo ali, as galerias altas de escultura e as de arte Medieval e Renascença.

Os Argonautas ?


O Jason em mármore do jardim de um palácio florentino, da segunda metade do séc. XVI, domina a primeira sala.



Mais adiante, esta fantástica miniatura em bronze provém da Pádua renascentista. O autor é Andrea Briosco (Il Riccio), escultor prestigiado em Florença. Representa um guerreiro a cavalo que parece gritar ordens.

Il Cavaliere Urlante, 1510.



Segue-se a sala gótica: altares como este, vindo de Boppard (Reno), o "altar de Santa Ana":

Talha pintada e dourada, ca. 1500. Vale a pena ver em tamanho grande (clicar).

Um baixo relevo impressionante de vitalidade.

Ou como este fabuloso tríptico vindo do Norte da Alemanha, onde escapou à Reforma:
Altar de Sta Margarida, Lüneburg (?), 1520.
http://www.vam.ac.uk/content/articles/t/st-margaret-altarpiece/



O Códice Forster é um dos tesouros do Museu. Trata-se de um conjunto de cinco cadernos de notas e desenhos (geometria, mecânica, movimentos, pesos, teoremas...) de Leonardo da Vinci, datados entre 1490 e 1505, que foram mais tarde agrupados em três volumes encadernados em pergaminho. Andaram de mão em mão durante séculos até chegarem ao escritor John Forster, que os doou ao Museu no séc. XIX.

O primeiro volume tem duas partes, I-1 e I-2.

Codex Forster I-2 (Milão, ca. 1487–90)

Estão escritos em "espelho", da direita para a esquerda, como Leonardo costumava fazer, não se sabe bem porquê. Neste conjunto, a maioria das páginas tratam de problemas de hidráulica. Sem "espelho":

Logo a seguir, outro volume belíssimo, um livro de Salmos impresso sobre pergaminho em tinta de ouro e pigmentos, impresso em 1495 na tipografia de Johann Schönsperger.


Schönsperger trabalhava com um ourives numa grande oficina de impressão em Augsburgo.

Uma jóia magnífica e rara é um Cofre Becket (Châsse Becket), um relicário (châsse) coberto a folha de cobre e ouro numa decoração exuberante. É o maior, mais bonito e mais antigo destes relicários (Limoges, ca. 1180–90).


Os cofres eram destinado a conter as relíquias de St. Thomas Becket, arcebispo de Canterbury, assassinado em 1170.


O Becket estava em exibição na 'Opus Anglicanum', exposição temporária de bordado inglês medieval - o bordado made in England. Não era exposição que me interessasse por aí além, mas tinha de facto tecidos luxuosos bordados a seda e prata. Gostei desta pálio funerário de um mercador de peixe:



E com esta sereia termino. Por esta altura o cansaço das pernas não aceitava mais quilómetros de galerias... pediam assento e café no pátio. Ásia e Américas ficam para a próxima.



Grande museu, o V&A.



2 comentários:

Gi disse...

Londres tem realmente museus maravilhosos. O que me mata é que são tão grandes e cheios de coisas que já não me lembro do que vi lá.

Mário R. Gonçalves disse...

O 'truque' é 1. voltar lá segunda vez, e 2. criar 'memórias' como este post... Desta vez queria regressar ao Tate Britain mas não deu tempo.
Prefiro entrar e ficar até os olhos estarem contentes e cheios, e sair antes que atinja a saturação. Só vi de uma assentada os museus suíços, porque têm as obras-primas todas concentradas num pequeno espaço.
Obrigado pelo comentário, Gi.