Viva aquele freixo no alto monte,
Verde e robusto; apenas o tocava
O brando vento, apenas o deixava
De abraçar pelos pés aquela fonte.
Tão soberbo, despois levanta a fronte,
Como pavão, do bosque donde estava,
Envejoso de ver que o mar cortava
Um pinho, que nasceu defronte.
Ora saiu da terra e foi navio,
Lutou c’o mar, lutou c’o vento em guerra:
Quedas viu ser o que esperava abraços...
Ei-lo que chora em vão seu desvario.
De longe a vê, chegar deseja a terra:
Não lh’o consente o mar, nem em pedaços!
D. Francisco Manuel de Melo (séc. XVII)
O freixo é uma árvore muito popular na mitologia escandinava e germânica. Para esses povos do Norte, a árvore cósmica – Yggdrasill – era um enorme freixo, referido com frequência nas Eddas: os seus ramos estendiam-se por toda a superfície da terra, o topo ascendia ao paraíso (Asgard) e as suas raízes fundiam-se no coração da Terra. O deus Odin abrigava-se sob a copa de Yggdrasill para reunir e tomar decisões, e foi nos seus ramos que se sacrificou.
Os druídas celtas invocavam também o freixo em tempos de seca para pedir que chovesse. Na mitologia celta, o freixo era uma arvore mágica, dos seus ramos fazem-se as famosas varinhas feiticeiras...
Freixo em flor.
O porte imponente e trágico do freixo presta-se também à pintura. Constable foi especialista: o pintor referia-se com enlevo à "ash tree" como dear lady, e várias vezes colocou freixos em primeiro plano nos seus quadros:
Uma 'Yew Tree' de Constable (detalhe de 'Flatford Mill')
O mais mítico freixo português é, obviamente, o de Freixo de Espada à Cinta:
'Só' cerca de 550 anos.
O famoso túnel de freixos de Marvão, na EN 246-1, foi um dos mais bonitos troços de estrada em Portugal, mas tem os dias contados. Doença e perigo condenaram as árvores a um abate progressivo.
Um Freixial ou uma Freixieira (toponímicas ainda existentes) é uma plantação de freixos. Coisa que já não há.
A silhueta de um freixo solitário no Inverno (Fundão).
O Teixo
Um teixo em... Teixoso !
O teixo é mais raro em Portugal, quer em bosque quer em jardim. Podendo alcançar os 3000 anos, é uma das árvores de maior longevidade. O teixo mais antigo de Portugal tem cerca de 700 anos, está perto de Bragança. Existem exemplares com centenas de anos, classificados como «Árvores de Interesse Público»; é o caso de um teixo na povoação de Teixoso, na Covilhã (acima).
O "Llangernyw Yew", teixo com 4000 a 5000 anos, um dos organismos vivos mais antigos do planeta. (Conwy, Gales)
A madeira é muito dura, resistente e elástica, parecida com o ébano; no passado foi uma das madeiras mais utilizadas no fabrico de arcos de caça e trenós. Segundo a lenda, os arcos de Robin dos Bosques eram fabricados com a madeira de teixo. É também usada para bengalas, tacos de bilhar, 'sticks' de hóquei.
O Jardim de Serralves tem alguns exemplares decorativos, devidamente tosquiados, uma jovem plantação na 'Clareira dos Teixos', e alguns exemplares antigos, ao todo 41.
Teixos decorativos em Serralves.
A folha e a seiva do teixo são venenosas, e por essa razão a árvore é odiada pelos pastores que podem perder as ovelhas. Por essa razão, só devem ser protegidos em bosques afastados das pastagens.
O fantástico tronco de um velho teixo.
A extrema resistência desta conífera não impediu o seu quase desaparecimento, restando poucas centenas em locais isolados e de difícil acesso. Só os incêndios do Verão de 2005 terão destruído cerca de 500 teixos, um rude golpe na já reduzida população nacional.
Lorton Vale
There is a yew-tree, pride of Lorton Vale,
Which to this day stands single, in the midst
Of its own darkness, as it stood of yore
...
Of vast circumference and gloom profound
This solitary Tree! - a living thing
Produced too slowly ever to decay;
Of form and aspect too magnificent
To be destroyed.
W. Wordsworth, Yew-trees, 1803
De vasta circunferência e soturno pesar
Esta Árvore solitária ! uma coisa viva
Que cresceu devagar e envelhece eternamente;
De forma e figura demasiado magníficas
Para que seja destruída.
Uma Teixeira é um bosque de teixos; deu nome a várias localidades e ao apelido de família. As Teixeiras abundavam por toda a região montanhosa do norte e centro do país, até aos 1500 metros de altitude; em Ourense resiste um bosque de Teixos fantástico, o Teixadal de Casaio, um bosque único na Península.
Está situado no Maciço de Peña Trevinca, onde se encontram mais de 400 exemplares.
Para acabar com música, uma melancólica canção irlandesa,
The ash grove
https://www.youtube.com/watch?v=4TIvM02DroI
The ash grove, how graceful, how plainly 'tis speaking
The wind through it playing has language for me.
Whenever the light through its branches is breaking,
A host of kind faces is gazing on me.
The friends of my childhood again are before me
Each step wakes a memory as freely I roam.
With soft whispers laden its leaves rustle o’er me
The ash grove, the ash grove alone is my home.
1 comentário:
Muito interessante e educativo. Obrigado Mário.
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