sexta-feira, 30 de março de 2018
Anedota pascal na Casa da Música, by Laurence Cummings (+ Eia ergo)
Já vou sempre de pé atrás aos concertos da CdM, cada vez mais frustrantes. Desta vez era a efemeridade do concerto Pascal, com uma reputada soprano Marie Lys, a Orquestra Barroca dirigida por Laurence Cummings e um programa de Bach (duas cantatas completas, que luxo) e Handel, salientando-se o Salve Regina HWV 241 que é poucas vezes executado. Diga-se en passant que nada tem a ver com o Ano Austríaco, hélas.
Começo por estranhar a falta do côro. Então a Orquestra não consegue um côro, mesmo reduzido a poucas vozes ? As cantatas de Bach têm sempre uma parte coral... enfim, seria a parte coral cantada apenas pela solista ? Depois, o primeiro violino não era Huw Daniel, que costuma ser imprescindível para transmitir dinâmica à orquestra. Será incompatível com Cummings ? Este, como de costume, dirigiu sentado ao cravo, outra menos-valia.
Ora sucede que tudo correu ainda pior. As cantatas executadas sem fervor nem empenho, uma monotonia quase a cumprir programa; a voz de Marie Lys é vulgar, pobre de fôlego, pobre de agudos e de graves, inexpressiva, só com o mínimo de ginástica para cumprir (mesmo assim com um timbre anasalado); as partes corais ficaram tristemente entregues à sua vozita, que parecia exausta do esforço extra; excepto no derradeiro coral da BWV84, que foi cantado... por todos ! Os músicos da orquestra, fossem violinistas ou oboísta, fagote ou baixo, cantaram em coro com Marie Lys, como puderam. O efeito foi de surpresa, sim, mas de surpresa anedótica, porque saiu completamente pífio !
Pedro Castro, no oboé, ao centro.
Seria contudo injusto não ressalvar a brilhante participação (como sempre) do oboísta Pedro Castro nas cantatas. Já é a "estrela" da orquestra, tão indispensável e magistral é o seu desempenho. Parabéns.
Bom, cansados chegamos ao Salve Regina. A peça é curta mas bem bonita, o adagio e o Eia ergo foram executados decentemente, sem mais, tanto quanto pode ser por uma orquestra anémica, um dirigente sentado ao cravo, uma concertmeister apagada, uma voz menos que suficiente. Eis que à salva de palmas, com algumas alminhas de pé, se segue um encore, o famoso tema da Paixão Segundo S. Mateus de Bach - um coral ! A introdução orquestral aguentou-se; pausa; eis que se voltam todos de frente para o público, baixam os instrumentos, e se põem a cantar o famoso coral, maestro incluído, a cappella ! Grande ovação.
E foi esta anedota a prenda pascal da Casa da Música e a brilhante ideia do senhor Laurence Cummings para um concerto à quem quer e não pode.
Deixo aqui uma bela interpretação da HWV 241, por Carolyn Sampson e The Sixteen
(Eia ergo aos 5:44)
https://www.youtube.com/watch?v=vZNgYyVpZzE
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