Pronto, está eleito: é o melhor livro do ano, para mim: Time Peaces, de John Banville (capa aqui ao lado direito). *
« I am convinced, and will not cede in my conviction to any expert, that there is a special and unique quality to the bricks of which so much of Georgian Dublin is built. People speak of “red brick” houses, but red is the least of it: the colors range from rosy pink through cadmium yellow and yellow ochre to a chalky – textured madder, and burnt sienna, and patches, tiny patches, of a strangely aquatic, darkly shining purplish blue that seems to be picked out only by the light of certain late summer evenings. The hues alter subtly with each passing hour, from an early morning watery paleness to twilight’s glowing umbrage. And when it rains the bricks gleam and glitter like the flanks of a galloping racehorse.»
Estou convencido, e não cederei na minha convicção a nenhum especialista, de que há nos tijolos usados para construir grande parte da Dublin georgiana qualquer coisa de especial e único. Costuma falar-se das casas de ‘tijolo vermelho’, mas vermelho é o mínimo que se pode dizer: as tonalidades vão do cor-de-rosa carregado, assando pelo amarelo-cádmio e pelo amarelo-ocre, até à purpurina com textura de giz e ao ocre da terra de Siena queimada, tudo isto salpicado de manchas minúsculas, de um azul purpurino, estranhamente aquático, de brilho sombrio, que a luz parece pôr em relevo somente em certos crepúsculos do Verão tardio. Os cambiantes de cor alteram-se ubtilmente a cada hora que passa, da molhada palidez matinal às sombras resplandecentes do fim da tarde. E quando chove os tijolos brilham e faíscam como os flancos de um puro-sangue lançado a galope.
« And the great windows, how they flare and flash, furnace-white, with the sun on them, at dawn and dusk especially, when thet seem to be themselves the source of their own radiance.»
«The city breathes, it has its own life, apart from us, who are its parasites, its relentless, teeming virus.»
“Time Pieces” é uma passeio em zigue-zagues pelo passado, tanto o passado de Banville como de Dublin, ilustrado com evocativas e nostálgicas fotografias de Paul Joyce *. Banville conduz-nos por portais Georgianos, através de parques verdes povoados pelas sombras de memórias, descendo ladeiras empedradas molhadas pela chuva, entrando por pubs de outras eras. E conta histórias desses lugares; o género de histórias contadas numa noite íntima com amigos em que ninguém quer deixar que a conversa acabe.
Outro exemplo: Banville adorava os Iveagh Gardens, perto da catedral, pequeno jardim com grutas, fontes, cascata, bosque, e um labirinto que ele, nas muitas visitas com Stephanie, nunca conseguiu encontrar.
« Now, it is one thing to be lost in a maze, but that there should be a maze one cannot find seems to me a truly marvelous thing, a conceit straight out of a wonder-tale by Borges.Thinking it over, i entertain the fancy that if there were indeed to be an afterlife - horrible possibility - there would be worse ways of enduring it than in an endless Borgesian circular search for this ever-elusive garden feature within a garden.»
Também estou grato a John Banville por uma riqueza imensa de citações memoráveis, desde testemunhos históricos a poetas como Larkin ou Rilke, Yeats, Beckett, Joyce, Kafka ... Esta, por exemplo, da 9ª das Duineser Elegien :
But because being here amounts to so much, because all this
that's here, so fleeting, seems to require and strangely
concern us. Us the most fleeting of all. Just once,
everything, only for once. Once and no more. And we, too,
once. And never again. But this
having been once, though only once,
having been once on earth - can it ever be cancelled ?
Só uma vez, tudo, só por uma vez. Mas tendo sido uma vez, apesar de uma única vez, tendo sido neste mundo uma vez - poderá ser algum dia cancelado ?
Uma obra prima, a que ainda voltarei. E que vontade de revisitar Dublin.
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* Trad. portuguesa "Retalhos de um tempo", Relógio d'Água
** sobrinho bisneto de James Joyce...
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