Na Escânia sueca cruzam-se várias rotas antigas de peregrinos, que se encontram sinalizadas por se tratar de um património único que vem da época medieval (tardia na Suécia): várias dezenas de igrejas românicas, muitas delas de tijolo caiado, com torres de duas águas e empenas em degraus.
De viagem para Ystad, paramos em duas dessas igrejas brancas que dizem ser das mais antigas na Suécia. O interior é de uma simplicidade pobre, talvez ganhasse em ter a pedra nua; mas vistas na paisagem compõem uma arquitectura integrada única, algo estranha.
Começo por Harlösa, a nordeste de Lund. A Igreja de Harlösa está situada num alto - coisa rara por aqui - com um belo miradouro sobre a paisagem: um vastíssimo vale glaciar de há milhões de anos que atravessa em diagonal a Escânia, assente numa importante falha do substracto rochoso (falha de Vomb); o vale, agora verdíssimo, fértil como quase toda a região, é percorrido pelo pequeno rio Kävlinge. Geológicamente, é um canyon, um barranco sobre o abismo, que a sedimentação e a erosão amaciaram para pequena ondulação de terreno !
À entrada da igreja, um painel recorda que estamos numa das rotas de peregrinação centradas na Catedral de Lund.
Os Caminhos de Lund.
A Igreja de Harlösa é de pedra calcárea da região; deve ter sido construída nos séc. XI-XII, mas a torre é muito mais recente.
A maioria dos acrescentos são do séc XVIII e XIX. Os restauros tentaram recuperar a simplicidade medieval.
Nos bancos da frente, duas esculturas em madeira polícroma do séc. XVII:
A Igreja de Dalby é ainda mais antiga, talvez a primeira de pedra na Escandinávia (as igrejas Viking do início da cristianização eram de madeira, e há-as bem bonitas, sobretudo na Noruega).
Dalby foi uma das primeiras dioceses católicas, no século XI, sede de um importante bispado; deve ter sido construída por volta de 1060, mas foi sendo restaurada com acrescentos; do original há a preciosa pia, ou o triplo pórtico:
O inevitável incêndio no séc. XIV também obrigou a grandes obras, e a igreja aumentou para um grande mosteiro luterano, que as guerras com Dinamarca no séc XVII destruiram em boa parte. A edificação que vemos actualmente data de 1758.
A parede original em tijolo foi deixada à vista, no lado sul; mas o mais interessante é a pia baptismal de ca.1100.
E a luz do fim de tarde.
Não tenho por hábito correr capelinhas, mas neste caso havia a memória dos filmes a preto e branco de Bergman e Dreyer, com cenas marcantes no interior de igrejas. É uma viagem no tempo.
Tenho pena de não ter visto mais desta Rota. De coisas destas se fez (faz) a coesão da Europa.
1 comentário:
Obrigado Mário, consegue sempre fazer-nos ver e apreciar tantas coisas tão ricas que, provavelmente, só para elas olharíamos sem verdadeiramente as ver!
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