terça-feira, 15 de janeiro de 2019

E como estamos de Maestros ? (+ Mahler, Tchaikovsky)


Já se foram os grandes maestros do séc XX, ou estão reformados, como Roberto Chailly, Herbert Blomsted, ou estão no (esplêndido) canto do cisne, como John Eliot Gardiner ou Philippe Herreweghe.

Desde já declaro irrelevantes Dudamel e Barenboim, duas nulidades de quem não há uma única gravação que se recomende. A mediatização e consequente 'popularidade', em meios musicalmente ignorantes, devem-se à causa terceiro-mundista e à gesticulação e teatralização que Dudamel explora em seu favor. Mas só funciona ao vivo - qualquer gravação evidencia a vulgaridade medíocre e muitas vezes desagradável das más interpretações. Barenboim também é mais politico-mediático que musical, mas pelo menos tem algum talento: é melhor pianista que director de orquestra, e nesta função é apenas minimamente competente; ouve-se, mas não tem uma só gravação não-wagneriana recomendável. Sobre o Wagner de Barenboim não me pronuncio, porque é compositor praticamente banido das minhas audições; e quem não aprecia a obra, não pode avaliar quem a dirige... Outro mediático sem grande valor é Valery Gergiev, o russo, que dirigem bem música russa, esbracejando e suando de forma estudada e exagerada, mas descai na mediania nos clássicos europeus.

Indiferentes, tarefeiros competentes mas pouco mais, há muitos outros: Paavo Järvi, Roberto Abbado, Christian Thielemann, Pekka-Salonen, Phillipe Jordan, Nézet-Séguin...  Sem qualquer entusiasmo antes ou depois, pode-se sempre assistir a um concerto deles prevendo a decente mediania. Simon Rattle já teve o seu auge, está ainda capaz de concertos de excelência dentro do formato clássico canónico; mas não se esperam novidades desse lado. Menos ainda de Riccardo Muti, esclerosado num estilo seco e desafinado, é pessoa para canções napolitanas mas não para os grandes clássicos barrocos ou austro-germânicos, e de Handel nem falar.

Então, que esperar de 2019-20 ?


Ivan Fischer dirige a sua Budapest Festival Orchestra no Adagietto da 5ª de Mahler - ninguém consegue melhor !

Ivan Fischer é sem dúvida o grande Maestro da actualidade basta 'ouver' o seu Mahler (a 2ª tem passado no Mezzo com várias repetições, a 1ª e a 5ª são nova referência)). Em Brahms ele é muito bom também, e a personalidade de Fischer como estudioso e como compositor torna-o 'incontornável'. O seu irmão Adám Fischer,  David Zinman, Antonio Pappano e Gianandrea Noseda são valores seguros, de alto gabarito mas cada um no seu reportório: Zinman em Beethoven, Schubert ou Brahms, Pappano e Noseda na Ópera italiana. Andris Nelsons é capaz do melhor, já o provou, se tiver uma orquestra à altura. O russo/grego  Theodor Currentzis, com grande sucesso na música antiga, dedica-se agora com a MusicAeterna ao reportório mais generalista, com resultados muito badalados - ora melhores, ora menos bons; gravou uma excelente nº6, Patética, de Tchaikovsky. Tal como ele, Andrew Manze tem feito maravilhas com o reportório clássico e a orquestra da NDR, que fez ressurgir do nada. Na área do barroco, Giovanni Antonini também garante excelentes concertos, com uma abordagem pessoal geralmente excitante e gratificante.

As promessas em que aposto, a partir do que deles ouvi, são dois nomes nórdicos: Robin Ticciati, inglês, e Thomas Dausgaard, dinamarquês. São os dois exemplos mais exaltantes de uma nova geração que já provou, desde o barroco e clássico até aos pós-românticos.

Fica como ilustração o Allegro a 6ª de Tchaikovsky, por Currentzis:


Dos que virão cá, os que têm algum prestígio são escassos: no Porto, Eliahu Inbal, já com muita idade, é um especialista em Mahler, só. Douglas Boyd fez maravilhas à frente da Manchester Camerata, irei assistir à Grande de Schubert com bastante expectativa. Em Lisboa, volta Ton Koopman, já em fase descendente, e merecem atenção John Nelson e Garcia Alarcón na Gulbenkian. E é tudo...

[Brönnimann e Rundel, no Porto,  destacando-se pela negativa}


2 comentários:

Fanático_Um disse...

Estou de acordo com muitas das suas apreciações, embora não conheça bem todos os maestros que refere. Da minha experiência ao vivo, gostei sempre muito do Noseda, do Currentzis e do Nézet-Seguin. Nos que não gosto incluo o Dudamel com a sua exuberância inconsequente e o Gergiev no seu exibicionismo bacoco com a mini-batuta que mais parece um palito. O Pappano é um grande maestro mas não se pode estar perto dele porque é insuportavelmente ruidoso com palavras e grunhidos constantes. Por último uma nota sobre um grande Senhor da ópera, Placido Domingo, que insiste em dizer que é maestro e, graças ao seu prestígio como cantor, tem acesso a dirigir orquestras das principais catedrais de ópera internacionais. Como maestro não é mau, é péssimo!

Mário R. Gonçalves disse...

Tenho frequentado pouco Ópera, infelizmente. Por cá é uma desgraça, de avião já não vou mais, resta-me só Espanha e as transmissões do MET.

Tem toda a razão quanto ao Domingo, claro; devia ter-se ficado pelo canto. Só conheço um caso de cantor lírico - contratenor, no caso - que deu em maestro de grande sucesso: René Jacobs, com a mítica orquestra Concerto Köln.