sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Kulturen, o museu medieval a céu aberto de Lund


À parte a Catedral, a que dediquei um post, não cheguei a dar aqui conta da minha estada na cidade de Lund. Começo por uma vista de olhos ao Kulturen, como é designado o museu ao ar livre para onde foram deslocadas algumas edificações históricas da Escânia (Skåne) e recriado o seu recheio.

É um espaço único, e num dia de sol são horas muito bem passadas entre casas de outras eras dispersas por um jardim floridos. Quando o visitei, os restauros continuavam - para meu azar era justamente a igreja de madeira de Bosebo que estava fechada para obras. Também na espantosa casa do arcebispo o 1º andar estava em perigo de derrocada ... bom, havia muito mais que ver.


O Kulturen é o mais central que pode ser - ao lado da Catedral e do jardim Univesitário, núcleo vital de Lund. Mas está cercado a toda a volta por muros e sebes, de modo a controlar a entrada (paga), acedendo-se a partir da bilheteira e loja por um túnel sob a rua lateral. Não há obras-primas ? Nem vinha a contar com isso, a pequena e algo remota Lund esteve sempre fora dos circuitos da cultura. Comparemo-la à Guarda, a Málaga, a Perpignan.


Quando abriu, em 1892, o Kulturen era só o segundo museu ao ar livre em todo o mundo. Recriava o ambiente de uma aldeia através de varias épocas da História.

As pedras rúnicas

Pedra de Skårby, a mais rica das pedras rúnicas em Lund, com 2.6 metros.

Há um grande número de obeliscos gravados por toda a Escânia, datando do 1º século A.D.. Narram eventos ou evocam a memória de um familiar. A pedra de Skårby, invulgarmente grande, tem ainda o desenho de um leão a acompanhar uma declaração de propriedade.


A Casa do Arcebispo

O edifício simbólico, e o mais marcante do Kulturen, é a residência medieval do Prior (o arcebispo da igreja luterana sueca), ca. 1452. O andar inferior deve datar do séc. XIII; no andar superior foi assinado o Tratado de Paz de Lund, em 1679, que pôs fim à guerra de disputa da Escânia entre as corosa dinamarquesa e sueca.



Na altura, era normal a melhor casa da aldeia ser atribuída ao pároco. É um edifício esguio em tijolo ricamente decorado com recurso à variação de padrões em painéis de forma quadrada.





A Igreja em madeira de Bosebo, de 1652, é outro edifício de valor histórico e arquitectónico que foi trasladado para o Kulturen.


Estava fechada para obras, pelo que não pude ver o interior; ao que soube conta com detalhes de decoração interessantes.

Måketorpsboden

De 1700/1794, é uma cabine de madeira com cobertura de turfa relvada que servia de armazém de cereais e alfaias, e também como casa de Verão, em Småland, um pouco mais a Norte (*). No primeiro andar tem uma bela galeria coberta, com balaustrada de madeira ao longo dos quartos.


Pertencia a um camponês rico: tinha estábulos para cavalo e para gado. Foi recentemente renovada .

Bosmålatorpet - o casebre de Bosmåla


Cabana de 1850, vinda também de Småland; nela viveu, numa época de pobreza e emigração, Kristina Niklasson, a mulher que um desses emigrados na América deixou com sete crianças.





Uma das coisas que impressiona é a muito baixa altura dos tectos. Com pé direito de metro e meio, é preciso andar sempre curvado, e mais ainda porque há degraus e desníveis no chão. Seriam os suecos tão baixotes nesta época, nesta região ?

Nem portas havia entre divisões.



Certamente a pobreza, no século XIX, era a mesma que se encontrava em Portugal, sobretudo no chamado 'interior'. Como é que se deu o 'salto' sueco que lhes deu tamanha vantagem ?

Uma dos escassos recursos de Kristina era a confecção de tecidos num tear.

Por contraste, a casa burguesa de Malmö mostra como outros viviam bem acomodados.

A Malmö Hus, renascentista (1892)




Casa de burguês rico, com requinte e comodidades que poucos tinham. Escritório, biblioteca, decoração exuberante. Henrik Sjöström, o arquitecto, inspirou-se numa casa de Malmö do séc XVI, já demolida, de onde trouxe alguns elementos.




Interior pintado, elementos decorativos, portas com chave e fechadura, muitos livros.


E a terminar, as primeiras cabines telefónicas, Arte Nova, da Rikstelefon:



Há muito mais, mas não cabe aqui. Deixo um mapazito da disposição das casas e jardim. Do lado direito, a entrada, o edifício principal (azul) e casas de quinta rural; do lado esquerdo, entre outras, as casas que acima mencionei.


(*) Måketorp (topónimo) = 'cavalo marinho', boden = cabina

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