domingo, 16 de fevereiro de 2020

Isidora, a cidade onde se chega já em idade tardia




Ao homem que cavalga longamente por terrenos bravios vem desejo de uma cidade. Finalmente chega a Isidora, cidade onde os palácios têm escadas em caracol incrustadas de conchas marinhas, onde se fabricam com as regras da arte lunetas e violinos, onde quado um forasteiro hesita entre duas senhoras encontra sempre uma terceira, onde as lutas de galos degeneram em rixas sangrentas entre apostadores. Em todas estas coisas ele pensava quando desejava uma cidade. Isidora é portanto a cidade dos seus sonhos: com uma diferença. A cidade sonhada continha-o ainda jovem; a Isidora chega já em idade avançada. Na praça há o muro dos velhos que vêem a juventude passar; ele fica sentado na fila. Os desejos são já recordações.


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Italo Calvino, As Cidades Invisíveis, Cap.I - As Cidades e a Memória

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