terça-feira, 13 de julho de 2021

Lerwick, modesta mas estimável capital das Shetland



Não haverá muitas cidades como esta, tão genuína nas pedras, fachadas, chaminés, vielas e musgos (e não grafittis) nas paredes, onde casas e ruas parecem viver na época dos grandes veleiros que mercavam nos mares do Norte. Parece uma urbe tardo-medieval embandeirada, sempre-em-festa, bem governada por algum burgomestre próspero. Cheio de vida, o porto movimenta frota de pesca, ferries entre ilhas e navios de cruzeiro; transmite esse fervilhar à cidade velha: pequenas lojas únicas (lãs, sobretudo), esplanadas, actividades culturais; o Museu é um foco exemplar de história e arte. A mesma narrativa das cidades-património do Mediterrâneo? Talvez, mas aqui há uma solidão e um norte profundo que respira na calçada molhada, na estreiteza granítica das ruas centrais, na uniformidade arquitectónica, na chuvinha que faz parte da rotina.


A cidade mais próxima fica a mais de 350km - Bergen, na Noruega, para leste e Aberdeen, para sul, sempre através do Atlântico Norte. Apesar desse isolamento, Lerwick marcou lugar na História recente e tem uma marca urbana notável. É uma pequena cidade de província com apenas 7000 habitantes (como Alcácer do Sal, pouco mais que uma vila), mas centraliza toda a actividade urbana das Shetland - cultura, serviços, comércio e transportes.

O porto de recreio e os Lodberries

Lerwick não é muito antiga: nasce como cidade só no século XVIII. Antes disso tinha sido a vizinha Scalloway que desempenhara o papel de capital das ilhas. Actualmente, a economia local vive da frota pesqueira, da indústria das lãs e das plataformas de petróleo do Atlântico Norte. 

O clube náutico é vital para animar a cidade.

Explicação para o nome. Existem outras 'Leirvik', na Noruega e nas ilhas Faroe.

Não consegui resumir esta reportagem num só post. Vou por isso interromper a meio e continuar em breve nos próximos dias. 

A Rua Comercial desde os Lodberries até perto do Museu, passando na Tolbooth, Market Cross, The Lanes. É a ordem que vou seguir.

Os Lodberries


A vista mais invulgar e procurada de Lerwick, os Lodberries são casas de comerciantes dos séculos XVII/XVIII. Habitação e armazéns tinham o seu próprio cais, de forma a que as mercadorias podiam ser carregadas e descarregadas directamente dos barcos - carne e peixe salgados, tabaco, gin, chá, queijo, madeira, sendo predominante a presença de navios holandeses. No século XIX havia 21 destas casas. Quando o porto foi construído, em 1886, a função comercial dos lodberries terminou, e Lerwick cresceu rapidamente com a actividade pesqueira.

Casa que serve agora de sede ao Clube Náutico.

Os lodberries evidenciam até que ponto a vida em Lerwick estava ligada e dependente do mar.

                                      Lodberries lie like anchored ships
                                      and they are anchored well, 
                                      Ah, if their oaken doors were lips 
                                      What stories they could tell.

Histórias de contrabando, provavelmente.

A casa Sul dos Lodberries, tornada famosa numa série de TV. Agora é alojamento turístico, com barco próprio. Por fora, impecável.

Bain's Beach, uma praiazinha urbana de águas limpas, junto ao Queen's Hotel.

Areia dourada surge como uma surpresa no meio do granito.


O Queen's Hotel fora antes um armazém.

A esquina da Commercial Street onde fica o Hotel.

Logo a seguir ao Hotel, para Norte, encontra-se a Toolbooth com o molhe das lanchas de salvamento.

The Old Tolbooth (a antiga Câmara)

Na Rua Comercial junto ao molhe do Clube Náutico, este é um edifício marcante de 1767, com torre de relógio ao centro.

É na Tolbooth que começa a marginal 'Esplanade'. O edifício branco é o Posto dos Correios.

A 'Tolbooth' foi centro administrativo e sala de tribunal, foi prisão e foi escola, mais tarde serviu como edifício dos Correios e sede da Cruz Vermelha; agora é uma estação marítima de socorro das mais activas no Reino Unido.


No andar superior funcionou de início uma Loja Maçónica, tributo aos pedreiros que a construíram.

Foi renovada para servir como estação de salvamento marítimo da RNLI. Na entrada nobre funciona também uma loja.


O casario bonito na parte sul da Comercial Street



Market Cross (or Da Cross)


A Praça do Mercado é o local de encontro e de reunião dos habitantes da cidade em manifestações festivas ou outras. 



Entre as duas casas mais antigas, parte a estreita Mounthooly Street, antigo Baker's Closs (Beco dos Padeiros). 

É como a primeira das Lanes, as vielas que sobem a encosta.


Voltando à praça,

O maior prédio da praça é o armazém e loja da Anderson & Co., comércio de lãs

Na esquina da Commercial Street, a loja Shetland Soap e o High Level Music Center, loja de música.

Músicos animam a praça em frente da High Level.

Market Cross é um ponto central da Commercial Street, a rua que todos (ou quase) os habitantes percorrem todos os dias. De tal forma que é conhecida como "A Rua", Da street

A Rua Comercial, ou Da Street

É uma rua interior e paralela ao mar; a rua exterior, marginal, é a Esplanade. Entre estas duas e subindo a encosta há vielas transversais, the Lanes. O conjunto constitui o centro urbano.


A primeira loja, ainda na esquina da praça: Shetland Soap Company

Além das lãs, outra referência local de requinte.

Norseman, naturalmente.


Tal como o nome diz, é uma rua intensamente comercial, embandeirada e sem trânsito, que parece 'em festa' quando o tempo ajuda. 



Os padrões 'Fair Isle' das Shetland, uma variedade que se encontra em gorros, luvas e roupas.


Em frente ao posto dos Correios, a Livraria do Shetland Times é um 'must'.


Um livro de autoras escocesas, que descobri ao procurar online nesta livraria.

Jamieson's of Shetland, uma das muitas lojas de lãs em Lerwick.

Mostra de lãs dentro da loja. Anunciam 300 tonalidades.

Nem falta uma casa de chá, com uma diferença: em vez de tipicamente escocesa, é francesa, 'C'est la vie'.


Croque-monsieur, madeleines... um luxo.


Por outro lado, eles não podiam passar sem um 'public bar':

Da Noost, pub, o mais antigo, notoriamente mal frequentado. 'Noost' é palavra nórdica que significa um abrigo de barco.

A rua termina melhor, com uma confeitaria e gelataria, 'Fine Peerie Cakes'.

The Lanes


É uma rede de vielas entre Commercial Street e o topo da encosta. Antes de 1845 eram denominadas Closs (~ beco): Tait's Closs, Steep Closs.

Bank Lane, com corrimão central.

Quendal Lane, com escadarias.

Hill Lane. a viela do monte

Pitt Lane, a ver os telhados e as chaminés.




---------------------------------------------------------------------------------------------------

Continua, dentro de alguns dias, com a Esplanada, a Câmara e sobretudo o Museu.

1 comentário:

SilverTree disse...

Ah, Mário, os seus posts de viagens são sempre notáveis, mas esta Lerwick é um encanto! O dia fica logo mais leve, mesmo se o passeio é à distância. Obrigada, e fico a aguardar a segunda parte.