quinta-feira, 11 de junho de 2020

A minha visita à 'old' Tate em 2002


Só fui à Tate Britain na minha segunda visita a Londres; antes disso Turner não me era ainda muito familiar. E em boa verdade não há muito mais que ver além de Turner, ao contrário de outros museus britânicos de pintura (Ashmolean, Fitzwilliams, National Gallery).

A situação da Tate também não é excelente, anda-se um bocado a pé desde o metro. no extremo sul de Westminster. Lembro-me de lá chegar cansado e já com as pernas moídas, o que não ajuda nada em museus. Agora já cheguei à conclusão que a melhor maneira de me deslocar a qualquer museu é ir de táxi: saio à porta e as pernas ainda estão frescas. Idade.

A Tate abriu em 1897 já como museu, num edfifício neoclássico:

É de 1893 esta fachada em pórtico seguida de cúpula.




Do que me lembro, a Tate mostra muita coisa escusada. Valem vista demorada alguns  pré-rafelitas, alguns Constable, os Turner obviamente, Lowry. Depois há surpresas: James Whistle, John Sargent. Más surpesas, como William Blake e Henry Moore. E com nomes grandes há quadros adquiridos ou cedidos, peças isoladas - Gauguin, Renoir, Klee, Morandi, Degas...

Uma mania que entretanto foi desaparecendo era a proibição de fotografar. Aqui a vigilância era rígida. Tirei umas poucas à socapa, mas a maioria que publico são freeware da net.

A 'Sala 1840'
(sala 7)

Os pré-rafaelistas (1848) foram uma corrente fantasiosamente romântica no reinado da Raínha Vitória, exclusiva do Reino Unido,  que tal como o neo-gótico na arquitectura ou a Art Deco não deu nenhuma verdadeira obra prima, mas produziu coisas com graça e requinte, embora numa estética démodée.
Lady of Shalot, de Waterhouse.

Muitas obras pré-rafaelitas abordam, de forma dramática, lendas e mitos, e tornaram-se por sua vez obra de culto para quem cultiva o esotérico. É o caso desta Lady of Shalot, inspirada num poema trágico de Tennyson, sobre a lenda do Rei Artur. A 'heroína' foi vítima de uma maldição que a condena à morte assim que abrir os olhos para Camelot. Mas um dia Lancelot passa por ela, que não resiste: larga as amarras do barco onde vive e avança para o seu fim.


De 1852, a Ophelia de John Millais é uma das obras mais representativas da corrente.


Uma das característcas estéticas desta corrente é a inconsistente focagem dos planos: os fundos distantes são tão detalhados e nítidos como as figuras em primeiro plano, uma espécie de "pintura em HD" (alta definição) que causa uma certa confusao visual.

É de John Singer Sargent a minha favorita, 'Carnation, Lily, Lily', Rose, 1886:


Sargent era amigo de Monet, que se adivinha nesta pintura suscitada por uma canção em voga. As duas meninas brincam com lanternas japonesas num jardim feérico.

John Sargent, 'Black Brook'.

No piso principal, na sala 6 (1810) sucede agora Constable. Gosto deste Flatford Mill:


Subtitulado 'Cena de um Rio Navegável'.


Clore Gallery


De seguida vamos ao Génio residente; parte da obra de Turner está numa galeria à parte - a Clore Gallery. Primeiro, Scarborough:


O fantástico Chichester Canal, uma pintura que me faz sonhar...


Muito moderno, quase abstracto, Fishermen on the lagoon, Moonlight,1840 :


The Sun of Venice going to Sea, 1843


Turner fascinado pela luz da laguna. A embarcação leva o nome na vela, "Sol di Venecia", e sai para o mar ao nascer do dia, ainda sob bruma, com Veneza ao fundo. Gôndolas e o seu reflexo ajudam a compor a magia.

O incontornável The Fighting Temeraire, obra prima da pintura inglesa.



Há mais Turner, centenas, mas teria alongar este post. Estamos nos impressionistas, continuando há Whistler, James Abbot Whistler. Pintor americano radicado na Europa, foi contemporâneo de Courbet, Fantin-Latour, Degas, Monet, mas acabou por se afastar do impressionismo - é talvez mais poético que os impressionistas, mesmo que use a luz de forma semelhante.

Blue and Silver, Chelsea.

Mais moderno e realista é Lowry, pintor da Inglaterra industrial em toda a sua miséria.


Football Match, 1949 :
O horror já era o mesmo, mas coberto de fuligem.

Além dos britânicos, há então algumas obras esparsas, oferecidas , emprestadas ou adquiridas.
Começo por Renoir, uma linda cabeça feminina:


De Morandi,
Natureza morta, 1946.

E termino de novo em Génio com, surpresa!, Mondrian, uma das suas muitas árvores:

Boom A (Árvore A), c.1913

É preciso aprender a navegar num museu destes, a encontrar as jóias por entre tanta vulgaridade que lá está exposta.

https://joyofmuseums.com/museums/united-kingdom-museums/london-museums/tate-britain/carnation-lily-lily-rose-by-john-singer-sargent/


1 comentário:

Fanático_Um disse...

Obrigado Mário por mais este ilucidativo, informativo e educativo "post". Vou a Londres com frequência mas ainda não visitei este museu. A sua descrição aguça-me o apetite e... já vou prevenido quanto à distância a percorrer se optar pelo metro (o que acho que não vou fazer!).