O blog do Museu Britânico publicou recentemente uma reportagem imaginária do que seria uma visita turística à Ninive assíria de há 2700 anos, guiada pelo curador Gareth Brereton.
Quem lá for ver fica dispensado de continuar a ler-me aqui: vou adaptar esse relato para português, e ilustrar livremente.
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Descubra as vistas, as lojas, os locais de diversão e lazer, as especialidaes gastronómicas - e os sítios a evitar. Deixe-se levar neste passeio urbano a uma cidade imperdível, capital de um império que governa desde a Turquia ao Golfo Pérsico, do Irão a Creta e ao Egipto.
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A cidade de Ninive tem estado a ser beneficiada ultimamente com um grande desenvolvimento para que seja a nova capital do poderoso império Assírio. Transformou-se numa grande metrópole rodeada de uma muralha maciça ao longo de 12 quilómetros. Não se fazem contas ao número de habitantes, mas diz-se que a cidade demora três dias a atravessar, é 'excessivamente grande'. É uma cidade cosmopolita, na margem oriental do rio Tigre, e ponto de cruzamento de importantes estradas norte-sul e este-oeste.
Prisma de argila onde são descritas as grandes obras que Sennacherib mandou fazer na nova capital.
As terras que rodeiam Ninive são um verdadeiro paraíso, terras férteis onde se cultivam e colhem enormes volumes de alimentos básicos como trigo e cevada. Beneficiando de chuva abundante, não falta fornecimento de água na cidade, vinda do Tigre e seus afluentes. Um aqueduto monumental conduz a água ao longo de muitos quilómetros para alimentar os canais da cidade. Mais a montante não faltam pomares, olivais e vinhas.
Ao chegar a Ninive, deparamos em espanto com a poderosa muralha e as suas 18 portas de entrada, flanqueadas por enormes touros de cabeça humana esculpidos em blocos de alabastro de gesso.
Grande Porta de Nerdal (reconstruída).
Chamam-lhes Lamassu, destinam-se a evitar que as Forças do Mal entrem na cidade.
Visão artística da Sala do Trono.
Os salões maiores têm as paredes decoradas com painéis de pedra esculpida com cenas narrativas e figuras de divindades mágicas protectoras, tudo muito colorido.
Fragmento de painel de argila colorida representando três divindades Sebetti.
Não deixe de observar as colunas em bronze forjado assentando sobre bases em forma de leão.
Base de coluna assíria.
Correio real - envelope e carta, em pedra; o serviço de correio permite ao Rei coordenar o território e governar regiões mais afastadas, graças à rede de estradas.
Os famosos jardins de Ninive são obrigatórios para alguém que goste de plantas e animais. Os jardins em terraços do palácio, irrigados por uma intrincada rede de canais, contêm todos os tipos de plantas aromáticas e árvores de fruto. Na reserva de caça, há javalis, veados, e com sorte poderá ver algum leão. Na loja pode encontrar uma larga variedade de ervas culinárias e plantas medicinais.
O Templo de Ishtar é dedicado a Ishtar de Ninive, deusa da guerra e das paixões irracionais. O seu nomer é "o mais precioso entre as deusas", e as palavras dos seus lábios são "fogo ardente". Um enorme tanque em basalto decorado com baixos relevos permite banhos purificadores aos sacerdotes e convidados.
Ao lado fica o templo de Nabu, dedicado ao deus da literatura, dos escribas e da sabedoria. Ambos os santuários são notáveis pelas fachadas de tijolos e azulejos esmaltados e coloridos, e no interior ricas decorações de ouro e prata.
Músicos e sacerdotes numa procissão teatralizada.
Tente não perder as récitas semanais do Épico de Gilgamesh, desempenhado por dançarinos e acrobatas e representando as aventuras do mítico herói, e as sessões mensais do Épico da Criação, com o deus oficial Ashur como protagonista.
A Caça ao Leão, nos parques em redor da cidade, é a mais espectacular diversão em Ninive. Combinando desporto, ritual e teatro, os reis Assírios exibem publicamente o seu valor e capacidades guerreiras enfrentando brutalmente nos seus carros de batalha os mais ferozes leões. A multidão junta-se no topo do monte ao lado do terreno de caça, e é preciso ir cedo para guardar lugar.
O jogo de tabuleiro mais popular é o Jogo dos Vinte Quadrados, também conhecido como Jogo Real de Ur, já tem mais de mil anos ! Conjuntos de peças luxuosas de ouro, marfim e pedras preciosas estão à venda nas lojas mais requintadas, mas pode-se jogar riscando o tabuleiro sobre um tijolo e usando pedrinhas como peças.
Marfim fenício de uma esfinge alada.
O pagamento é em geral feito em prata ou cobre, alguns retalhistas aceitam tâmaras e mesmo grão. Crédito, só garantido por um selo pessoal acreditado.
Ao longo do cais há várias bancas de comida ; sopas, galete de pão com borrego e vegetais, queijo, frutas, bolos de mel, tâmaras da Caldeia. Também as especialidades locais de gafanhotos grelhados estaladiços, servidos em espeto, e carpa grelhada.
Taça de cerâmica
Nas ruas vêem-se mercadores e mercenários, soldados barbudos e eunucos, agricultores e escravos, e ouve-se uma grande variedade de línguas. Tabernas novas abrem por toda a cidade; os melhores locais estão ao longo do cais fluvial, alguns têm músicos a tocar ao vivo. É costume local beber-se vinho de taças de bronze ou de prata. Peça um tinto fabricado nas célebres caves do reino de Urartu, na Arménia.
Já as tabernas do bairro dos mercadores têm má reputação e mais vale evitá-las depois de cair a noite.
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A maior parte do espólio está no Museu Britânico e algum no Pergamon de Berlim; algumas obras foram retiradas do Iraque durante a guerra contra o ISIS, e são agora mostradas pela primeira vez. As ruínas de Ninive, perto de Mossul, foram vandalizadas.
3 comentários:
São uma delícia, estas "visitas" do British Museum. Já tinha andando no site deles a espreitar :)
Note apenas, Silvertree, que eu publiquei bastantes documentos que a página do British não mostra.
Boa semana.
Obrigado Mário, é sempre um enorme prazer vir enriquecer os nossos conhecimentos neste blogue.
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