Destino improvável, esta seria uma evasão grandiosa, homérica.
Ellesmere, ilha de bonito nome, é a décima maior do mundo e fica acima do círculo polar na região do Nunavut, a oeste da Gronelândia. Quase toda classificada como parque natural, desabitada à excepção de duas estações polares de investigação*, tem uma única povoação no extremo sul,
Grise Fiord, habitada desde os anos 50 por uma população Inuit.
Grise Fiord(
Aujuittuq, ou
ausuiktuq, "
onde o gelo nunca funde")
População: ~160
Coordenadas: 76º 25´N , 82° 53′ W (1150 km a norte do Círculo Polar)
Grise Fiord está numa enseada do golfo Jones Sound, na costa sul da Ilha de Ellesmere**. É a comunidade mais a norte do Canadá. Tem cerca de 40 moradias e 20 edifícios comerciais ou administrativos. O nome colonial foi atribuído à volta de 1900 pelo explorador norueguês Otto Sverdrup.
As casas têm de ser estruturas leves sobre estacas.
Foi fundada em 1953, quando o Governo do Canadá forçou o realojamento de famílias Inuit do Quebec e da ilha de Baffin, para reforçar a soberania do país na Alto Ártico. Foi um início trágico e desumano, que mais tarde se tentou atenuar com o reconhecimento e a onstalação de serviços à comunidade - Escola, Correios, post de Saúde, pista de aterragem, e em 1966 a loja-cooperativa Inuit que exerce uma espécie de governo étnico, além de estimular as artes e desportos.
Larry Audlaluk escreveu um livro de memórias onde narra o sofrimento dos pais para se adaptarem a uma terra árida, sem pastagens nem recursos.A Co-op vende sobretudo congelados, doçaria embalada e conservas. Frescos, poucos e caros.
Mesmo a cobrar uns brinquedos na caixa, a tradição inuit marca uma diferença.
A
Escola Umimmak é sempre o local mais alegre e animado.
É o centro de actividades diárias para a comunidade.
Danças tradicionais, cinema, aulas de costura e arte, educação de adultos e dias especiais do calendário, tudo acontece na escola.
Nos dias de luz , é ao ar livre que se brinca.A Igreja de S. Pedro foi construída nos anos 60. Sofreu recentemente um incêndio.
Num local de tal forma longínquo e isolado, as formas básicas de sustento são vitais: pesca e caça de subsistência. Felizmente os recursos marinhos abundam; já em terra coelhos, raposas e caribous têm diminuído drasticamente, só os bois almiscarados (
umimmak) estão em expansão. Com as alterações climáticas talvez as coisas até melhorem por aqui.
As peles de urso podem ser obtidas se o urso for abatido em defesa sob ameaça.
Foto de Laisa Audlaluk, Grise Fiord.Na caça às focas, nem os mais velhos resistem às tecnologias; abandonaram os trenós pelos
snowmobiles (motas de neve), e agora aderiram aos SUVS, que têm aquecimento e música.
Para adquirir os escassos produtos importados do Sul, a ajuda maior são as receitas do turismo, cruzeiros sobretudo, e a venda de artesanato local. A vida é dura, triste e monótona, mas ralaxada e saudável. Os homens dedicam-se mais à pesca e caça, as mulheres à confecção de roupas quentes - parkas, kamiks (botas).
Looty Pijamini (n. 1953) é um artista escultor Inuit de Grise Fiord.
Sedna, a 'deusa' do mar.
Duas mãesEm homenagem aos primeiros Inuit que fundaram a colónia de Grise Fiord, Looty esculpiu em 2010 este conjunto mãe e filho, de olhar expectante, a mãe mais assustada, a criança parecendo desafiar o futuro.
Roupas amautiit (foca, caribou). Amautiit = parka inuit concebida para transportar uma criança às costas.
Como estamos em altas latitudes árticas, há aqui duas estações no ano: a estação da luz dura de Maio a Agosto, é quando o sol nunca se põe; a estação escura vai de Outubro a meados de Fevereiro, quando o sol nunca nasce - a longa noite. A temperatora vai de 0º a -40ºC nos meses frios, em Janeiro atingiu uma vez -62.2º C.
A Ilha de Ellesmere constitui uma Reserva Natural, pela geologia e pela fauna.
Apesar da escassez de pastos e vegetação, existe uma fauna inesperadamente abundante. A mais incómoda são os rebanhos de bois almiscarados; mas há os belos veados Caribou Peary:
A vantagem do caribou é a velocidade com que corre.
E lebres, brancas como a neve:
Assim como as inevitáveis raposas:
Nas aves, a espectacular coruja das neves:
e os Ptarmigans, espécie de perdiz do ártico muito apreciada:
Ursos polares vão rareando, e na verdade não fazem muita falta. Criou-se um mito, mas é um bicho inútil (à parte as peles que os Inuit aproveitam) e pouco recomendável.
Este viu certamente um salmão do ártico sob o gelo.
Uma história que espantou os biólogos foi a da raposa azul de
Spitsbergen (nas
Svalbard, ilhas árticas da Noruega) que após ter sido marcada percorreu nada menos que 3 500 km até ser detectada em
Ellesmere, tendo atravessado a calote polar até à Gronelândia e daí a baía de Baffin para a ilha canadiana:
A jornada durou 76 dias entre Março e o fim de Junho, quase sem parar. Estranha persistência.
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* A maior é Alert, das forças armadas canadianas, com uma equipa permanente de cerca de 60 pessoas.
** Ellesmere é uma aldeia e lagoa a sul de Chester, UK
1 comentário:
Como vai Mário? O nome desta raposa é Forrest Gump.
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