sexta-feira, 6 de agosto de 2021

O Estreito da Dinamarca - mar bravio, a maior catarata do mundo, e uma trágica batalha naval


O estreito de 280 km entre a Islândia e a Gronelândia é mal afamado; mares revoltos e bravios conjugados com nevoeiros espessos fazem dele um sítio a evitar pela navegação. Alistair Maclean faz dele uma boa descrição num dos seus contos:

" Ao longo da cintura do Círculo Ártico encontram-se os mais agrestes mares do planeta: e nenhum deles é mais agreste, mais hostil aos homens e aos frágeis navios que os levam a atravessar a selvajaria das suas águas retorcidas por rajadas e vendavais do que a estreita passagem entre a Islândia e a Gronelândia que os homens chamam Estreito da Dinamarca.

Desde os visonários Vikings de há mil anos até ao tempo dos modernos pescadores da Islândia, sempre navegaram barcos através deste estreito, mas navegaram arriscando a tragédia, só quando era exigido, sem demoras, nem mais um momento para além do necessário. Nenhum homem ou navio ficou ali em espera por sua escolha, mas em raras ocasiões alguns homens e navios tiveram de o fazer necessariamente. "


Pois é, o estreito foi por uma vez cenário histórico: aqui aconteceu, na 2ª Grande Guerra, em 1941, a lendária intercepção do mui blindado super-cruzador Bismarck, arma dos nazis para dar cabo dos combóios navais de abastecimento, pelos cruzadores antigos e menos eficazes da Royal Navy. Havia gelo para norte e denso nevoeiro para leste, mas o mar estava calmo.

A coisa começou mal para os britânicos: o HMS Hood (acima), cruzador de quase 50 000 toneladas, estrela da Navy, foi espatifado e afundado logo nas primeiras salvas de tiros, parece que se teria colocado mal face ao couraçado alemão. Um desastre. O outro cruzador da Navy ainda mandou uns obuses mas escapou-se quando viu que falhava quase todos.

O Bismarck entre nevoeiro e fumo dos canhões.

Acontece que afinal o Bismarck ainda tinha apanhado com três ou quatro projécteis dos cruzadores britânicos, que o danificaram q.b., de modo que perdeu velocidade e capacidade de manobra; sucumbiu às ordens de Churchill "afundem o Bismarck !", sendo acabado mais a sul por torpedos da Navy, já ao largo da Bretanha. Uma humilhação para os alemães, a 27 de Maio de 1941, e cerca de 4000 vidas perdidas, só nesta batalha.


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E quanto à catarata ? O Estreito da Dinamarca é também um local geológico único. Embora sejam muitas as quedas de água submarinas, em fundo oceânico, e muito mais altas que as que vemos em terra, esta é a maior catarata do mundo, submarina ou não; é um colosso inimaginável. 

Talvez seja uma das causas de o mar ali ser tão selvagem, as tempestades tão medonhas.

O Irminger Sea, à saída do estreito, pode tão mau como a famosa Passagem de Drake, a sul do cabo Horn.

Explicação da catarata: um enorme desnível no fundo oceânico e a movimentação de correntes quentes de sul para norte origina a queda, de uma altura de mais de 3 500 metros, de volumes de água descomunais: 3 a 5 milhões de metros cúbicos por segundo !

A cascata estende-se por 160 km do Mar de Irminger, a sudoeste do estreito. Confesso que não sabia, e fiquei bouche béante. Dever ser giro, deve, mergulhar cascata abaixo, três quilómetros e meio.

Alimentadas pelas correntes quentes IC e NAC, sul-norte, duas outras correntes frias transbordantes, DSO e ISO, precipitam-se no desfiladeiro a sudoeste da Islândia.

NAC - North Atlantic Current
EGC - East Greenland Current

DSO - Denmark Strait Overflow
NIIC - North Icelandic Irminger Current
IC - Iceland Current
ISO - Iceland/Scotland ridge Overflow

1 comentário:

Fanático_Um disse...

Obrigado Mário, é sempre um prazer ler estes "posts" que, entre outras qualidades, são informativos e formativos.