Tenho mostrado aqui vários museus da Europa, sobretudo aqueles que visitei mas não só, que por algum motivo elejo como sítios intemporais de cultura e arte. Lembro-me por exemplo dos National Scottish, do Fitzpatrick, do Hanseático de Lübeck, dos de Basileia, Zurique e Bolonha, do Albertina de Viena, da Ny Carlsberg...
Mais ainda do que livros, gosto de Museus.
Em Paris, estive no Grand e Petit Palais, e no Pompidou. Fiquei de voltar, mas não consegui. Pouca gente que conheço fala do Museu Cluny, visita indispensável para quem tem interesse pela Idade Média; não tem grandes obras de pintura, tem sim muitos artefactos e fabulosas tapeçarias. Não surgem nomes sonantes, pois na Idade Média não havia ainda o culto do Grande Artista, em geral as obras eram produzidas por anónimos em escolas da especialidade - tecelagem, vidraria, ourivesaria, talha de madeira. A colecção compõe-se sobretudo de espólio dos séculos XIII a XV, mas há peças mais antigas desde o séc VI, da era visigótica; um espólio vastíssimo de que não posso aqui dar ideia, mas apenas salientar obras que me agradam mais.
O Museu está instalado numa casa nobre do século XV contígua às Termas Romanas, que estão agora também incluídas no Museu, razão pela qual há algumas peças romanas na colecção.
Painel de mosaico do chão das termas.
OurivesariaSala 16, vitrinas de ourivesaria.Começo pelo ouro. Uma das preciosidades expostas é o Tesouro de Guarrazar, encontrado em Espanha, perto de Toledo. São 26 coroas e crucifixos de ouro que os Reis Visigodos ofereceram à Catedral de Toledo, capital da Hispânia, no século VII.
Obras primas da ourivesaria visigótica. Safiras azuis de Ceilão, esmeraldas, ametistas, pérolas, nacre e jaspe.
Feita durante a coroação, esta oferta real significava submissão à instituição eclesiástica.
Não faltam também esmaltes de Limoges, sobretudo cofres e relicários.
Cofre em esmalte dourado de Limoges, de S. Thomas Beckett. Séc. XII-XIII.
Cofre dos Reis Magos, cobre esmaltado e dourado de Limoges, ca. 1200
A Rosa de Ouro, uma das peças de marca do museu:
Obra de Minucchio de Siena, de 1330, fazia parte do tesouro da catedral de Basileia.
Antependium da Catedral de Basileia, peça de altar em ouro de 1020.Tanto dourado cega. Também há esmalte de
Limoges sem ouro, como estes belo
gémellion, bacia de lavar as mãos à mesa:
Passando a vidro e vitrais,
'Hanap' ou copo de Carlos Magno, séc XIII-XIV.Painel de vitral 'Jogadores de xadrez', 1430-40.
Anunciação, ca. 1450, Colónia
Há também muitos vitrais da Sainte Chapelle, como este de Sansão contra o Leão, do séc XIII:
É famoso o vitral das
Quatro Perdizes, feito na Normandia no séc. XIV-XV.
O pequeno cofre gótico em marfim é outra das mais valiosas obras do museu. As esculturas nas faces do cofre narram histórias de amor cortês - torneios, o cavaleiro Lancelot, Tristão e Isolda... - sob uma tampa que descreve o "Assalto ao castelo do amor", onde se lançam flores em vez de flechas.
Ainda em marfim é este alto relevo de Ariadne do século VI, vinda de Constantinopla.
As cabeças de leão são em cristal de rocha.
Placas miniatura de marfim para decorar encadernações também há algumas.
Madeira.
Uma rara mesa dobrável com ínfimos requintes de detalhe:
Mesa em carvalho, França, séc XV-XVI
Esta estátua em carvalho de Maria Madalena, de finais do século XV, deve ter sido obra de um escultor de Bruxelas, que mostra grande mestria nas dobras das roupagens.
'Traité de combat', manuscrito alemão do século XV.
A parte superior da página está em branco para as notas do leitor.Tapeçaria
Finalmente, a obra prima absoluta que a maioria já conecerá . o famoso conjunto de tapetes La Dame a La Licorne que o museu exibe em sala especial - o seu tesouro maior. Muita gente vai ao Cluiny só para os ver.
São 6 tapetes, cinco deles para os sentidos - Goût, Odorat, Ouïe, Toucher, Vue - e o sexto denominado A mon seul désir, o mais assombroso, sobre o qual já se escreveram textos e ensaios que enchiam uma biblioteca.
La Vue, em que a senhora se vê ao espelho.
'A mon seul désir', talvez um sexto sentido:
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Grande Museu !