quarta-feira, 22 de junho de 2022

Museu Cluny , História e Arte da Idade Média


Tenho mostrado aqui vários museus da Europa, sobretudo aqueles que visitei mas não só, que por algum motivo elejo como sítios intemporais de cultura e arte. Lembro-me por exemplo dos National Scottish, do Fitzpatrick,  do Hanseático de Lübeck, dos de Basileia, Zurique e Bolonha, do Albertina de Viena, da Ny Carlsberg...

Mais ainda do que livros, gosto de Museus.

Em Paris, estive no Grand e Petit Palais, e no Pompidou. Fiquei de voltar, mas não consegui. Pouca gente que conheço fala do Museu Cluny, visita indispensável para quem tem interesse pela Idade Média; não tem grandes obras de pintura, tem sim muitos artefactos e fabulosas tapeçarias. Não surgem nomes sonantes, pois na Idade Média não havia ainda o culto do Grande Artista, em geral as obras eram produzidas por anónimos em escolas da especialidade - tecelagem, vidraria, ourivesaria, talha de madeira. A colecção compõe-se sobretudo de espólio dos séculos XIII a XV,  mas há peças mais antigas desde o séc VI, da era visigótica; um espólio vastíssimo de que não posso aqui dar ideia, mas apenas salientar obras que me agradam mais. 

O Museu está instalado numa casa nobre do século XV contígua às Termas Romanas, que estão agora também incluídas no Museu, razão pela qual há algumas peças romanas na colecção.

Painel de mosaico do chão das termas.

Ourivesaria

Sala 16, vitrinas de ourivesaria.

Começo pelo ouro. Uma das preciosidades expostas é o Tesouro de Guarrazar, encontrado em Espanha, perto de Toledo. São 26 coroas e crucifixos de ouro que os Reis Visigodos ofereceram à Catedral de Toledo, capital da Hispânia, no século VII. 

Obras primas da ourivesaria visigótica. 

Safiras azuis de Ceilão, esmeraldas, ametistas, pérolas, nacre e jaspe.


Feita durante a coroação, esta oferta real significava submissão à instituição eclesiástica.

Não faltam também esmaltes de Limoges, sobretudo cofres e relicários.

Cofre em esmalte dourado de Limoges, de S. Thomas Beckett. Séc. XII-XIII.

Cofre dos Reis Magos, cobre esmaltado e dourado de Limoges, ca. 1200


A Rosa de Ouro, uma das peças de marca do museu:

Obra de Minucchio de Siena, de 1330, fazia parte do tesouro da catedral de Basileia.

Antependium da Catedral de Basileia, peça de altar em ouro de 1020.

Tanto dourado cega. Também há esmalte de Limoges sem ouro, como estes belo gémellion, bacia de lavar as mãos à mesa:

Passando a vidro e vitrais,


'Hanap' ou copo de Carlos Magno, séc XIII-XIV.

Painel de vitral 'Jogadores de xadrez', 1430-40.

Anunciação, ca. 1450, Colónia

Há também muitos vitrais da Sainte Chapelle, como este de Sansão contra o Leão, do séc XIII:


É famoso o vitral das Quatro Perdizes, feito na Normandia no séc. XIV-XV.


Marfim


O pequeno cofre gótico em marfim é outra das mais valiosas obras do museu. As esculturas nas faces do cofre narram histórias de amor cortês - torneios, o cavaleiro Lancelot, Tristão e Isolda... - sob uma tampa que descreve o "Assalto ao castelo do amor", onde se lançam flores em vez de flechas.



Ainda em marfim é este alto relevo de Ariadne do século VI, vinda de Constantinopla.
As cabeças de leão são em cristal de rocha.

Placas miniatura de marfim para decorar encadernações também há algumas.



Madeira.
Uma rara mesa dobrável com ínfimos requintes de detalhe:

Mesa em carvalho, França, séc XV-XVI

Esta estátua em carvalho de Maria Madalena, de finais do século XV, deve ter sido obra de um escultor de Bruxelas, que mostra grande mestria nas dobras das roupagens.




'Traité de combat', manuscrito alemão do século XV.

A parte superior da página está em branco para as notas do leitor.

Tapeçaria


Finalmente, a obra prima absoluta que a maioria já conecerá . o famoso conjunto de tapetes La Dame a La Licorne que o museu exibe em sala especial - o seu tesouro maior. Muita gente vai ao Cluiny só para os ver.

São 6 tapetes, cinco deles para os sentidos - Goût, Odorat, Ouïe, Toucher, Vue - e o sexto denominado A mon seul désir, o mais assombroso, sobre o qual já se escreveram textos e ensaios que enchiam uma biblioteca.

La Vue, em que a senhora se vê ao espelho.

'A mon seul désir', talvez um sexto sentido:


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Grande Museu !



sábado, 18 de junho de 2022

Sanábria e o trilho do rio Tera, para refrescar dos 38º


Estive em Sanabria durante esta recente vaga de calor sufocante. Um dia pelas 7 da tarde fomos visitar a "Senda del Cañón del Tera", um parque natural na zona montanhosa em volta do lago.

O Rio Tera é um sub-afluente do Douro que percorre a província de Zamora, atravessando o Lago de Sanabria. Antes de decarregar no lago, o acidente de percurso mais notável é um 'cañón', uma garganta estreita mas pouco profunda, perto de Ribadelago, cujo envolvimento montanhoso e cobertura vegetal de carvalhos, castanheiros, freixos e salgueiros justificaram a criação de um Parque Natural, percorrido por trilhos pedestres. Finalmente, uma excursão entre verdura, a ouvir a passarada.


Dos 13 km, faremos os primeiros ... metros.



'Tera' tem provavelmente, pelo que li, uma etimologia comum com 'Astúrias' e 'Duero', relacionada com steu-/stou- , indo-europeu latinizado como stura. Ainda inconclusivo.



Tal como no Lago, não faltam trutas, pequenas e grandes.




No outro extremo do aparcamento incia-se uma rota mais bucólica pelo afluente do Tera, o rio Segundera.





Um problema incómodo são os mosquitos; ferram que se fartam.
O rio Tera é de má memória para a aldeia vizinha; em 1959 a barragem de Vega de Tera rebentou causando uma inundação catastrófica em Ribadelago; uma onda de nove metros fez mais de uma centena de vítimas. Há uma estátua-memorial  (feia...) e vi um aviso de "perigo de aumento rápido de caudal ". Não é 'natural' que um rio tão estreito alimente um lago tão grande, por onde escorria uma língua de glaciar.

Ao fundo do prado inicial abre-se o Cañón; é uma sucessão de poças, lagoas e cascatas entre altas paredes rochosas. Para nós era demasiado longe e íngreme.


No mapa, Ribadelago está à esquerda, nas margens do rio Tera; a vermelho assinalei os curtos percursos de prado e floresta que fizemos: