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É tão raro referir-me aqui à Irlanda, desde que lá estive há 11 anos, que não resisti a esta inverosímil ilha no pequeno Lago Derg, no extremo noroeste. Pouca gente viaja para County Donegal, zona pobre, deprimida e esvaziada pela emigração, isolada lá no Norte nas costas da outra Irlanda, a britânica.
O lago Derg fica entre a cidade de Donegal e a fronteira com o território britânico.Será a primeira vez que aqui descrevo um santuário?
Bom, St. Patrick não tem culpa. Como o sítio é fora do comum e muito longe de quase tudo, prefiro vê-lo como uma Ultima Thule na ilha verde, com a sua solitude e um mistério ainda mais carregado sob o peso do pecado dos homens.
As construções são em granito escuro do fundo do lago reforçadas com cimento, que só os relvados e ajardinados suavizam.O sítio religioso data do século V, segundo a lenda: St. Patrick foi trazido à ilha onde Cristo himself lhe mostrou as grutas ou poços ('Caverna'), que seriam a entrada do Purgatório, provando a verdade dos textos sagrados. Isto é referido desde 1185 em documentos medievais que se encontram por toda a Europa, associando o culto a St. Patrick à peregrinação que se iniciou por essa altura, com partida de Dublin. O segundo mosteiro datará do século XV, auge da importância da ilha sagrada, ao ponto de ser o único local assinalado nalguns mapas da Irlanda dessa época.
Peregrinação a St Patrick's, W. Frederick Wakeman, 1876.As ditas caves foram definitivamente encerrados em 1632, e demolido o mosteiro original; terminou o dito purgatório, e foi então construída uma pequena igreja franciscana (Sta Maria dos Anjos) que é actualmente o que há de mais antigo na ilha. E assim se manteve o santuário durante três séculos.
Só em 1936 foi construída a actual Basílica em estilo românico revivalista inspirado em San Vitale de Ravenna mas com influência do pesado estilo normando ! Alguns elementos interiores em mármore policromático, outros de inspiração bizantina, fazem uma miscelânea única mas falha de carácter.
Na verdade, o efeito cénico espectacular da ilha é enganador; tudo é destinado a peregrinos que fazem as suas penitências descalços pelos jardins, numa oração colectiva deprimente, como estas coisas da fé sempre são.
Um dos nichos ao lado esquerdo do altar.Os jardins foram decorados em 2004 com um labirinto relvado, símbolo do percurso dos peregrinos na sua demanda do santuário e também símbolo recorrente nas culturas pré-cristãs da Irlanda.
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