domingo, 31 de dezembro de 2023

Höfn e a Praia dos Diamantes, na Islândia

Existe na costa Sul da Islândia uma praia de areia negra vulcânica onde vão depositar-se blocos de gelo transparentes, que parecem jóias brilhando ao sol contra o fundo negro. A Praia dos Diamantes fica próxima de uma lagoa glaciar que também atrai visitantes pela quantidade de icebergs transparentes que o glaciar despeja sobre as águas. Tudo isto se passa numa das mais desertas regiões da ilha, que só começou a ser visitável quando ficou construída a estrada que circunda a ilha, a 'Hringvegur' ou Rota 1; a povoação mais próxima com serviços e algum conforto é o porto de Höfn, o mais importante da costa Sul.

 
Começo por mostrar a Praia dos Diamantes.
 

Fragmentos tanslúcidos de iceberg espalham-se pela orla da praia sobre a areia negra.

A areia negra são grãos de basalto, resultante de lava vulcânica arrefecida rapidamente pela água fria do Atlântico Norte. O trabalho do mar sobre o basalto vai pulverizando a pedra e forma a areia.

A cor dos pedaços de gelo varia entre tons de azul e cinzento. É tanto mais azul quanto menos bolhas de ar contiver, mas também depende da luz incidente.

 

Lagoa Glaciar Jökulsárlón


Jökulsárlón (Jökull=glaciar) é uma lagoa do glaciar Vatnajökull, de águas calmas e azuis semeadas de pequenos icebergs; a frente glaciar espraia-se em declive suave nas águas da lagoa. Os pedaços de gelo deslizam depois sobre um canal de água que liga a lagoa ao oceano, e dão origem aos 'diamantes' na praia.

O lago é calmo mas profundo, atingindo quase 300 metros, e é afectado pelas marés, subindo e descendo conforme as águas do oceano entram ou saem pelo canal. A amplitude da maré no lago atinge 2 a 3 metros.

O Glaciar Vatnajökull constitui a maior capa de gelo da Islândia, e a maior da Europa se excluírmos a ilha russa de Severny. Tem 380 m de espessura média mas pode atingir quase 1000 m. A sua lenta recessão tem vindo a aumentar a profundidade das águas da lagoa.

A capa de gelo do Vatnajökull cobre 7700 km2


A vila piscatória  Höfn í Hornafirði

Coordenadas: 64°15' N, 15°13' W
População: 2 500 hab.

Höfn é a única 'cidade' da costa sul da Islândia. Foi construída sobre uma península plana, recortada em fiordes, com boas condições de abrigo portuário.

A pesca é a principal actividade, seguida do Turismo, ajudado pela fama do lagostim de Höfn, prato forte dos menus de restaurantes locais. Mas a frota pesca muita variedade de peixe do Mar do Norte  - linguado, anchova, sardinha, salmonete...

Höfn é de fundação recente, em 1897, quando um mercador trouxe um posto de vendas do interior para a costa, junto ao porto. 

 

Esse posto de vendas é a casa mais antiga da cidade, a Gamlabúð (“Antiga Loja”), que foi há pouco convertida em centro de informações sobre a região de Vatnajökull e os seus glaciares, uma espécie de Museu Regional e Posto de Turismo.
 

Construída pelo mesmo mercador Otto em 1897, esta outra mansão residencial é agora um restaurante afamado junto ao porto: o Otto Masur & Drykkur.

 

Para além destas duas casas, outra ainda merce referência: a Galeria de Arte, Listasafn.

 
Næturútvarp á Öræfajökli (Rádio nocturna em Öræfajökli) de Svavar Gudnasson

Pela sua situação e contorno, Höfn tem sido cenário de alguns filmes, como Lara Croft (I) ou o 007 Die Another Day. Essas filmagens, com numerosas equipas, têm sido outra fonte de riqueza da cidade.

Igreja de turfa Hofskirkja, em Hof

Numa pequena aldeia a sul do glaciar fica a igreja de Hofskirkja de 1884, dedicada a S. Clemente, que foi a última com cobertura de turfa e paredes de pedras justapostas. É uma de seis na Islândia, protegidas como património histórico.

 
 


quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

A 61º N, na distante ilha de Kinn, uma igreja medieval em pedra


🎄Uma prenda de Natal 🎄

Kinn e o penedo rachado Kinnaklova
 
A ilha de Kinn (øya Kinn) é um extremo ocidental da Noruega, a uma boa distância para poente da cidade de Florø - ou seja, mar adentro.
 

É uma ilha agreste, ventosa e fria no Atlântico Norte, longe da terra firme; seria de esperar alguma construção Viking, uma stavkirke, mas não uma igreja medieval do século XII, em pedra e com torre sineira separada. É espantosa, mesmo agora depois do restauro: a Igreja de Santa Sunniva.

 

 


A Igreja de Sta. Sunniva em Kinn

É uma igreja românica de Kinn da segunda metade do século XII. Está construída com uma pedra calcária especial da ilha de Skorpa, um pouco a nordeste. 

Está situada no sopé de um pico íngreme - Kinnafjellet -, um rochedo de 300 m de altura . Em frente fica Kinnaklova, outro rochedo de perfil único, com uma fenda, visível a grande distância ao longo da costa e que por isso servia de guia aos marinheiros

No interior abundam madeiras em talha. O lectorium ( 'jubé' ou tribuna) é uma estrutura em madeira ou em pedra que separa a nave do altar-mor, encimada por uma galeria onde se faziam as leituras dos livros, antes de aparecerem os púlpitos. É mais comum em igrejas do Norte da Europa.



O lectorium é a parte mais antiga, talvez de pouco após 1100, e os baixo-relevos em madeira foram esculpidos em Bergen ao tempo do rei Håkon Håkonsson.
 


O campanário, de 1912, está afastado, assente sobre uma dupla arcada de pedra que conduz ao cemitério:
 
 
Há pouco tempo o conjunto foi sujeito a uma renovação exterior e interior, perdeu a 'patine' e mais parece obra feita de novo a imitar antigo.
 
Tinta preta e branca encobre a pedra e a madeira.


 
Kinn foi sítio de abrigo e assentamento para eremitas cristãos que nos séculos IX e X vagueavam em missão por vastos territórios. Esta ilha e a de Selja, onde há um mosteiro beneditino medieval, devem ter feito parte dos locais frequentados por eremitas das Igrejas Celtas irlandesa e britânica. 

Um relato nórdico da vida de Sto. Albano, do séc. XII, criou uma lenda, a lenda de Santa Sunniva.

Sunniva era filha de um rei celta cristão da Irlanda, ainda antes do ano 1000. O reino tinha grandes dificuldades em defender-se dos ataques Vikings, e quando foi invadido e sujeitado era de esperar que a filha do rei fosse obrigada a casar com o chefe dos pagãos. Horrorizada com essa perspectiva, Sunniva fugiu com as duas irmãs, o irmão (viria a ser Sto, Albano) e alguns súbditos, e atravessaram o mar sem saber onde iriam aportar. Arrearam as velas e largaram os remos para deixar o seu destino em mãos divinas. E assim foram parar às llhas Kinn e Selja, ao largo da costa norueguesa, onde seriam mortos numa gruta que colapsou quando se escondiam dos noruegueses. 
 

Os restos mortais foram encontrados em 996 na ilha de Selja, onde por volta de 1100 o rei Olav Tryggvason, que converteu o país ao cristianismo, mandou  construir o mosteiro dedicado ao inglês Sto. Albano, e mais tarde em Kinn a igreja de Sta. Sunniva.

A Ilha de Kinn


O acesso à ilha faz-se por um cais no lado nascente, onde o barco local aporta com os poucos habitantes, visitantes, e os muitos peregrinos durante as festas anuais a Sta. Sunniva. Que a Noruega também tem lugar de peregrinação !
 

    Junto ao cais há um alojamento e uma galeria de arte.



Dois caminhos dão a volta à ilha para aceder a pé ao local da igreja.


 


Espero que tenham gostado. Boas festas !