domingo, 25 de maio de 2025

Quatro memórias da Galiza de um café frente ao mar


Algumas das boas memórias que tenho das férias na Galiza têm a ver com estar sentado numa esplanada frente ao mar, num dia quente de Verão, a tomar um cafezinho. Na Galiza a qualidade do espresso varia muito, desde marcas portuguesas - Candelas - a outras melhores como a Illy; mas tive quase sempre sorte neste locais.

Tenho saudade dessas praias galegas, sobretudo as do Grove, pequenas e bonitas, limpíssimas, e a da Pragueira, onde passei horas inesquecíveis. Praia e comida boa, eram as férias baratas ao alcance das nossas bolsas nesses anos 2002/3/4/5.


- Terraço do Samar sobre a praia da Lanzada




- Café Sotavento em Portonovo, de frente para a ria

Já não existe, o Sotavento, substituído por outro sem a mesma graça. Estava no alto de uma rampa panorâmica na penísula de Punta Cepelo, na Avenida de Pontevedra, com um miradouro em frente.






Miradouro de O Cepelo
 
As ilhas Ons no horizonte.
 
- Esplanada do Almar na Praia da Pragueira

A Pragueira é favorita de vários anos. Um acesso apenas visível da estrada litoral indica "Aparthotel Almar". Nada nos prepara para o magnífico e vasto crescente de areia branca que a maré vaza decora com belas formações rochosas, cheias de
 algas e de pocinhas. Lambra um poco o Baleal Norte, mas com uma mar suave.
 



Estivemos sempre na Pragueira assim, sem gente, mesmo em Julho ou Agosto.


- 'O Pirata' em S. Vicente do Grove

Aqui era romaria certa todos os anos. O sítio é excepcional até porque muito perto fica o passadiço de madeira sobre estacas que é uma das maiores maravilhas da península.


Em frente tem um relvado sobranceiro à praia onde costuma instalar serviço de esplanada; é preciso sorte para arranjar mesa...



Sendero de Pedras Negras

Ao longo do passadiço, com as ilhas Ons ao longe.

- As Pipas do Grove

No Grove, as praias são as melhores da Galiza. pequenas enseadas, mais ou menos rochosas, areia muito branca com orla de conchas e algas, águas quase paradas, de azul ou verde transparente com reflexos no fundo. A Barcela - nossa favorita - , Area Grande, Area das Pipas, Reboredo...

A Barcela, dourada e azul com as mexilhoeiras ao longe


Area das Pipas

O que melhor aqui lembro ao sair da praia é o pequeno restaurante As Pipas e as suas merluzas - a la gallega (a melhor) , à romana, na plancha.
 

Plataformas mexilhoeiras na luz do sol poente.

A Galiza é um mundo. Há países gandes mais pequenos.

 



domingo, 18 de maio de 2025

Vøringsfossen, na Noruega, a minha mais grandiosa cascata + cerejas Morello

Não fomos às Américas nem a África, nem lamento por aí além - só um bocadinho, ao Canadá gostava de ter ido. Vimos as tumultuosas Rheinfall no Reno suíço, vimos a Pistyl Rhaeadr no País de Gales, mas as nossas mais espectaculares cascatas foram na Noruega, e de todas há três inesquecíveis: a Steinsdalfossen, um jorro brutal que vemos cá de baixo, a cascata dupla Låtefossen, e a brutal Vøringsfossen. Esta última, a ter de escolher, é a minha campeã.

Estivemos na Noruega em 1998, sediados em Bergen. Daí até à cascata, pela estrada Fv 7 ao lado do Herdangerfjord e do Lago Eidfjord, são 170 Km, que levaram mais de 4 h com as paragens. Mas chegámos.

As águas do rio Bjoreio caem 182 metros, sendo 145 em queda livre. O rio prossegue depois num canyon entre altas paredes rochosas.

 
Na altura havia uma plataforma de observação, mas nada do que existe agora: um sistema de  passadiços metálicos que atravessam o Canyon.
 
 
O arco-íris forma-se sempre que há sol.  

Era já tarde e a fome apertava. No regresso havia na berma da estrada uma venda de cerejas, grandes e escuras, carnudas. Soube depois que se chamam "Morello". 
 
 
13 kr. a caixinha, mais de 200$00.
 

Duas experiências marcantes. Não digam que agora é tudo igual em toda a parte.

Voltando ao início do dia: no caminho desde Bergen ladeando o Hardangerfjord, tínhamos passado pela Steindalfossen, ou Cascata de Steindal.
 
 
 
Já era a mais turística das três cascatas..


Mais adiante, ainda na Fylskevei 7, surge Eidfjord, entre paisagens de postal, sobretudo no Lago Eidfjord e em Simadal - onde se disfrutam vistas dos fiordes assombrosas:
 

 
Actualmente estes sítios já não são visitáveis em paz e sossego: multiplicaram-se lojas e lojinhas turísticas e as camionetas chegam e partem constantemente. Tivemos a sorte de estar com a paisagem por nossa conta.

 
No dia seguinte iríamos para sul de Bergen, no Sørfjorden, onde nos surpreenderam as gémeas Låtefossen.

 
O ruído ensurdecedor aumenta o impacto das violentas torrentes. Já era um pouco tarde e a luz enfraquecia, embora em Bergen ficasse dia até perto das 23h.


Nunca fui ao Norte Ártico, com muita pena; o mais próximo foi a Noruega, os seus glaciares e as Stavkirker, as igrejas de madeira nórdicas dos primeiros anos de cristianização. E estas cascatas, quase directas das águas dos glaciares.

 

 

domingo, 11 de maio de 2025

Na Finlândia, perto da ameaça russa: Joensuu


Uma ponte pedonal liga a parte mais antiga de Joensuu à cidade nova.

Estamos no leste da Finlândia, a 50 km da fronteira com a Rússia. Joensuu é uma importante cidade portuária de 80 000 habitantes, quase imaculadamente moderna, mas é a localização e as evidências de alguma História que me interessam. 


Situada a  62° 36′ N, 29° 45′ E Joensuu nem sequer é sub-ártica, está à latitude de Ålesund; é uma cidade da região da Karelia, no extremo leste da Finlândia, nas duas margens do estuário do Rio Pielisjoki (Joensuu = "estuário") quando ele se lança no grande Lago Saimaa, cujo sistema de rios permite a navegação até ao famoso Lago Ladoga na Karélia 'Russa' , e daí até S. Petersburgo.

Cais fluvial histórico de Joensuu, na margem esquerda..

Foi cidade em 1848 durante o reinado do Czar Nicolau I, mas já ali existia um povoado desde 1400. Até ao final do século XIX, Joensuu tornou-se era uma das maiores cidades portuárias da Finlândia, com tráfego fluvial para S. Petersburgo e rotas marítimas para as cidades da Europa central. A construção de um canal navegável, em 1870, passou a trazer milhares de barcos a vapor, barcas e navios madeireiros, e o porto fervilhava de actividade.

Canal navegável com comportas no Rio Pielisjoki

O núcleo inicial da cidade é na margem oeste, percorrida pela rua marginal agora denominada Rankatu; situa-se aí o bairro histórico Taitokortteli, um pequeno quarteirão de casas de madeira do final do século XIX num quadriculado de ruas. O nome significa "bairro do artesão", pois tem várias galerias e lojas de artesanato local.


O bairro começa junto ao rio, frente a um jardim na marginal, o Rantapuisto:

Aqui ficava o antigo porto fluvial, e agora o porto turístico.

O cais fluvial de passageiros era o centro de animação da margem esquerda. Quando chegava ou partia um navio, os passageiros e a carga traziam uma vida intensa ao Taitokortteli.


O Teatro e Casa de Cultura Pakkahuone



Ao lado, a Casa de Olson de 1853, talvez a mais antiga da cidade, também frente ao rio Pielisjoki


Construída para o farmacêutico Olson na rua Malmikatu 1. Nos finais do século XIX esta era a zona mais animada, junto ao antigo porto.


A mais bonita da cidade, também.

A Casa Mustonen, centro de Artes, é onde se concentra a actividade do bairro.

Casa Mustonen de 1870, na Koskikatu

O quarteirão data de 1870, construído sob ordens do Kauppaneuvoksen (consultor comercial) Mustonen.

Kauppaneuvoksen Kahvila, um café-restaurante com o nome do consultor comercial Mustonen.


Um quiosque de café e gelados.

O Centro de Arte Ahjo

Antigo ginásio do Liceu, foi convertido em espaço de Arte para exposições, instalações e performances.


Museu das Belas Artes

Junto ao Taitokortteli, o Museu de Joensuu, fundado em 1962 com oferta de colecções privadas, ocupa um edifício neo-renascença de 1894, antigo Liceu.

Na rua Kirkkokatu

Numa cidade tão remota admira a dimensão deste Museu. Algumas obras:


Albert Edelfelt, 'Virginie', 1883

Vaino Aaltonen, Runotar (Musa), 1926

A colecção mais importante é um conjunto de arte religiosa, com destaque para uma Madonna de Bernardo Daddi, aluno de Giotto:

Bernardo Daddi, altar (Florença, séc XIV)

Mais:

A Igreja de Joensuu



É uma igreja luterana de 1903, em tijolo, no estilo neo-gótico e de inspiração Arte Nova, mais evidente na decoração das abóbadas das três naves.



Ylisoutajan silta, a Ponte do Remador


Ponte pedonal de 2014, cujo nome recorda um remador vitorioso. Premiada pelo design e pela iluminação nocturna.

 Iluminada ao entardecer, com a agulha da Igreja ao fundo.


Joensuu deve a sua relevância actual aos mais de 20 000 estudantes da Universidade da Finlândia Oriental e da Universidade da Karélia do Norte, situadas na margem direita, a cidade moderna.


Joensuu é conhecida também como Capital Florestal da Europa, não só pelo extenso Parque Florestal que a circunda, mais denso a Norte, como pelos estudos florestais (ambientais, madeiras, transportes fluviais) nas suas Universidades. 



A temível fronteira leste

A sul da aldeia de Värtsilä, pela estrada nº 9 até ao pequeno lago Virmäjärvi, que pertence a meias à Finlândia e à Rússia, estamos na linha de fronteira; aqui é o ponto mais oriental não só da Finlândia como de toda a União Europeia !


Esta proximidade com a fronteira russa marcou a história de Joensuu. Do outro lado, está a República da Karélia, território pilhado à Finlândia pela força mas cujos laços com o lado ocidental facilitam a cooperação transfronteiriça.
 
A Guerra de Inverno, também conhecida como Primeita Guerra Sovieto-Finlandesa, começou com a invasão por tropas russas da Finlândia em 30 de Novembro de  1939, e terminou três meses e meio depois como Tratado de Paz de Moscovo a 13 de Março de 1940. Embora dispondo de maior força militar, sobretudo força aérea e tanques, a URSS sofreu elevado número de baixas e de início pouco conseguiu progredir. A Liga das Nações (precursora da ONU) condenou o ataque como ilegal e expulsou a URSS. A Finlândia repeliu os ataques durante mais de dois meses e inflingiu mais de 160 000 mortes ao exército invasor, sob temperaturas que atingiram  −43 °C.

Com o Tratado de Paz , a Finlândia cedeu 9% do seu território à URSS, que apesar das pesadas baixas acabou por ter mais ganhos do que exigia a princípio (não faz tocar campaínhas de alarme ?) . Ficou com vastos terrenos em torno do Lago Ladoga, na Karelia, tendo a Finlândia ficado apenas com duas regiões a Norte e Noroeste do Lago. História que os finlandeses vêem repetir-se na Geórgia, na Ucrânia.

Actualmente os 1340 km de fronteira, fortemente patrulhados e vigiados, bordados de covas e blocos de cimento anti-tanque ('dentes-de-dragão'), são praticamente intransponíveis, à excepção de algumas estradas de terra não pavimentada; há faixa de terreno interdita que impede a aproximação a menos de 3 ou 4 km.

'Zona de fronteira - acesso proíbido'.

Boa sorte Finlândia, que a paz esteja contigo.