Uma ponte pedonal liga a parte mais antiga de Joensuu à cidade nova.
Estamos no leste da Finlândia, a 50 km da fronteira com a Rússia. Joensuu é uma importante cidade portuária de 80 000 habitantes, quase imaculadamente moderna, mas é a localização e as evidências de alguma História que me interessam.

Situada a 62° 36′ N, 29° 45′ E , Joensuu nem sequer é sub-ártica, está à latitude de Ålesund; é uma cidade da região da Karelia, no extremo leste da Finlândia, nas duas margens do estuário do Rio Pielisjoki (Joensuu = "estuário") quando ele se lança no grande Lago Saimaa, cujo sistema de rios permite a navegação até ao famoso Lago Ladoga na Karélia 'Russa' , e daí até S. Petersburgo.
Cais fluvial histórico de Joensuu, na margem esquerda..
Foi cidade em 1848 durante o reinado do Czar Nicolau I, mas já ali existia um povoado desde 1400. Até ao final do século XIX, Joensuu tornou-se era uma das maiores cidades portuárias da Finlândia, com tráfego fluvial para S. Petersburgo e rotas marítimas para as cidades da Europa central. A construção de um canal navegável, em 1870, passou a trazer milhares de barcos a vapor, barcas e navios madeireiros, e o porto fervilhava de actividade.
Canal navegável com comportas no Rio Pielisjoki
O núcleo inicial da cidade é na margem oeste, percorrida pela rua marginal agora denominada Rankatu; situa-se aí o bairro histórico Taitokortteli, um pequeno quarteirão de casas de madeira do final do século XIX num quadriculado de ruas. O nome significa "bairro do artesão", pois tem várias galerias e lojas de artesanato local.
O bairro começa junto ao rio, frente a um jardim na marginal, o Rantapuisto:
Aqui ficava o antigo porto fluvial, e agora o porto turístico.
O cais fluvial de passageiros era o centro de animação da margem esquerda. Quando chegava ou partia um navio, os passageiros e a carga traziam uma vida intensa ao Taitokortteli.
O Teatro e Casa de Cultura Pakkahuone
Ao lado, a Casa de Olson de 1853, talvez a mais antiga da cidade, também frente ao rio Pielisjoki.
Construída para o farmacêutico Olson na rua Malmikatu 1. Nos finais do século XIX esta era a zona mais animada, junto ao antigo porto.
A mais bonita da cidade, também.
A
Casa Mustonen, centro de Artes, é onde se concentra a actividade do bairro.
Casa Mustonen de 1870, na Koskikatu
O quarteirão data de 1870, construído sob ordens do Kauppaneuvoksen (consultor comercial) Mustonen.
Kauppaneuvoksen Kahvila, um café-restaurante com o nome do consultor comercial Mustonen.
Um quiosque de café e gelados.
O Centro de Arte Ahjo
Antigo ginásio do Liceu, foi convertido em espaço de Arte para exposições, instalações e performances.
Museu das Belas Artes
Junto ao Taitokortteli, o Museu de Joensuu, fundado em 1962 com oferta de colecções privadas, ocupa um edifício neo-renascença de 1894, antigo Liceu.
Na rua Kirkkokatu
Numa cidade tão remota admira a dimensão deste Museu. Algumas obras:
Albert Edelfelt, 'Virginie', 1883
Vaino Aaltonen, Runotar (Musa), 1926
A colecção mais importante é um conjunto de arte religiosa, com destaque para uma Madonna de Bernardo Daddi, aluno de Giotto:
Bernardo Daddi, altar (Florença, séc XIV)
Mais:
A Igreja de Joensuu
É uma igreja luterana de 1903, em tijolo, no estilo neo-gótico e de inspiração Arte Nova, mais evidente na decoração das abóbadas das três naves.
Ylisoutajan silta, a Ponte do Remador
Ponte pedonal de 2014, cujo nome recorda um remador vitorioso. Premiada pelo design e pela iluminação nocturna.
Iluminada ao entardecer, com a agulha da Igreja ao fundo.
Joensuu deve a sua relevância actual aos mais de 20 000 estudantes da Universidade da Finlândia Oriental e da Universidade da Karélia do Norte, situadas na margem direita, a cidade moderna.
Joensuu é conhecida também como Capital Florestal da Europa, não só pelo extenso Parque Florestal que a circunda, mais denso a Norte, como pelos estudos florestais (ambientais, madeiras, transportes fluviais) nas suas Universidades.
A temível fronteira leste
A sul da aldeia de Värtsilä, pela estrada nº 9 até ao pequeno lago Virmäjärvi, que pertence a meias à Finlândia e à Rússia, estamos na linha de fronteira; aqui é o ponto mais oriental não só da Finlândia como de toda a União Europeia !
Esta proximidade com a fronteira russa marcou a história de Joensuu. Do outro lado, está a República da Karélia, território pilhado à Finlândia pela força mas cujos laços com o lado ocidental facilitam a cooperação transfronteiriça.
A
Guerra de Inverno, também conhecida como
Primeita Guerra Sovieto-Finlandesa, começou com a invasão por tropas russas da Finlândia em 30 de Novembro de 1939, e terminou três meses e meio depois como Tratado de Paz de Moscovo a 13 de Março de 1940. Embora dispondo de maior força militar, sobretudo força aérea e tanques, a URSS sofreu elevado número de baixas e de início pouco conseguiu progredir. A Liga das Nações (precursora da ONU) condenou o ataque como ilegal e expulsou a URSS. A Finlândia repeliu os ataques durante mais de dois meses e inflingiu mais de 160 000 mortes ao exército invasor, sob temperaturas que atingiram −43 °C.
Com o Tratado de Paz , a Finlândia cedeu 9% do seu território à URSS, que apesar das pesadas baixas acabou por ter mais ganhos do que exigia a princípio (não faz tocar campaínhas de alarme ?) . Ficou com vastos terrenos em torno do Lago Ladoga, na Karelia, tendo a Finlândia ficado apenas com duas regiões a Norte e Noroeste do Lago. História que os finlandeses vêem repetir-se na Geórgia, na Ucrânia.
Actualmente os 1340 km de fronteira, fortemente patrulhados e vigiados, bordados de covas e blocos de cimento anti-tanque ('dentes-de-dragão'), são praticamente intransponíveis, à excepção de algumas estradas de terra não pavimentada; há faixa de terreno interdita que impede a aproximação a menos de 3 ou 4 km.
'Zona de fronteira - acesso proíbido'.
Boa sorte Finlândia, que a paz esteja contigo.