Sandwick é uma das mais desoladas e remotas regiões da maior ilha das Orkney. Prosseguindo na minha obsessão em ver e mostrar sítios novos da Europa, nada melhor do que um recanto onde não devia haver coisa alguma e afinal há: uma aldeia Neolítica, uma mansão apalaçada perto da praia e uma invulgar igreja em bom estado. Tudo muito inesperado, numa planura sem árvores, sub-ártica, à beira do selvagem Atlântico Norte. A poucos minutos está a bela cidadezinha de Stromness, 10 km a sul, onde não falta nada.
Porto de Stromness.
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Skara Brae, sítio arquelógico da Idade da Pedra
Há 5000 anos, as Orkney tinham um clima suave e um solo fértil, muitos lençóis de água doce, e estavam suficientemente afastadas para segurança contra ataques. Em Skara Brae estamos perante uma obra maior do Neolítico - a aldeia foi uma construção de muito engenho recorrendo ao material disponível no local.
Por volta de 1850, uma violenta tempestade no mar conjugada com uma maré alta excepcional deixaram a descoberto a base das Dunas de Skerrabrae, revelando um amontoado de detritos e cinzas recheado de artefactos.
Oito anos depois já estavam à vista quatro estruturas e um vasto espólio de achados primitivos. Em 1861 foram abertas vária câmaras e passagens. Em 1970 o arqueólogo David Clark fez finalmente a datação por radiocarbono confirmando que os achados não eram da Idade de Bronze (Pictas) mas bem mais antigos - do Neolítico tardio, tal como as pedras de Ness of Brodgar; o local estava habitado entre 3200 aC e 2500 aC. Em Dezembro de 1999, Skara Brae foi incluída nos Sítios de Património Mundial da UNESCO.
Casas 1, 2 e 8 - primeiras a ser descobertas, as 'melhores'; casas 9 e 10 - as mais antigas. A zona mais escura é a mais antiga, mais afastada do mar; a aldeia cresceu em direcção à praia.
Casa nº 1, com o seu 'aparador' em lajes da praia.
Cada habitação contém peças de mobiliário em pedra - camas, assentos, armários e caixas de arrumação. Ao fundo vilslumbra-se Skaill House.
Skara Brae devia ser um lugar acolhedor. Algumas dezenas de humanos construíram as oito habitações, ligadas por passagens cobertas, encostadas umas às outras para se protegerem dos invernos rigorosos. Tinham uma lareira central no interior, e os espaços estavam 'mobilados' com camas de pedra e armários de prateleiras, tudo com as pedras e lages argilosas da praia - note-se que nas ilhas não existem árvores desde há mais de 5000 anos, excepto os destroços que dão à praia.
A entrada nas casas era por uma porta baixa sustida por uma laje de pedra; de frente para a porta estava o aparador, à direita e à esquerda camas, ao centro a lareira.
Casa nº 8
Menos de 50 pessoas habitariam a aldeia, vivendo da pastorícia de gado e ovelhas e da colheita no mar. Cultivavam pelo menos cevada, de que se encontraram grãos. Culturalmente fazem parte da população dita de "Cerâmica ranhurada", Grooved Ware.
Cerâmica ranhurada neolítica de Skara Brae
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