domingo, 28 de setembro de 2025

O vórtice Swelkie, as marés furiosas em Pentland Firth, e a Ilha de Stroma onde já ninguém quer viver.


Publiquei há 2 semanas um post sobre Wick e Thurso, na região de Caithness, a mais setentrional da Escócia. Ora sucede que entre esta região e as Ilhas Orkney, poucas milhas marítimas mais a norte, há coisas de que vale a pena falar porque ninguém delas fala.

O mar de Pentland Firth frente ao farol de  Holborn Head.

Entre as duas minúsculas e desabitadas ilhas de Stroma (Caithness) e Swona (Orkneys), o Atlântico Norte é particularmente selvagem, com marés violentas, das mais bravias no Planeta, e um redemoínho famoso, o Swelkie (de 'Svelgr', significa "engolidor" !). 


Este mar é conhecido por Pentland Firth (do nórdico Petlandsfjörð), que significa O Estreito dos Pictos, o povo nativo da Escócia conhecido pelas grandes Pedras gravadas e pela resistência aos Romanos que os obrigou a construir um muro de defesa.

O vórtice Swelkie, por seu lado, forma-se a Norte de Stroma nas duas marés - vazante e enchente. Quem alguma vez lá passou não tem vontade de voltar, diz o 'British Islands Pilot', manual náutico da Marinha americana. 

O Swelkie, vórtice marítimo no Atlântico Norte, ao largo da Ilha de Stroma.

Tal como o seu irmão Maëlstrom mais a norte junto às ilhas Lofoten, o Swelkie foi o terror de muitos marinheiros de pequenos barcos e assusta até navios maiores.


É criado pelas correntes de maré entre as duas ilhas, não sendo para admirar que Stroma é a mesma palavra que Stream, corrente; Stroma (Strøm Ø) é literalmente a Ilha das Correntes. 

O mar 4 a 5 km a norte de St John's Point é a pior zona de correntes

Será escusado dizer que é muito difícil viver em Stroma ou Swona, pequenas ilhas rasas, plataformas sem altitude, varridas pelas ventanias e impossíveis de alcançar ou de serem abastecidas em dias de mar bravio. O mar de Pentland tão depressa é navegável como sofre tempestades violentas e tremendas marés, como um mar em ebulição, fervilhando de torvelinhos, correntes, ondas, tudo à luta com ventos contrários. 


Navegar no Pentland Firth é de evitar sempre que possível. A parte pior é um percurso 4-5 km a norte da Ponta de St. John, onde as correntes para Oeste atingem 16 nós e as vagas surgem de todos os quadrantes, sem que se consiga um rumo estável.

Barco salva-vidas da RNLI* (40 ton., 1998) no Pentland Firth

O ferry Claymore da Caledonian MacBraide (1600 ton.) não teve vida fácil nestes mares.

Em Janeiro de 2015, o cargueiro MV Cemfjord, que transportava cimento, afundou subitamente sem SOS nem qualquer outro alerta, com a perda total da tripulação. Ainda hoje se desconhece a causa, mas certamente houve erro de navegação por parte de quem pilotava; um ferry que passou perto testemunhou ondas de 10 metros, e teve de fazer frente a uma maré sob tempestade "extraordinariamente violenta". O navio deveria ter evitado essa rota, muitos outros tinham adiado a travessia devido às previsões de mau tempo.

O MV Cemfjord, de 1984, era um navio de 80 m, 1800 toneladas.

O naufrágio deu-se justamente na área a Norte da Ponta de St. John, com correntes para Oeste de 7-8 nós e rajadas contrárias de 100 km/h.


O naufrágio do MV Cemfjord:

Pentland Firth já foi objecto de estudo como fonte de energia. É como um grande funil oceânico, gera a mais poderosa energia de marés do planeta ! No seu máximo de correntes de maré, cerca de 30 km/h (16 nós), as ondas de maré de vários metros poderiam gerar mais de 8 Gigawatts, uma coisa colossal - 15 vezes mais que Alqueva, quase o dobro da Nuclear de Zaporizhzhya ! Seria a maior fonte de energia renovável do Reino Unido, chegava e sobrava para Londres. Outras vantagens incríveis: é regular, previsível, com dois picos máximos em cada 24 horas, permitindo garantir anos de abastecimento sem falha. No mínimo, obter 1 Gigawatt é o objectivo actual.

Ilha de Stroma

Coordenadas : 58° 41' N, 3° 7' W
Área: 375 ha (menos de 4 km2)
Habitantes: 0




Ondas rápidas de maré, correntes e torvelinhos tornam o acesso à ilha muitas vezes problemático. A sul, há um pequeno porto mais protegido das correntes, The Haven. 

Acima do pequeno cais, as casas abandonadas the Uppertown, que eram habitadas por pescadores e criadores de gado.

No seu auge, em 1724, houve 47 famílias permanentes na ilha, 200 a 300 pessoas, a trabalhar para a família Sinclair que era proprietária do terreno. Ocupavam-se sobretudo com as ovelhas e as pastagens, mas o maior lucro era do contrabando de bebidas alcoólicas. Era uma vida de terrível isolamento, várias semanas seguidas sobretudo no Inverno ou sob tempestades; tudo melhorou um pouco em 1824 com a construção do cais de acostagem.


Mesmo assim, sem água nem luz, sem escolas, era obrigatório um vai-vém constante e muita despesa. Foi-se despovoando, a única loja fechou em 1956, o posto de correio em 1958, a última família saiu em 1962. 


Já nem o faroleiro lá mora - o farol é automatizado desde 1961 - só aventureiros, investigadores marinhos e o dono da ilha, proprietário também do único barco e das ovelhas.


Farol no extremo Norte perto do Swelkie, porto e casas abandonadas na costa sul e leste. 

É neste canal que começaram a funcionar as primeiras turbinas de maré, ao largo das rochas Merry Men of Mey, junto à Ponta de St. John.

Ilha de Swona

Ainda mais pequena, esta ilha das Orkney também teve o seu período de ocupação, bem mais antiga, desde os Neolítico, e mais tarde com os Vikings.


Sendo mais fácil de abordar, com um bom abrigo a leste e bons pastos, esteve ocupada até 1974; pequenas casas de quinta eram habitadas por famílias de criadores de gado. 

'Rose cottage', a casa dos dois últimos habitantes

O Loch Tarf à esquerda, e as rochas Tails of the Tarf onde se formam também redemoínhos perigosos. Assinalado a vermelho, o Cairn.

O mais relevante em Swona é talvez a câmara funerária do Neolítico, rodeada de um 'cairn' de lajes verticais,  chamado "Chambered Cairn at Tarf".


En Swona, o melhor porto de abrigo é a nordeste, The Haven.

O Projecto de Energia de Marés da MeyGen

O projecto britânico já arrancou, numa fase experimental, ainda com uma produção modesta. Foram marcadas três linhas no fundo marinho para assentamento de turbinas:


As primeiras 6 turbinas, colocadas entre a Ilha de Stroma e a costa a uma profundidade de 40 a 60 metros, geram 6 MW ;  turbinas de um modelo mais potente foram instaladas na 2ª fase, de hélice dupla, que continuam a ser produzidas e aplicadas:


Espera-se obter 65 MWh concluída a 3ª fase, até 2029. Como o fornecimento é estável, os 400 MW deverão ser atingidos até 2035. Ainda falta muito para o Gigawatt prometido.


É ao largo das formações rochosas "The Merry Men of Mey’, em direcção a Nordeste, que está a ser instalado o campo de turbinas no fundo marinho. À superfície, fluxos rápidas, redemoínhos, água em convulsão, e o vento em luta contra as correntes. 40 a 50m mais abaixo, alinhamentos de turbinas. O futuro.


domingo, 21 de setembro de 2025

O Universo numa fórmula (FLRW)



No que eu me vou meter. Arrisco-me a perder freguesia. Desde já peço perdão, leitor(a), esta viagem é bem diferente das que aqui costumam aparecer.

Uma das poucas palestras que dei na minha carreira de professor abordava a questão da Geometria do Universo, em particular a evolução do modelo de Newton para o modelo relativista de Einstein. Como eu falava para gente jovem, tinha de expor com o máximo de bonecos e modelos, e evitar a aridez matemática - e diga-se que esta 'aridez' é que era a parte mais bonita, para mim.

Entre modelos de cartolina e imagens coloridas, triângulos sobre esferas e selas de cavalo, o que eu queria era chegar a isto:


O monstro. Chama-se 'métrica de Robertson-Walker ' mais recentemente alargada a outros matemáticos, "métrica de Friedmann-Lemaître-Robertson-Walker"  (FLRW) , a "fórmula do Universo", ferramenta básica em Cosmologia.

Eu queria explicar, ou melhor, descodificar, o monstro. De facto, tudo começa de forma simples, com o bem conhecido Teorema de Pitágoras num plano. Se o nosso mundo fosse plano, bastavam-nos duas linhas de coordenadas - como as linhas horizontais e verticais em papel quadriculado, por exemplo - e as distâncias mediam-se em "quadradinhos" :

O quadrado da hipotenusa (5 ) é igual à soma dos quadrados dos dois catetos (3 + 4 )

Não sabíamos na altura do Liceu, mas esta era uma Lei exclusiva, e definidora, do espaço plano. Portanto, chamando x e y às duas coordenadas, elas formam um triângulo rectângulo em que o lado maior (a hipotenusa) vai ser representado pela letra s.


Vou seguir devagarinho em passos lentos, tudo´simplificado' ao máximo. Em vez de s, x, y, vamos passar a usar uma linguagem diferencial, representando deslocações infinitésimas, muito próximas de zero, por ds, dx, dy. É só cosmética, a aparência muda mas a fórmula é a mesma:


A seguir, vamos passar do plano para para três dimensões (x,y,z) :


Consideremos um deslocamento ds, e nas três coordenas dxdy e dz.


Portanto, agora o "Teorema de Pitágoras" fica alterado, adicionando + dz :

fórmula 1

Pronto, até aqui nem foi difícil, pois não ? Esta é a fórmula para calcular distâncias num cubo, ou num paralelipípedo, que são modelos de espaço plano (não curvo) em três dimensões. Seria assim se o espaço se comportasse como uma rede onde a distância mais curta é sempre a linha recta:


Mas a Relatividade provou que não é assim. Vamos a uma das partes difíceis, que é passar a um espaço curvo.

Um modelo de espaço curvo é a superfície esférica (o nosso planeta). Deixa de haver linhas rectas; a distância mais curta do Porto a Sidney não é uma recta, não podemos furar a direito, é uma curva chamada geodésica, como é o Equador por exemplo. É costume medir a curvatura por um valor K que, reduzindo tudo ao mais simples, vale zero (K=0, curvatura nula) num espaço plano, é positiva no espaço curvo esférico e negativa noutro espaço mais estranho chamado hiperbólico, o tal que lembra uma sela de cavalo. Isto são só nomes, nada de assustar. Eu mostrava isto com cartolinas , espero que esta imagem baste:


Então: se K = 0 , estamos num espaço plano - a distância entre dois pontos, como já vimos, se exprime pela fórmula 1 :

  
Mas se K não for nulo, convém definir um sistema semelhante ao das coordenadas terrestres - latitude e longitude. Serão três coordenadas  - r , θ , Φ  - chamadas "coordenadas esféricas".  Imaginem um balão: 

Coordenadas esféricas: r correspode mais ou menos ao raio - se o balão enche, r aumenta , e vice versa; θ  (téta) e Φ (fi) são as coordenadas angulares no balão, como a latitude e longitude sobre a Terra. É costume usar letras gregas.

Faremos uma terrrrrrível operação de mudança de coordenadas, que se exprime assim matematicamete:

      x= r sin θ cos Φ
      y= sin θ  sin Φ
      z= r cos θ

Devem estar lembrados da operação "substituir o valor da variável", que se traduzia em trocar "x" pelo seu novo valor, e o mesmo para y e z.

Vamos fazer isso substituindo estes valores na fórmula da distância; em vez da fórmula 1


obtém-se, com paciência, não vou mostrar aqui,
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ds2 = dr2 + r2dθ 2 + r2 sin2θ dΦ2
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fórmula 2

que é a métrica para distâncias sobre uma superfície esférica em coordenadas esféricas. Já é uma coisa difícil, se chegaram até aqui...

Grande progresso ! Vamos a ... meio ! Isto permite medir distâncias sobre a superfície terrestre (suposta esférica)  com base na latitude e longitude. Se a Terra 'inchasse' ou 'esvaziasse' como um balão, r deixava de ser fixa, mas sim variável com o tempo como as outras. É uma coordenada móvel. Como devem saber, o Universo está em expansão, e se a sua geometria for esférica...

Vamos, coragem. Uma fórmula do Universo não se consegue sem alguma perserverança ;) .

Esta fórmula 2 já servia, se não fosse a relatividade ! Aqui é que entra ela e tudo fica mais complexo. Afinal não há só três coordenadas de espaço, x, y e z, mas segundo a relatividade restrita, há quatro  - o tempo, t, quarta dimensão, quarta coordenada do Universo. Além disso, toda a deslocação tem uma velocidade limite, inultrapassável - a velocidade da luz, c (~ 300 000 km/s). Se uma distância s for percorrida à velocidade da luz c, a equação dessa deslocação é 

                                     s = c. t ( velocidade x tempo)

como percebe qualquer aluno que tenha feito o secundário (liceu). Sendo c uma constante, uma deslocação infinitesinal (mínima) ds num tempo infinitesimal dt traduz-se por

                                     ds = c dt,   portanto   ds2 = c2 . dt2

Acontece que no Espaço-Tempo da Relatividade (espaço de Minkowsky *) a componente temporal do intervalo tem sinal contrário à componente espacial. Isso tem a ver com a diferença fundamental entre tempo (causalidade, um só sentido)) e espaço, com o facto de à medida que o espaço dilata, o tempo contrai, e vice-versa. Ao introduzir a 4ª dimensão dt, ela subtrai (negativo) em vez de somar, na fórmula 1 :
ds2 = - c2 . dt2  + dx2 + d y2 + d z2    
comp. temp.    - comp. espacial -
 
Podia ficar assim, com os sinais (-,+,+,+), mas costuma usar-se, por convenção, o equivalente (+, -, -, -)

ds2 =  c2 . dt- dx2 - d y2 - d z2 

Estamos ainda a medir distâncias num espaço-tempo (3D+1) plano; com a curvatura do Universo relativista, temos de reverter para as coordenadas móveis r , θ , Φ num espaço-tempo curvo, na fórmula 2,

  --------------------------------------------------------------- 
ds2 = - c2 . dt2  + dr2 + r2dθ 2 + r2 sin2 θ dΦ2
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fórmula 3

Agora é que está quase ! Para chegar à métrica de Robertson-Walker falta corrigir a fórmula 3 inserindo a(t), um factor de escala que mede a taxa de expansão espacial (ou compressão) do Universo, e a constante k da curvatura local, na forma de


A fórmula FLRW é a solução das Equações de Campo para a Relatividade Geral : descreve um espaço, um 'Universo', homogéneo e isotrópico, o que pode parecer uma simplificação abusiva mas.... funciona. Funciona em quê? Em todos os cálculos de distâncias, trajectórias ou intervalos de tempo - foguetes e satélites enviados para o Cosmos, corpos celestes como planetas e cometas, distância entre Galáxias... A alternativa seriam cálculos newtonianos, em 'linha recta' , e dariam resultados errados, tanto mais errados quanto maior for o tempo e a distância envolvidos. A mesma coisa com as mensagens: qualquer comunicação entre a nave no Cosmos e a estação na Terra é feita por sinais electromagnéticos, ondas de rádio ou de laser; também as suas trajectórias obedecem às leis da relatividade.

FLRW:        

ds : Intervalo infinitesimal de "espaço-tempo".
c:    Velocidade da Luz.
dt : Intervalo infinitesimal de tempo.
a(t) : Factor de escala que descreve a expansão ou contracção do Universo em função do tempo.
dr, dθ, dΦ : Mudanças infinitesimais nas coordenadas espaciais (radial, polar e azimutal).
:A curvatura, factor que descreve a geometria espacial do Universo:
     K=0 Universo Plano
     K=1 Elíptico (fechado)
     K=-1 Hiperbólico (aberto 

Mas então esse espaço-tempo curvo é real, aqui, na Terra ? Sim, existe. O simples facto de a bola atirada ao ar no Volley descrever um arco e voltar a cair é prova disso: o nosso planeta "deforma" o espaço devido à sua massa, o que se traduz no fenómeno da gravidade. Á nossa escala não altera quase nada as distâncias e os tempos, mas altera trajectórias - a queda dos asteróides, a queda das cápsulas espaciais... esta imagem 'sugere' como essa deformação se veria numa rede de geodésicas próximas da Terra:


A deformação é tanto maior quanto mais maciço for o corpo celeste.

* O Espaço de Minkowski é um tipo de Geometria não Euclidiana que descreve um Espaço-Tempo a 4 dimensões com a assinatura métrica 
(-, +, +, +)
 , ou (+, --, -)

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Alguém aí para me atirar limões? ou ovos ? Por um lado, matemática a mais; por outro lado, fiz batota várias vezes, para facilitar...

Tentem rever desde início 2ª vez, 3ª vez... À terceira é de vez!



domingo, 14 de setembro de 2025

Wick e Thurso, em Caithness - a remota e bela Escócia antes das Orkney


Penso que ainda pouca gente visitou estas terras, além dos próprios britânicos que correm o país todo. Wick e Thurso não estão em nenhuma rota nem entraram em nenhum filme de James Bond. Não oferecem nenhuma obra prima, nenhuma vista deslumbrante. É por isso que me atraem - porque são ainda genuínas e autênticas, e não faltam surpresas.

Na margem norte do rio com o mesmo nome, Wick é uma cidadezita extrema da Escócia, extrema porque está localizada na costa norte, no condado de Caithness, muito para lá de Inverness, a olhar para o mar do Norte e as Ilhas Orkney. O porto de embarque é perto de Thurso, ainda mais a Norte, outra cidadezita com as suas surpresas.

Wick podia ser feia e aborrecida, pois é uma cidade de pedra, granito cinzento escuro, por vezes rebocado com argamassa de seixos cinza claro. 'Wick' é a mesma palavra que a nórdica 'Vík': a língua e a alma são nórdicas.

A ponte sobre o rio Wick dá à cidade uma entrada imponente. À esquerda, um antigo Hotel; à direita, o Bank of Scotland.

Wick , Caithness
Coordenadas: 58° 27′ N, 03° 04′ W
População: ~ 7 000


A rua que se segue à ponte é Bridge Street, uma das duas ruas centrais; a outra é High Street, pedonal, que se encontra ao fundo à direita.


A Câmara e a sua torre marcam o perfil de Wick.

Em High Street, rua comercial, apenas um prédio notável:

The Alexander Bain, um pub com o nome do inventor do relógio eléctrico e da impressora de telégrafo.

Pouco mais há que ver; a actual Igreja de St. Fergus é muito feia, mas no jardim do cemitério há uma ruína de outra mais antiga, do séc. XIII, modificada em 1853: Sinclair Aisle, uma capela mortuária.

 

Há mais e melhor na outra margem, no lado sul da ponte. Wick desenvolveu-se nas duas margens do rio; a River Street conduz até à zona portuária que está transformada em zona residencial.



River Street, as melhores vistas das margens.

Wick inventou´um recorde mundial para o Guinness, "a rua mais curta do mundo":
Ebenezer Place..


À entrada de River Street, este edifício - o Hotel Mackays - tem uma estreita frente com menos de dois metros que forma o que foi baptizado como Ebenezer Place.


Tem menos de 2 metros - a largura da estreita fachada de entrada do Hotel, um edifício em cunha.

Nº1 e único da rua, com 1.6 m

Junto ao antigo porto de pesca, que foi o mais importante porto de arenque da Escócia, foi construído um conjunto residencial, desenhado por Thomas Telford entre 1803 e 1826: Pulteneytown.

Pulteneytown e o cais portuário de Wick

O conjunto habitacional planeado pelo arquitecto Thomas Telford destinava-se a apoiar a indústria pesqueira do arenque, que teve o seu máximo no século XIX. As ruas são em rede perpendicular, percorridas por fachadas quase idênticas de dois a três pisos, descendo a encosta para o porto pesqueiro, a norte e a sul da Bank Row, a rua central do bairro. Uma escadaria desce dali para o porto:

The Black Stairs of Pulteneytown, de 1820, no fim da Lower Dunbar Street, dão acesso ao cais. São ponto de encontro.

É quase uma povoação à parte, na outra margem de Wick; tem sido lentamente recuperada para novas residências e serviços, sendo mais relevantes as ruas Williamson st., Rose st., Telford st. e Satoun st., e as duas diagonais que atravessam esta rede: a Bank Row e a Breadalbane Crescent. Sem esquecer a grande praça Argyle Square.

Wlliamson street, esquina com Rose street


Telford House, na Williamson Street

A Telford House

A Saltoun Street descendo para o cais, e dois pédios renovados na frente do porto.


Edifícios recuperados na frente do porto.

Argyle Square


Esta grande praça com jardim central é o coração residencial de Pulteneytown.

15 Argyle Square, uma entre várias casas classificadas.

Casario pobre e simples, mas bem concebido.

Em Bank Row, perto da escadaria, encontra-se um Museu do Património que é mais um armazém de bric-à-brac , desde utensílios e artefactos caseiros até produtos industriais e alfaias agrícolas. Há sempre um guia para que visita poder dar algum sentido a tanta 'tralha' antiga.

Bank Row



'The Spray', dos anos 1920, no pátio do Museu.

Não falta um pequeno mas requintado jardim .


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Voltemos ao mapa: seguindo para Norte e contornando o cabo para poente, há uma larga entrada de mar onde surgem vários pequenos portos e a outra cidade notável de CaithnessThurso


Thurso, Caithness
Coordenadas: 58° 35' N, 3° 31' W
População: ~ 8 000


A fundação de Thurso remonta ao tempo dos Vikings.  Foi crescendo como cidade com feira, e porto de negócios com a Escandinávia e os países Bálticos a partir do século XIV, culminando nos séculos XVII e XVIII quando ganhou importância maior como porto exportador de farinha, couros e peixe.


Thurso é a mais setentrional cidade da ilha da Grã-Bretanha. Situada na foz do rio Thurso, numa vasta baía que oferece algum abrigo das tempestades de mar, perto do porto de Scrabster onde opera o ferry para as Ilhas Orkney. 


O 'centro' quase se resume a Rotterdam Street, uma rua comercial pedonal, cujo nome relembra que a cidade teve relações com a Liga Hanseática até ao século XVII. Ao contrário da High Street de Wick, esta Rotterdam Street está bem cuidada, mantém alguma graciosidade com patine da História.



Tall Tale Bookshop, na esquina com Gove Lane

Casa gourmet de Cafés Caithness.

A praça central é Sir John Square, onde está o Memorial aos combatentes da 1ª Grande Guerra.


Nas outras ruas de Thurso alinham-se sucessivos prédios de granito escuro, criando uma unidade e coerência de alguma beleza; destacam-se Traill Street (A9), Olrig (Rose) Street, Prince Street, George Street. Perto da foz do rio Thurso, em Shore Street, está um núcleo do século XVII, dos primeiros anos da cidade mercante.

Em Shore Street, 16, está um dos mais antigos edifícios - a 'Turnpike'.


Data de 1686 e terá sido a Casa de Portagem, na antiga estrada do Sul, com um portal de chegada e partida de coches ou carruagens. 

Nas trazeiras, em Back Shore St, há uma ruína famosa - a mais antiga igreja da Escócia, do século XII.

Old St. Peter's Kirke


Conhecida como Igreja Antiga de S. Pedro, de ~ 1125



Não seria de esperar, mas também há na cidade um pequeno Museu - o North Coast Visitor Centre, já com mais de 11 anos. Ao lado do Turismo, no prédio da antiga Câmara, exibe Pedras Pictas e outras antiguidades. 

A antiga Câmara de 1871 no estilo neo-gótico é agora Museu de Thurso, em Rotterdam Street.


Sala dedicada aos Pictos.


A Pedra de Ulbster
 

A mais rica de gravaçóes da pedras Pictas até hoje encontradas.

Uma cruz rodeada por símbolos (crescente com galho em V, disco duplo, degrau) e animais numa das faces; na outra também há cruzes e símbolos. 

Símbolos pictas na pedra de Ulbster.

A Pedra de Skinnet


Foi encontrada em 1861 em Skinnet, no interior um pouco a sul de Thurso. Com entrelaçados e uma representação Picta de um carro puxado por cavalo.

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Parece-me toda uma Europa diferente, talvez porque aqui os Romanos nunca chegaram, nem Mouros nem Godos, nem Igreja católica ... há uma coerência diferente nestas terras e nesta História, de gentes cuja aventura não foi na direcção das Índias ou Américas, mas até ao Mar do Norte, ao Báltico ou à Terra Nova - Pictos, Celtas e Vikings.

A localização de Thurso é estratégica hoje com noutros tempos: é agora o término da linha de combóio de e para o Sul, com ligação por ferry a Stromness, nas ilhas Orkney.


Vamos ?