Tenho lido muito pouco este Verão, por causa dos olhos. Tive uma blefarite (acho) e fiquei de olho inchado e congestionado mais de uma semana. Assim que começou a aliviar, internet internet internet. Só agora retomei as leituras, começando por rasgar em bocadinhos os Woody Allen por colaborar com o regime actual do Kremlin. A cultura não é neutra. Também a Netrebko está no lixo.
Li um artigo imperdível no Le Point sobre os Cabilas (Kabyles), o povo berbere que vive numa região litoral da Argélia, a Cabília, entre mar e montanhas.
As montanhas Djurdjura, Parque Natural
Agouni Geghrane, uma aldeia de montanha. É uma região muito pobre.
Place Gueydon, o centro de Béjaïa
Os berberes de Cabila têm outra característica: pele clara e traços diferentes dos povos árabes. Apetece dizer "mais Europeus", mas credo, que heresia fui eu dizer.
Cabilas célebres são os futebolistas, Zidane e Benzema, mas também Isabelle Adjani era de pai Cabila; também Étienne Daho e Édith Piaf têm ascendência Cabila.
Em Paris, a Cantine des Hommes Libres é um café/bar da comunidade Cabila.
Passando a livros:
Comecei outro Sylvain Tesson, não por culto, longe disso, mas porque faz uma excelente leitura de férias: é a narrativa cultural de uma viagem ao longo do "Arco Celta", como o autor designa a linha costeira Atlântica, desde a galiza às Shetland escocesas.
O livro "Avec les fées" (With the fairies / Com as Fadas) segue a 'tese' estrambólica de que no tempo dos Celtas a costa era povoada de Fadas, era um costa mágica de Maravilhas, até que o Cristianismo, o asfalto e a fast food deram cabo de tudo. Mas ele, Tesson, em sintonia com a Natureza Mágica, consegue sentir ainda as Fadas que habitam as falésias, as grutas, as conchas e as praias, os Menhires, ao longo desse Arco Celta. Seria uma fantasia pateta não fosse o prazer que nos dá passear no bordo daqueles precipícios sobre os mares, ouvir a música das ondas, do vento, pisar as areias da maré baixa repletas de vida.
A navegação começa no Finisterra da Galiza, vai à Bretanha, e da Cornualha sobe até às ilhas escocesas.
Uma das benesses da leitura de Tesson é o uso que ele faz da língua francesa, como:
"Humann et moi mîmes à point notre méthode amphibie. Solfège simple: j'embarquais, naviguais quelques milles, débarquais, courais la lande, retrouvais le bateau à l'endroit convenu".
A parte melhor do que até aqui li foi sobre a Península de Crozon, na Bretanha, com os promontórios que cercam Lostmarc'h e a ponta de Pen-Hir, nomes que só por si fazem sonhar com fadas celtas...
Já decidi que vou trabalhar num post sobre Crozon e a preciosa vila de Camaret-sur-Mer.
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Os contos atrevidos do maroto Guy de Maupassant são o outro livro de varanda.
Sobre este Le Verrou ainda não direi nada mais do que: pimenta na língua, mas uma preciosa língua.