quinta-feira, 20 de agosto de 2015

La Lune est Blanche, dos irmãos Lepage:
uma leitura de Verão diferente.



Para quem gosta de banda desenhada e de aventura, esta narrativa gráfica é imperdível. Estive uma semana agarrado às vinhetas e ansioso por seguir lendo. Passa-se na Antártida Oriental, centra-se numa expedição de 12 dias entre a base litoral francesa Dumont d'Urville e a base interior franco-italiana Concordia, junto ao Dome-C *, numa zona crítica de altitude (3 233 m) e de frio extremo (-30º a -80º C) .

O desenho de Emmanuel Lepage é bastante bom, parte dele baseado em fotografia do irmão François, resultando nalgumas pranchas espectaculares.


A primeira parte relata a viagem desde Hobart (Tasmânia) até à base francesa na costa antártica, a bordo do modesto Astrolabe, um navio polar francês de fundo chato e pequena tonelagem, muito resistente e capaz de quebrar gelo fino, mas muito desconfortável também.

O Astrolabe chegando à zona polar do Antártico.


O enredo está bem desenvolvido, consegue alguma expectativa e algumas surpresas, mesmo que seja brevemente entrecortado por notícias históricas - Amundsen e Scott, Shackleton, Charcot... - que expõem em poucas páginas as longuíssimas viajens e desventuras dos primeiros aventureiros do Antártico.

O James Caird com Shackleton à deriva na tempestade, ilustração de E. Lepage.

Depois de várias tentativas, o Astrolabe consegue furar a placa de gelo e atingir o destino, com largo atraso. Na Dumont d'Urville, o atraso provoca alterações desagradáveis nos planos de expedição. O mau tempo complica ainda mais.


O desenho tem momentos muito bons.


Na segunda parte, central, acompanhamos o raid, um combóio de transporte e de reabastecimento que terá de percorrer 1 200 km na planície gelada, contornando múltiplos obstáculos; tractores de grande potência e tracção por lagartas rebocam vários contentores sob tempestades de gelo, ventos catabáticos, visibilidade zero, veículos atolados na neve mole... e frequentes avarias mecânicas. Uma cavalgada infernal, não fosse o fascínio do território.


A última parte passa-se na base Concórdia, de construção recente (2005), situada à latitude 75º 06' S. Limita-se a descrever a chegada, a vida na base e a partida de avião (o último do ano) dos que não ficam a passar o Inverno. É talvez a parte menos conseguida, uma colecção de retratos e instalações.


A base num dia de Verão antártico. "-37.2 ao nascer o dia" seria um bom título.

O título do livro surge quando um dos autores se afasta alguns metros do raid  procurando a solidão total, com 360º de deserto gelado à sua volta: num raio de 600 km não há alma viva. É como se estivessem na Lua, só que esta Lua é branca.





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La Lune est Blanche
François & Emmanuel Lepage

BD, 256 páginas
ed.  Futuropolis.



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* Dome A,  Dome C,  Dome F são as designações comuns dos cumes mais altos da Antártida. Não são picos mas cimos de encosta suave.


2 comentários:

Gi disse...

É mesmo do Mário pôr-se a ler banda desenhada passada na Antártida quando estamos em pleno Verão... 😊

Mário R. Gonçalves disse...

O gelo sabe melhor quando se está a apanhar sol, Gi !