Depois de um intervalo, volto ao Báltico para uma última (prometo!) publicação: Wismar, a outra cidade hanseática que visitei, e que, sendo de menor dimensão que Lübeck, mantém um ambiente movimentado de cidade aberta ao mar; o centro antigo, entre o porto e a praça central, está quase inalterado - na verdade a cidade sofreu pouco com os bombardeamentos, mesmo que os de Abril de 1945 tenham destruído duas igrejas e a Escola. O bom estado das fachadas, dos pavimentos, a animação das ruas e do porto, dão gosto observar enquanto se percorre facilmente a pé toda a área antiga.
Nestas duas fotos aéreas, assinalei a zona do porto hanseático.
Fundada em 1226, a cidade nasceu já no auge das rotas de comércio no Báltico. Em 1259, faria a primeira aliança da região, contra os assaltos dos corsários, com as cidades de Rostock e Lübeck, aliança que mais tarde viria a evoluir para a formação da Hansa germânica. Wismar e Stralsund constituíram então a secção mais influente da Liga no seu estilo arquitectónico urbano e portuário.
Devido à sua riqueza em casas patrícias dos séc XIII-XIV, de empena triangular em degraus arredondados e construídas em tijolo, foi incluída na lista da UNESCO.
Na rua principal, Lübschestrasse, desfilam frontarias medievo-góticas ou do início da Renascença.
Krämerstrasse - ao fundo, a antiga 'Farmácia Leão' (Löwen Apotheke), agora café/restaurante.
Uma das esquinas mais concorridas, cruzamento onde confluem acessos ao porto, à praça, e o início da Lübschestrasse.
Marktplatz
O Wasserkunst, ou pavilhão da água, é um poço coberto, um reservatório, obra do renascimento holandês, construído entre 1580 e 1602. A lanterna hexagonal com janelas gradeadas é encimada por uma cúpula em cobre.
O consumo de água era acrescido devido à indústia cervejeira. Tubagens de madeira conduziam a água às residências e às destilarias. O sistema de distribuição de água potável funcionou até 1897.
Em volta da vasta Marktplatz alinham-se alguns dos edifícios mais antigos de Wismar.
Da igreja de S. Nicolau (séc. XIV) , já falei num post anterior. Numa posição elevada, junto a um canal que atravessa a cidade, visível de toda a parte, é um dos seus marcos inevitáveis, prejudicada pela torre atarracada que substituiu a flecha original.
O Altar da Guilda dos Mercadores (KrämmerAltar), na Nikolaikirche.
O Mühlenbach
A água ainda corre por canais a céu aberto atravessando boa parte do centro histórico, e desaguando no porto sob um moínho. O nome significa 'rio da mina', mina de água entenda-se, uma lagoa natural.
Pode parecer que estamos na Holanda.
Assim termina no porto o Mühlengrube, sob uma casa-ponte e moínho.
Actualmente Wismar tem pouco mais de 40 000 habitantes. Mantém a importância do porto, não só como porto de pesca e de recreio mas sobretudo como porta de ligação marítima à Escandinávia, e de exportação da produção local de cerveja.
Aqui acostavam os koggen trazendo arenque em barris, e tecidos do Brabante; exportavam cerveja e grão.
A zona mais antiga do porto está agora mais voltada para o turismo - vela e restauração.
Venda directa de produtos do mar no cais - há quem faça a refeição ali mesmo.
A Wassertor, Torre da Água, única porta de entrada da antiga muralha que resistiu ao tempo, dava acesso directo do porto à cidade.
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Nesta gravura medieval vê-se a Igreja de Stª Maria (ao centro), hoje em ruína; a Igreja de S. Nicolau, à esquerda, com a torre original, alta e esguia; vários Koggen acostados ao cais, e a Wassertor um pouco mais à direita, na muralha.
3 comentários:
É interessante ler sobre estas cidades alemãs que em tudo se parecem umas com as outras. Lembro-me de que quando fui pela primeira vez à Alemanha e 1964 com os meus pais, achei todas as cidades parecidas, muito arrumadinhas, limpinhas, com igrejas e monumentos idênticos. Só fiquei enamorada de heidelberg, onde voltei mais tarde umas duas vezes e Munique, onde passei longas temporadas de 1995 a 2003. Não me encantam, parecem cenários de ópera, demasiado certinhos. Rothenburh, por exemplo, tem uma praça muito semelhante a essa que descreve. É notável como se conseguem manter as traças e as casas dum modo tão impecável, mas gosto mais de cidades menos formatadas....
Obrigada por toda a informação preciosa. Voltei aos bancos da universidade !
Pois perdoe-me Virginia, mas discordo totalmente.
Cidades limpas e arrumadinhas é menosprezo? Prefere as nossas caóticas e sujas ?
Todas iguais? O mesmo diriam eles das nossas, sempre com a mesma igreja barroca e altar em talha dourada, sempre como mesmo pelourinho, o manhoso café Central e a tasca do Zé. E não: são todas bem diferentes, se se estiver lá tempo suficiente para apreciar - o que as une é a qualidade urbana, a História e a Arte.
Acho as cidades alemãs que visitei riquíssimas, Heidelberg incluída, de bela arquitectura urbana, património histórico admirável, muitas com calendário cultural de bom nível - museu, orquestra e teatro/auditório, cafés e esplanadas que não são tascos, ruas pedonais sossegadas e trânsito muito ordenado, vagaroso e cumpridor, passeios amigos dos peões. Gosto disso. É tudo sinal de civilização que por cá não abunda, no Porto em particular, caótico, sujo ( de cão, de garrafas e papéis, de paredes, de casas abandonadas cheias de entulho e ninhos de droga, de gente a urinar pelos cantos, obras de Santa Engrácia que nos põem a tentar fugir pelo meio dos carros que passam, sei lá que mais); cidade malcriada, entaipada, grafitada, esburacada, desorganizada, sem respeito pelos idosos. Ecepto o monstro que é Hamburgo, que me pareceu repelente, não encontrei disso na Alemanha.
E note que estou longe de ser adepto do lifestyle alemão, sob vários aspectos. Já tenho dito que admiro sobretudo Itália, Suíça e o Norte. Em breve escreverei aqui mais sobre isso.
O título, bela do Báltico, já diz o que eu penso. Nenhuma cidade portuguesa merece um epíteto de "bela do Atlântico".
Eu também gosto de cidades limpas e arrumadas, com coerência arquitectónica, trânsito negociável e comércio de boa qualidade.
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