domingo, 16 de agosto de 2015

Wismar, bela do Báltico


Depois de um intervalo, volto ao Báltico para uma última (prometo!) publicação: Wismar, a outra cidade hanseática que visitei, e que, sendo de menor dimensão que Lübeck, mantém um ambiente movimentado de cidade aberta ao mar; o centro antigo, entre o porto e a praça central, está quase inalterado - na verdade a cidade sofreu pouco com os bombardeamentos, mesmo que os de Abril de 1945 tenham destruído duas igrejas e a Escola. O bom estado das fachadas, dos pavimentos, a animação das ruas e do porto, dão gosto observar enquanto se percorre facilmente a pé toda a área antiga.

Nestas duas fotos aéreas, assinalei a zona do porto hanseático.

Fundada em 1226, a cidade nasceu já no auge das rotas de comércio no Báltico. Em 1259, faria a primeira aliança da região, contra os assaltos dos corsários, com as cidades de Rostock e Lübeck, aliança que mais tarde viria a evoluir para a formação da Hansa germânica. Wismar e Stralsund constituíram então a secção mais influente da Liga no seu estilo arquitectónico urbano e portuário.

Devido à sua riqueza em casas patrícias dos séc XIII-XIV, de empena triangular em degraus arredondados e construídas em tijolo, foi incluída na lista da UNESCO.

Na rua principal, Lübschestrasse, desfilam frontarias medievo-góticas ou do início da Renascença.



Krämerstrasse - ao fundo, a antiga 'Farmácia Leão' (Löwen Apotheke), agora café/restaurante.


Uma das esquinas mais concorridas, cruzamento onde confluem acessos ao porto, à praça, e o início da Lübschestrasse.

Marktplatz
O Wasserkunst, ou pavilhão da água, é um poço coberto, um reservatório, obra do renascimento holandês, construído entre 1580 e 1602. A lanterna hexagonal com janelas gradeadas é encimada por uma cúpula em cobre.

O consumo de água era acrescido devido à indústia cervejeira. Tubagens de madeira conduziam a água às residências e às destilarias. O sistema de distribuição de água potável funcionou até 1897.

Em volta da vasta Marktplatz alinham-se alguns dos edifícios mais antigos de Wismar.


Apesar de uma boa parte da população ter sido vitimada pelos surtos de peste, no séc. XVI Wismar ainda era uma cidade portuária póspera. O declínio veio com a ocupução sueca, desde 1648, depois confirmada pela Paz da Vestefália no fim da Guerra dos Trinta Anos; Wismar ficou submetida à coroa Sueca até 1903. Mas o abandono maior veio com o fim da segunda grande guerra, tendo Wismar sido atribuída ao lado soviético pelo acordo de Yalta.

Da igreja de S. Nicolau (séc. XIV) , já falei num post anterior. Numa posição elevada, junto a um canal que atravessa a cidade, visível de toda a parte, é um dos seus marcos inevitáveis, prejudicada pela torre atarracada que substituiu a flecha original.


O Altar da Guilda dos Mercadores (KrämmerAltar), na Nikolaikirche.


O Mühlenbach

A água ainda corre por canais a céu aberto atravessando boa parte do centro histórico, e desaguando no porto sob um moínho. O nome significa 'rio da mina', mina de água entenda-se, uma lagoa natural.

Pode parecer que estamos na Holanda.


Assim termina no porto o Mühlengrube, sob uma casa-ponte e moínho.

Actualmente Wismar tem pouco mais de 40 000 habitantes. Mantém a importância do porto, não só como porto de pesca e de recreio mas sobretudo como porta de ligação marítima à Escandinávia, e de exportação da produção local de cerveja.

Aqui acostavam os koggen trazendo arenque em barris, e tecidos do Brabante; exportavam cerveja e grão.

A zona mais antiga do porto está agora mais voltada para o turismo - vela e restauração.

Venda directa de produtos do mar no cais - há quem faça a refeição ali mesmo.



A Wassertor, Torre da Água, única porta de entrada da antiga muralha que resistiu ao tempo, dava acesso directo do porto à cidade.



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Nesta gravura medieval vê-se a Igreja de Stª Maria (ao centro), hoje em ruína; a Igreja de S. Nicolau, à esquerda, com a torre original, alta e esguia; vários Koggen acostados ao cais, e a Wassertor um pouco mais à direita, na muralha.


3 comentários:

Virginia disse...


É interessante ler sobre estas cidades alemãs que em tudo se parecem umas com as outras. Lembro-me de que quando fui pela primeira vez à Alemanha e 1964 com os meus pais, achei todas as cidades parecidas, muito arrumadinhas, limpinhas, com igrejas e monumentos idênticos. Só fiquei enamorada de heidelberg, onde voltei mais tarde umas duas vezes e Munique, onde passei longas temporadas de 1995 a 2003. Não me encantam, parecem cenários de ópera, demasiado certinhos. Rothenburh, por exemplo, tem uma praça muito semelhante a essa que descreve. É notável como se conseguem manter as traças e as casas dum modo tão impecável, mas gosto mais de cidades menos formatadas....
Obrigada por toda a informação preciosa. Voltei aos bancos da universidade !

Mário R. Gonçalves disse...

Pois perdoe-me Virginia, mas discordo totalmente.

Cidades limpas e arrumadinhas é menosprezo? Prefere as nossas caóticas e sujas ?

Todas iguais? O mesmo diriam eles das nossas, sempre com a mesma igreja barroca e altar em talha dourada, sempre como mesmo pelourinho, o manhoso café Central e a tasca do Zé. E não: são todas bem diferentes, se se estiver lá tempo suficiente para apreciar - o que as une é a qualidade urbana, a História e a Arte.

Acho as cidades alemãs que visitei riquíssimas, Heidelberg incluída, de bela arquitectura urbana, património histórico admirável, muitas com calendário cultural de bom nível - museu, orquestra e teatro/auditório, cafés e esplanadas que não são tascos, ruas pedonais sossegadas e trânsito muito ordenado, vagaroso e cumpridor, passeios amigos dos peões. Gosto disso. É tudo sinal de civilização que por cá não abunda, no Porto em particular, caótico, sujo ( de cão, de garrafas e papéis, de paredes, de casas abandonadas cheias de entulho e ninhos de droga, de gente a urinar pelos cantos, obras de Santa Engrácia que nos põem a tentar fugir pelo meio dos carros que passam, sei lá que mais); cidade malcriada, entaipada, grafitada, esburacada, desorganizada, sem respeito pelos idosos. Ecepto o monstro que é Hamburgo, que me pareceu repelente, não encontrei disso na Alemanha.

E note que estou longe de ser adepto do lifestyle alemão, sob vários aspectos. Já tenho dito que admiro sobretudo Itália, Suíça e o Norte. Em breve escreverei aqui mais sobre isso.

O título, bela do Báltico, já diz o que eu penso. Nenhuma cidade portuguesa merece um epíteto de "bela do Atlântico".

Gi disse...

Eu também gosto de cidades limpas e arrumadas, com coerência arquitectónica, trânsito negociável e comércio de boa qualidade.