domingo, 7 de junho de 2009

Raízes do Pós-modernismo

Do excelente blog “De Rerum Natura”:

«Estamos no final da era da razão […]. Um novo período de explicação mágica do mundo está a nascer, uma explicação baseada mais na vontade do que no conhecimento. Não há verdade, nem no sentido moral nem científico […]. A ciência é um fenómeno social e, como tal, é delimitada pelos benefícios e malefícios que possa causar.

Aquilo que se chama crise da ciência não é mais do que esses senhores estarem a começar a ver por si mesmos o caminho errado a que foram conduzidos pela sua objectividade e pela sua autonomia
».

Estas palavras, de tom apelativamente pós-moderno, são de Adolfo Hitler e quem no-las recorda é Gerald Holton, no livro "A cultura científica e os seus inimigos", publicado entre nós pela Gradiva em 1998. Holton enquandra-as do seguinte modo (página 46):

“Uma parte da ideologia associada à ciência ariana era claro, a de que a ciência é, como agora dizem, basicamente uma construção social, de modo que a herança racial do observador «afecta directamente a perspectiva do seu trabalho». Cientistas de raças indesejáveis, portanto não serviam; de preferência, deviam ser ouvidos apenas aqueles que estivessem em harmonia com as massas, o Volk. Mais ainda, esta visão völkisch encorajou o uso de não especialistas, ideologicamente seleccionados, como participantes em apreciações de assuntos técnicos (…). O carácter internacional dos mecanismos de consenso utilizados para chegar a acordo em questões científicas era também detestável para os ideólogos nazis. O materialismo mecanicista (…) devia ser banido da ciência e a física teria de ser reinterpretada como dizendo respeito ao espírito, e não à matéria. «Os aderentes à física ariana baniram assim da ciência a objectividade e o internacionalismo. […] A objectividade em ciência era meramente um slogan inventado por professores para proteger os seus interesses”.

Em dia de votações europeias, compreendamos melhor a história das idéias na Europa e das suas trágicas consequências, para não nos deixarmos levar de novo por ladainhas socio-misticistas que pululam nos meios intelectuais e de comunicação. Sobretudo, desconfiar de "novos paradigmas", eufemismo frequente para vigarice e prenúncio de ataque ao saber científico.

Mário

2 comentários:

Carlos Pires disse...

Por falar em "novos paradigmas", 2 dos partidos concorrentes (o BE e o MEP) propuseram a equiparação das 'medicinas alternativas' à... medicina (por eles designada como 'medicina tradicional').

Mário R. Gonçalves disse...

É verdade! Aliás a palavra "alternativo" é outro chavão dessa gente - fórum alternativo, cultura alternativa... o que conta é menorizar ou relativizar os valores civilizacionais clássicos, sem que se vislumbre qualquer coisa de sério, sólido ou promissor nessas coisas "alternativas" ou nesses "novos paradigmas"

Mário