segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Açores I: Pequenas notas de viagem

Nos Açores sou um Senhor!

Regressado com a vista lavada de verdura e azul do mar dos Açores (S.Miguel) , à mistura com o negro da pedra vulcânica, cá vai uma caótica lista de impressões:

1. A calçada portuguesa e os calceteiros.

Lindísimos trabalhos em ruas e passeios, sobretudo em Ribeira Grande, uma herança cultural que vale a pena; além do mais , também dá emprego.

Também as bermas das estradas estão limpas como jardins. Vi várias equipes a trabalhar.

2. As criptomérias

Estão em toda a parte: árvores majestosas, perenes, frondosas e de casca escura, formam impressionantes maciços florestais à volta das lagoas, encosta acima, bordeando as estradas. Lindo. Aliás, São Miguel é um paraíso de árvores, bosques e jardins.

3. Miradouros:

Em parte alguma no mundo há miradouros assim. Arranjados como pequenos jardins, floridos e ornamentados de árvores, com cercas de madeira, em vários planos ou em socalcos, com instalaçóes de pique-nique e sanitários, alguns são mais bonitos que o próprio excelente panorama que lhes deu origem!

4. Preços:

Tudo mais barato! Café a 55 cêntimos, em esplanada, gasolina a 1,10 €, bons restaurantes com pratos a 15€ e partilháveis, tabaco SG light a 2,35 €, preço de há anos! E mais - encontram-se na farmácia produtos que por cá estão esgotados e que eu já tinha desistido de encontrar. Não faltam também máscaras avulso para a gripe A...

5. Golfinhos

vi, e muitos. Mas isso sim é caro, e desconfortável. Usam-se barcos insufláveis que levam umas 15 pessoas, ficamos encharcados e enregelados, e pior que tudo, as pancadas nas cavas das ondas (muito piores que os poços de ar nos aviões) são de partir a espinha, e martelam-nos durante 2 horas. Fiquei feito em cacos, mas valeu a pena, claro - os saltos de golfinho em grupo ali mesmo ao nosso lado são muito bonitos. Baleias, tartarugas e peixes voadores, nicles - só promessas...

6. Rabo de Peixe.

É a aldeia de pescadores onde se fabrica o atum Bom Petisco. Não está na Europa nem no séc XXI nem no mundo civilizado. É quase indescritível. Mães desde os 15 anos, têm pelo menos 5 filhos cada; moram, mães e filhos, na rua, sentados ou deitados no asfalto! Vi crianças de barriga para baixo no asfalto a brincar. Tudo cercado de uma imundície mal cheirosa (restos de peixe, dejectos de gaivota, papéis e latas, enfim...). Isto na parte baixa da vila, onde têm casa. Na parte alta, ruas de tascos após tascos onde os homens da terra, de olhar perdido ou cabeça baixa, se encostam às dezenas às portas e às paredes, cerveja ou tinto na mão, mal vestidos, magros, barba por fazer... o discurso habitual dos sociólogos: que é preciso "não estigmatizar", que são "uma cultura diferente, como os ciganos", as crianças "alegres e felizes", nós é que não compreendemos. O que eu vejo chama-se pobreza profunda e atraso.

7. A simpatia dos micaelenses.

Têm todo o tempo do mundo para falar conosco. Seja na loja, no café, no restaurante, na estrada a ajudar turistas perdidos, sempre uma disponibilidade amável, solícita, para conversar amenamente. E depois tratam-nos sempre por Senhor, Senhora ! só nos Açores!

8. a Tabacaria Açoreana, de 1931

"Abriu hoje (...) um luxuoso estabelecimento denominado Tabacaria Açoreana. (..) Este estabelecimento destina-se também à venda de fósforos da afamada Companhia Lusitana de Fósforos, grafonolas, discos, perfumarias e outros artigos."

O único café de Ponta Delgada digno desse nome.

(mas há belas esplanadas ao longo da marina)

9. Hortênsias, pastagens, cercas, vacas e chá

São os postais rurais de S. Miguel. Hortênsias rijas e gigantescas, brancas , azuis e rosa, fazendo sebe dos dois lados das estradas mais bonitas. Pastagens e vacas e cercas em encosta ou planalto, a cair para o mar ou em promontório, criando lindos quadros bucólicos. E plantações de chá em Porto Formoso, suave encosta descendo para o mar...Mais sobre a fábrica de chá Gorreana (desde 1883) aqui:

http://chagorreana.acores.com/

Bem bom, o chazinho.

10. Comidinha

Ui que perdição! Os bifes ! Os peixes !
Refastelei-me com três das mais gostosas refeições da minha vida: o cozido das Furnas no restaurante Terra Nostra (belíssimo jardim), carnes gostosas e sumarentas; os bifes do Restaurante London em Ponta Delgada, que se desfazem na boca como manteiga e são servidos com variedade de molhos; e um Cherne na Telha no mui amável Restaurante S. Pedro que estava celestial.

11. Un peu de culture

Fui ao Teatro Micaelense ouvir o Quarteto Lacerda interpretar quartetos de cordas de Haydn. Nada mal, uma bonita sonoridade que em parte se deverá a bons instrumentos e à boa acústica da sala, mas com certeza à técnica individual (sincronia nos ataques) e a um bom entendimento do conjunto. Todos muito empenhados na música, homenagearam Haydn da melhor maneira. Gostei sobretudo de Alexander Stewart, 1º violino. Uma boa surpresa.
Ver
http://www.quartetolacerda.com/

Nota triste: pouca gente na sala...

12. Louros e louras ;))

Ena tanta lourinha ! Parece que os dinamarqueses são clientes assíduos da ilha após anos de domínio britânico. Então, daqueles iates da marina, sai gente muito, muito bem vestida e que dá gosto mirar.

Próximo post: fotoreportagem.

2 comentários:

Paulo disse...

Aguardamos ansiosamente o próximo post.

Gi disse...

Bom regresso, Mário.
Estive nos Açores, S. Miguel e não só, há mais de 20 anos. É bom ler agora as suas impressões.