Não resisto a citar aqui um post do De Rerum Natura, "Saramago, a Morte e a Mina".
"José Saramago estava redondamente enganado. No seu discurso em Estocolmo por ocasião da entrega do Prémio Nobel, numa tentativa de apoucar a ciência e a tecnologia, afirmou: "A mesma esquizofrénica humanidade capaz de enviar instrumentos a um planeta para estudar a composição das suas rochas, assiste indiferente à morte de milhões de pessoas pela fome. Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante."
A operação de resgaste dos mineiros da mina de S. José, no Chile, com forte apoio da NASA, acaba de mostrar que se chega mais facilmente ao nosso semelhante do que a Marte. Saramago não conseguiu compreender que se pode chegar mais depressa ao nosso semelhante em virtude precisamente de desenvolvimentos científico-tecnológicos associados à descoberta do espaço. Que pena ele não estar cá para ver..."
É assim, a esquizofrenia às vezes não está onde se diz.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
O erro de Saramago (mais um)
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7 comentários:
Eu compreendo a sua (e nossa) emoção com os factos.
Já compreendo menos a hipervalorização abusiva dada na tv aos factos, qual "fake reality show".
Ma não acho justo (e até assim um bocadinho demagógico) virar do avesso palavras de Saramago que, independentemente de gostarmos ou não de outras por ele ditas, foram e são ainda verdadeiras.
Foi apenas "bien trouvé"
Permito-me discordar.
Primeiro, não é a "mesma esquizofrénica humanidade" que estuda a composição das rochas, e que assiste indiferente à morte de milhões de pessoas pela fome.
Há muitas humanidades.
Depois, a assistência "indiferente" de que Saramago fala só reflecte a sua mente amarga, maniqueista, vindicativa: uma coisa é ser-se incapaz, outra ser-se indiferente.
Se houvesse capacidade para acabar com a fome, já se tinha acabado. Digam a receita. Ir a Marte é, simplesmente, muito mais fácil e barato.
E depois, Saramago deixou de comprar livros para ajudar os pobres?
Havia tanta coisa que Saramago não compreendia. Isso não era nenhum mal. O mal era ele pensar que compreendia. O mal é muitos pensarem como ele.
É cómodo declararmo-nos incapazes para podermos ser indiferentes.
E claro que não, não passa pela cabeça de ninguém (nem de Saramago)dizer que a culpa da fome no mundo é de quem estuda composição de rochas. Nem vale a pena argumentar este assunto, mas já agora deixo uma pergunta? quantas humanidades há? As que forem precisas para podermos escolher a nossa?
E finalmente não se trata de não haver capacidade mas sim vontade para acabar com a fome.
Outras soluções haverá, mas uma deu-a o Mário, pelo visto: deixar de comprar livros
Abraço
Professor Mário, permita-me vir aqui chorar no seu ombro, porque ando a fugir de todos os "quem é esse?". Faleceu o pai dos fractais. Estou um desconsolo. Só hoje li a notícia.
Esse discurso, no contexto do resgate dos mineiros, foi muito bem lembrado. Saramago faz-me lembrar os padres medievais, com as suas sentenças para a Humanidade. É fácil parecer-se bonzinho quando não se quer partilhar uma responsabilidade que é de todos, para isso basta convencer os outros que são todos tão mauzinhos. Lá subiu assim a qualquer pódio... Ele era bom a fazê-los. Pena que eu nunca os vi.
Humming amiga, não me trate assim por professOr!
Tenho muito gosto em revisitar o [suss]urros, que vai voltar direitinho para a lista dos blogs seguidos.
Em tempos maravilhei-me com a geometria fractal, consegui transmitir o meu maravilhamento a algumas pessoas, e devo ao Sr. Mandelbrot esse naco de beleza e felicidade. Bem haja, por ter com tanta elegância criado um ramo da Matemática de improvável mas finalmente proveitosa utilidade. Onde estaríamos no estudo dos fenómenos caóticos, transitórios, turbulentos, sem essas figurinhas fantasiosas?
Quanto a Saramago, bem observado, excepto ele "parecer bonzinho". Parecia um cara de pau sem qualquer calor humano.
Grande abraço
Independentemente do que Saramago possa ter dito e do caso salvação dos mineiros e sua excessiva mediatização, os milhões continuam a morrer de fome. Isto pode não revelar uma esquizofrenia global, mas evidencia que algo de errado se passa com a humanidade.
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