quarta-feira, 8 de junho de 2011

A Abadia de Notre Dame de Ré


As ruínas de um abadia podem ser mais apelativas do que o monumento integralmente conservado. É o caso: as paredes, as janelas, as pedras esculpidas de Notre Dame de Ré, isoladas entre campos de de trigo e de papoilas, visitadas de corvos que dominam do alto o território, são visita irresistível.



Data do séc . XII, e foi fundada por monges de Cister; mas as ruínas actuais, de estilo gótico, são mais recentes, do séc. XIV.

Toda a história da ilha de Ré passa por confrontos com os ingleses, que dominaram a costa atlântica durante séculos; daí as impressionantes fortificações que Vauban fez construir nos portos da ilha, e que são hoje um conjunto patrimonial da Unesco. Valeu-lhes de pouco: hoje a ilha de Ré está grandemente ocupada por turistas anglófonos...

Ora a infeliz Notre Dame de Ré foi destruída uma primeira vez em 1294 pela frota inglesa; reconstruída, veio de novo abaixo na Guerra Dos Cem Anos por duas vezes: 1388 e 1462; e mais uma vez em 1574, os Huguenotes, protestantes que predominam ainda nesta região de França, saquearam e destruiram o interior. Não admira que os monges de Cister, fartos da sua sorte, finalmente abandonassem a abadia.

Serviu de abrigo para barcos de pesca, até que em 1997 as ruínas foram classificadas e restauradas.



Nada resta dos recintos conventuais, cujas pedras foram usadas para construir um dos fortes da ilha.
O claustro é só um bonito jardim rectangular, perfumado com alecrim, tomilho e alfazema.

Porquê este post insólito sobre a ilha de Ré? Porque ao pôr do sol, entre espigas ondulantes e papoilas, sem outro som que o dos corvos, o do mar ao longe, do vento a assobiar entre a seara, foi um momento mágico, em que um testemunho de atribulada História mais uma vez demarcou o tempo e o espaço.




E a noite acabou com um jantar em La Flotte, uma das aldeias-porto mais bonitas da ilha, à janela para o cais.


Dela falarei em breve.

6 comentários:

Gi disse...

Essas ruínas lembram-me a quantidade de igrejas e castelos escoceses destruídos nas várias guerras com a Inglaterra.

Gi disse...

Vês, Paulo? O Mário também encontrou um campo cheio de papoilas :-)

Paulo disse...

E lindo! Que bela viagem ele fez para se livrar das eleições. Não gosta de Minkowski, hélas...

Mário R. Gonçalves disse...

Eh lá, não foi para me livrar "só" das eleições !

Do Minkowski, apenas acho que é mais insosso que os outros da escola - Christie, Gardiner, Jacobs...

Paulo disse...

Não acho o Minkowski insosso, Mário. Dessa escola, é um dos meus preferidos. Falta-me ouvi-lo ao vivo, mas gosto mais de muitas gravações dele que das de Jacobs ou de Christie.

Mário R. Gonçalves disse...

Viva a divergência, Paulo.

O Mozart dirigido por ele atingiu uma inexpressividade rara - dinâmicas reduzidas a zero, sopros inaudíveis, contrapontos surdos ou falhados por redução excessiva do efectivo.

O que dava um contraste, até, engraçado com a voz da Lezhneva, transbordante de vitalidade, graça e uso dinâmico da voz.

Pode ter sido intencional.